Muito obrigada por acompanharem a fic até o final liebes, e muito obrigada também por entender quando eu precisei dar um tempo. Vocês são leitoras ótimas, e sempre estiveram comigo, acompanhando e comentado, e isso foi importantíssimo para mim, porque só vai me estimular a escrever sempre mais e mais, e a correr atrás do meu sonho de ser escritora. Eu só tenho mesmo que agradecer muito por todo o apoio que vocês me deram. Vocês são de ouro mesmo, amo
muito vocês, minhas tokitas. s2
It’s Maldivas.
Último Capítulo. Meses depois.
Meses de espera. E agora faltavam apenas alguns segundos.
Surreal, essa era a palavra para a esquisita sensação que se tinha por depois de tanto tempo de espera, agora se estar ali, sabendo que aquilo pelo que se foi ansiado por tanto tempo agora estava vindo diretamente ao seu encontro.
No dia 23 de novembro, em meio a tantas outras pessoas, haverá uma garota na primeira fila. Uma garota que, assim como todas as outras ao seu lado, possui medos e inseguranças. Que por muitas vezes foi deixada, e por muitas vezes requisitada por homens que não a mereciam. E que nesse momento simplesmente não sabe o que fazer consigo mesma, até mesmo depois de ter se considerado uma garota corajosa e segura.
As garotas ao seu lado gritam, e muitas vezes se chocam contra ela. Mas essa garota parece não perceber. Tem os olhos vidrados, e sempre olha para frente, para a grande cortina à sua frente. Segura a barra da grade de maneira vaga, como que mesmo não prestando atenção ao redor, é avisada pelo subconsciente que se não possuir um ponto de apoio irá cair. E ela não pode cair. Precisa ficar ali no meio, precisa resistir à multidão que quer arrastá- la para trás. Precisa ser vista.
Essa garota havia feito uma promessa, e a cumpriu. Estava aonde disse que iria estar, na hora que havia prometido. Agora espera que, a promessa que lhe foi feita também seja cumprida.
Os gritos exaltados, as conversas ao seu redor, a música que toca ao fundo, tudo parece não existir para ela. As pessoas ao seu lado, quando olham para ela, tem a impressão de que essa garota está às voltas com seu próprio mundo, completamente alheia à todos e a tudo ao seu redor.
Essa menina possui um ar cansado. Ela foi uma das primeiras a chegar, e não conseguiu dormir. Veio de longe para aquele lugar, sozinha. E agora sente uma terrível sensação de impotência, por saber que não é apenas aquela grade que a separa de seus sonhos.
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Há apenas alguns metros de distância, ultrapassando todas as paredes de concreto, todas as barreiras e todas as pessoas que gritam, há uma sala. Uma sala com a única porta fechada, onde pode se encontrar em uma pequena placa a palavra “camarim”. Lá dentro, acomodados ali, existem quatro pessoas. Essas pessoas que lá estão não tem a menor idéia do que seja essa palavra, ou de como ela é pronunciada.
Dentre essas quatro pessoas, há um garoto sentado em um grande sofá, com uma guitarra apoiada em seu joelho.
Ele está afinando o instrumento, e mantém seus olhos baixos. Seu irmão, parado à sua frente, olha para ele e pode ter quase certeza absoluta de ver seus olhos marejados, molhados com lágrimas que sabia que o orgulho do garoto sentado não iria deixar cair.
Esse garoto, pela primeira vez, sofreu por uma coisa digna. Amor. E esse sofrimento deixou feridas profundas. Ele não consegue mais ser o mesmo depois da mudança repentina que embaralhou os rumos de sua vida. Não consegue mais desdenhar de mulheres inexperientes, não consegue mais fazer amor com outras mulheres sem pensar em apenas uma só, não consegue mais pensar no rosto da mulher ideal sem as feições da única mulher que teve certeza de que amou vir de encontro aos seus pensamentos.
Quando ele entrasse no palco, saberia exatamente para onde olhar, mas não saberia o que sentir. Esse garoto sentia seu coração palpitar tão rápido que quando ele olhava para o próprio peito podia vê- lo se movendo.
Então, ele fechou os olhos e respirou fundo. Tentou acalmar- se mentalmente, e quando começava a manter- se relaxado, alguém bateu à porta. Um de seus amigos disse à pessoa do outro lado para que entrasse.
Um homem entreabriu a porta e colocou seu rosto para dentro, dizendo algo que fez o garoto pela primeira vez em toda a sua vida, experimentar uma sensação de pânico absoluto. Estava na hora de ir.
O garoto manteve- se sentado até todos saírem. Fechou os olhos e tentou controlar o ritmo de sua respiração. Depois, levantou- se e foi até o banheiro.
Abriu a torneira da pia e encarou seu reflexo no espelho. Seu rosto parecia transmitir insegurança, e ele estava suando em bicas. Com ambas as mãos, pegou um pouco da água que escorria e molhou o rosto e o pescoço. A sensação de alívio foi imediata.
Ele dirigiu- se até o som e o ligou, na esperança de existir ali alguma música que o acalmasse. Na estação que ligou, estava tocando “I Love Rock’n Roll”, música de Joan Jett. Sentiu- se tentado a cantar o refrão, mas assim que abriu os lábios para produzir algum som, sentiu a adrenalina subindo pelo estômago.
Desligou o aparelho, sentindo- se completamente culpado e idiota por estar ali tentando cantar numa tentativa ridícula de abrandar a dor e a ansiedade, características que sempre considerou tão femininas.
Então, seu irmão apareceu à porta, chamando- o. Estava definitivamente na hora, e o momento havia chegado. Havia esperado por aquilo tanto tempo, mas agora queria adiar aquele momento ao máximo, por medo de saber que talvez não teria controle das próprias emoções, por causa da sensação de impotência que aquela situação lhe dava.
Deixando apenas suas pernas o guiarem por todas aquelas portas, corredores e escadas, e após parar atrás de uma cortina e tomar sua posição, o garoto fez o possível para não pensar em mais nada. E então a cortina se abriu.
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A claridade repentina fez Tom semicerrar os olhos. Por um momento ele se sentiu confuso por simplesmente não saber o que fazer. Precisava tocar, precisava olhar para a primeira fileira, precisava se controlar. Precisava respirar direito.
Então, atrasando- se por um segundo em relação à música, ele agarrou sua guitarra e posicionou- se à frente de seus companheiros de banda. Tentando abusar ao máximo de sua coordenação motora, ele foi percorrendo os olhos pela primeira fileira enquanto tentava tocar. Primeiramente não conseguiu ver ninguém, e uma dor que ele não queria sentir tentou invadi- lo. Demorou apenas alguns segundos, mas então aconteceu.
Ele a viu.
Savannah estava simplesmente paralisada, olhando para ele. Estava na primeira fila, como havia prometido a ele. Agarrava- se à grade à sua frente, segurando- se bravamente para não ser arrastada para trás. Perfurava- o com seus olhos negros, e inclinava- se para frente, como numa tentativa de ficar o mais perto possível dele. Estava suando, cansada e com o rosto vermelho, o que lembrou a Tom como ela ficava quando eles faziam amor. Ele não pode deixar de sorrir, e naquele momento desejou mais do que nunca ir para o seu lado e possuí- la mais uma vez.
Ela simplesmente não conseguia se mover, apenas olhar para ele. Sentia arrepios contínuos percorrendo sua pele, e sua boca estava entreaberta. Tom sentiu vontade de beijar aqueles lábios, e guiado pelos próprios impulsos, foi tocar na frente dela.
Todas as meninas que estavam ao lado de Savannah gritaram e estenderam as mãos, mas ela permaneceu quieta e com um aspecto hipnotizado. As juntas de seus dedos estavam esbranquiçadas por causa da força com que ela se agarrava agora.
As fãs ao redor gritavam palavras em português que Tom simplesmente desconhecia, e todas elas lutavam por um instante de sua atenção. Mas Tom olhava apenas para Savannah. Precisava dizer alguma coisa para ela, precisava dar alguma pista para ela saber aonde encontrá- lo depois do show. Precisava ser uma pista rápida.
Então, tentou se lembrar de como se dizia “camarim” em inglês, pois em alemão ela não conseguiria compreender. E por incrível que pareça, aquela palavra havia lhe escapado naquele momento. Então ele, ainda tocando e olhando- a diretamente nos olhos, lembrou de quando entrou naquela sala e viu escrita a palavra “camarim”. Então, esforçando- se para não parecer completamente ridículo, disse em voz alta:
- Camarim.
E então todas as fãs gritaram, reagindo psicoticamente apenas pelo fato de ele ter pronunciado algo que provavelmente elas não haviam sequer entendido. E Savannah pela primeira vez pareceu reagir. Ela piscou os olhos e olhou para ele. Logo depois, assentiu com a cabeça e voltou. Tom sentiu arrepios pelo corpo inteiro, e pode olhar para os braços descobertos de Savannah, também arrepiados.
Então, uma mão desesperada agarrou a camisa de Tom, quebrando completamente o clima de expectativa, aparentemente eterno. Então Tom compreendeu que era hora de voltar a circular pelo palco. Estava muito à frente dos companheiros, e logo o fato de estar ali pareceria estranho para o resto das pessoas.
Desvencilhando- se rapidamente da mão desesperada e de todas as outras que vinham em sua direção, ele voltou para o centro do palco e continuou a tocar.
Seu corpo havia mudado de lugar, mas seus olhos e seu coração ainda estavam ali, aonde haviam estado segundos antes, com Savannah.
E ela ainda olhava para ele. Agora gritava junto com as outras fãs, e acompanhando Tom, cantou junto com ele todas as músicas até o final.
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Certa vez, Savannah havia lido um livro onde se encontrava a seguinte frase:
“Somos imperfeitos, como notas musicais que podem se recombinar diversas vezes e formar infinitas partituras, mas apesar
disso, a melodia nunca estará completa, e muito menos próxima de atingir o menor nível de perfeição.”
E agora, ela não conseguia tirar essa frase da cabeça. Frases como essa agora faziam ao mesmo tempo todo o sentido e sentido nenhum para ela, que apenas conseguir pensar nisso. Sua mente encontrava- se em um estado de constante bloqueio e ansiedade, e ela estava lutando para manter- se de pé. Lutando para não deixar aquele frio na barriga vencer a luta contra sua sanidade e não faze- la recurvar- se no chão e começar a chorar de felicidade, tomada pela ansiedade.
Ela agora encontrava- se parada à frente de uma grande porta, e olhava para a pequena placa à sua frente.
“Camarim”
E então, ergueu a mão e bateu na porta. Três vezes. O som das batidas ficaram como que presos aos seus ouvidos.
E então a porta se abriu imediatamente, e sem sequer pensar, Savannah se atirou aos braços da pessoa que se encontrava do outro lado, entregando- se agora pelo que talvez fosse uma última vez.