ya, escondi os Kaulitz, e devo avisar que ainda vão demorar a aperecer
Boa leitura!_______________________________________________________________________________________________________
Capítulo 18 - Na Cadeia
Durante sua vida depois do incêndio, Valen sempre teve um conceito. No dia do aniversário de morte da sua filha, nada no mundo poderia ser pior.
E pela primeira vez, mudava seu conceito.
Ele preferiu ficar sentado perto das barras de fero na cela, onde seus pulmões podiam puxar outro ar que não estivesse impregnado de urina, tabaco, vômito e álcool. Seus outros três companheiros de cela o olhavam com uma curiosidade evidente. E afinal, ele estava com o jaleco à mostra, mesmo em baixo do casaco. O único que sentou do lado dele (o que tinha hálito de vômito), balbuciou três palavras em russo, e voltou a desmaiar, de tão bêbado. Valen cruzou as mãos perto dos joelhos, esperando pacientemente que seu irmão chegasse o mais rápido possível.
Duas horas antes, ele havia sido colocado numa sala de paredes frias. Uma mesa e uma cadeira de metal do centro. Suas mãos foram algemadas nessa cadeira, enquanto era forçado a se sentar. O agente especial do FBI (que ele nem se dera ao trabalho de lembrar o nome), começou com as táticas de sempre.
Sabemos seu nome. Sabemos seu passado. Sabemos que hoje é o aniversário da morte de sua filha. A última frase fez com que Valen olhasse para o agente de uma forma tão letal e incisiva, que este se endireitou na cadeira, dando graças pelo médico estar algemado. Sua experiência falava mais alto: os que pareciam mais controlados eram os mais perigosos.
Ele não revelou nada, nem mesmo moveu a cabeça em qualquer indicação que sim ou não. Então, foi jogado na cela mais próxima. Por mim,
você pode mofar aí, disse-lhe o agente.
Ele sabia que era mentira.
E sabia o quanto ele estava encrencado.
Pelo que conhecia do governo de seu país, e das organizações de outros países que tentavam agir na Alemanha, o FBI estava encrencado. A clínica de seu irmão tinha uma bela autorização do governo, recheada com um belo timbrado da chanceler (que havia passado por plásticas na clínica, e tinha excelentes referências do lugar), de anonimato. Não havia endereço do local em lugar nenhum. Os pacientes eram procurados pelos médicos, e não o contrário. Por isso a procura pela excelência era grande por pessoas famosas: a chance de um paparazzi incomodar com uma foto depois do procedimento cirúrgico era nula.
O FBI havia tentado descobrir o endereço. O governo disse não.
Então, a ligação com a doutora Birget (uma ligação que Valen ainda tentava entender) os levou até eles.
Ou eles falavam, ou nada poderia ser feito.
Ele deu um breve sorriso.
- Oh, Gott! – A voz de seu irmão no corredor o alertou.
- Estou aqui – ele disse calmamente, colocando a mão para fora da cela. Ester também estava ali, com os olhos vermelhos.
- Como você está?
- Bem, Vic. Quando vou sair?
- Acabei de chegar! Quando fomos avisados, eu dirigi o mais rápido que pude... vou saber o quanto é sua fiança, e...
- Não se preocupe com valores. Você tem que procurar dois agentes do FBI. Eles só estavam esperando por vocês.
Victor perdeu a cor no rosto.
- Porque logo hoje... – Ester disse, suspirando.
- Porque eles sabiam que a gente ia sair da clínica hoje. Foi a chance deles.
- Não entendo como a Birget está ajudando essas pessoas!
- Vão procurá-los. Eu não saio daqui, prometo.
Em menos de dez minutos, os três estavam uma vez na sala de paredes frias. Só que desta vez haviam mais cadeiras, e nenhuma algema.
Valen ainda conferia as marcas nos pulsos, quando uma mulher entrou. Ela devia estar na casa dos trinta, um cabelo loiro-fosco, e sardas no fino nariz indicaram que era naturalmente ruiva. Os olhos eram do azul do céu, bem redondos, levemente puxados pra cima. A boca lembrava os lábios vermelhos de uma chinesa.
Um rosto tranqüilizador entre os dois grandalhões visivelmente nervosos, e com muita raiva.
- Boa noite a todos. E me perdoem pelas... ações de meus colegas. Às vezes a testosterona não faz tão bem assim - ela lhes lançou um olhar gélido. – Sou a agente Jill Wicler.
- Só queremos ir embora – Victor disparou. Valen pegou no braço do irmão, o censurando, para que ficasse calado.
- Todos nós queremos o mesmo, senhor Reither. Ou devo me referir como doutor?
- Doutor seria melhor.
- Ótimo. Sabem que se não houver colaboração, vamos caçar suas licenças para praticarem a medicina, não?
- O que vocês podem fazer, é preencher um formulário como todo mundo, e entrar na fila. Aqui não é os Estados Unidos. – Disse Valen, cruzando os braços.
- Angela Merkel não vai gostar muito disso. – Ester entrou na conversa – sabiam que ela é a mais forte candidata à presidência nas próximas eleições? É uma de nossas pacientes mais fiéis.
- Bem, pelo que vejo... temos de pular os joguinhos.
- Por favor, agente Wicler. Agora, pode nos dizer o que estamos fazendo aqui?
- Com certeza, doutor Valen Reither. Você estão mantendo sob custódia uma paciente.
- Glória Santos está na minha clínica por vontade própria. Vamos, não vão me dizer que não hackearam os e-mails dela. Sabem que nós a aceitamos.
- É, sabemos mesmo – a agente Wicler retirou cópias dos e-mails da pasta que carregava, e as colocou na mesa.
- Isso é ilegal?
- Em termos... não. Temos a autorização de quebra de sigilo, se isso estiver interferindo a integridade e segurança de nossa nação.
- E como Glória Santos os está interferindo?
- Imagino que não saibam que o ex-cunhado dela era o número 5 da lista de nossos procurados em prioridade máxima. E que o atual cunhado dela é um agente nosso.
Jill Wicler conteve o riso por ter surpreendido a todos.
- Como é que...
- O conhecemos somente como Massoud – ela estendeu a foto de um homem jovem, de excelente aparência. – Ele foi criado no jihad desde que aprendeu a falar. Criado para se infiltrar na sociedade, viver como um de nós, ser um de nós.
- Não entendo como Glória...
- Sua paciente tinha contatos em quase todo o mundo, é uma mulher bastante influente, e tem dinheiro o bastante. Massoud se infiltrou na vida dela como o instrutor de patinação da irmã, sob o pseudônimo de Richard. Ele chegou a casar com a irmã. Enfim, pretendia matar as duas, e teria em mãos dinheiro o bastante para executar um plano dos talibãs, que era tão grande e tão bem organizado, que mudou nossa visão de vê-los.
- Os ataques recentes – Ester concluiu.
- Exato. Ele foi descoberto antes que pudesse terminar seus planos, então resolveu explodir o que conseguisse, matar o máximo de... infiéis possíveis.
- Mas porque os Estados Unidos não foram atacados?
- A tentativa foi feita, doutor Victor Reither. Felizmente, nós conseguimos deter o homem-bomba contratado por ele, que fazia a segurança do presidente durante um comício. Abafamos o caso para a mídia não deixar tudo ainda mais sensacionalista.
- Espere. Você disse que o atual cunhado dela é agente de vocês?
- Sim, Valen – Wicler esqueceu a formalidade.
- Tom Kaulitz?
- Esse mesmo?
- O conhecido Tom Kaulitz? Com toda aquela responsabilidade?
- O senhor nem imagina do que ele é capaz.
- Me explique.
- Sabemos que o terrorista em questão as estudavam há pelo menos quatro anos. Vasculhamos o passado das duas, e vimos que na época da juventude, haviam tido um romance com os gêmeos Kaulitz. Então, explicamos a situação a Tom, e ele aceitou o treinamento, afinal... ele ainda gostava de Cristine. Por ironia do destino a vida de todos eles voltou a se cruzar, tudo foi muito rápido. Creio eu, que se tivéssemos tido um pouco mais de tempo, muitas vidas poderiam ter sido poupadas. Bem, Tom também conhece a doutora Birget. Uma parte do passado dele que vamos reservar, mas são muito amigos.
- O que explica ela ter levado os agentes no hospital universitário.
- Sim, claro. Tom ainda está se recuperando dos ferimentos, mas depois que soube que ela estava viva, mal espera poder sair, embora esteja encenando o choque da suposta morte de Glória, com perfeição.
- E como souberam que ela estava viva? – Perguntou Ester.
- Existe algo que se chama circuito interno de câmeras. O do aeroporto que foi atacado aqui transmitia as filmagens a um banco de dados simultaneamente, longe de onde o ataque aconteceu. Glória não está em nenhuma delas. Então, conferimos seu e-mail. Uma câmera da cafeteria próximo onde ela pegou o trem nos trouxe a exatidão de onde ela teria ido.
Wicler mostrou uma sessão de quatro fotos em movimento, mostrando Glória, com um envelope nas mãos, indo até o embarque na estação.
- Por favor, me digam: ela ainda está viva?
- Sim. Os dois estão vivos.
Wicler uniu as sobrancelhas em dúvida.
- Ela está grávida – Valen explicou.
- Não perdeu... o feto?
- Geralmente acontecem milagres na mão de meu irmão – Victor disse, sorrindo – mas agora, precisamos voltar, e ver como estão os pacientes.
- Se eu tivesse a autorização de vocês, eu poderia ir, e ver com os meus próprios olhos?
Os três se entreolharam, decidindo.
- Não se preocupem. Meus colegas ficam.
- Por mim, está autorizado – disse Victor.
- Só quer vê-la?
- Sim, doutor Valen.
- Porque?
- Sabe, nós... perdemos tantas pessoas nesses últimos dias. É sempre assim nos atentados com terroristas. Por mais que sejamos cuidadosos, eles sempre conseguem uma brecha na segurança, sempre nos passam a perna. Mas saber que existem pessoas como Glória, que conseguiram, é... reconfortante. Dá esperança.
Victor vinha dirigindo seu carro, com Ester ao seu lado. No banco traseiro, Valen tentava não dormir. O segundo carro da clínica era guiado por um policial, e eles eram escoltados por uma pequena comitiva. Victor avisou a todos na clínica para que não ficassem assustados.
Jill Wicler foi acompanhada pelos três, e não pôde deixar de ficar extasiada com o ambiente da clínica.
- Parece bem encantada – Valen comentou.
- Meus pais foram da Cruz Vermelha até se aposentarem, e até hoje cuidam de sem-teto feridos nas ruas de Nova York. Eles têm uma instituição de apoio a essas pessoas. Se não tivesse ficado fascinada por esta vida como lia nos romances policiais, com certeza teria seguido a carreira de médica.
- E o que gostaria de ter sido?
- Cirurgiã.
- Seus pais por um acaso, foram Ruth e Theodore Wicler?
- Trabalhou com eles?!
- Sim, em duas missões. Seu pai me ajudou no parto da minha filha.
- Nossa, que mundo pequeno...
- Entre os médicos, sim.
- Escute. Sinto muito por termos citado Lara. Justamente hoje.
- Tudo bem.
- Não. Por favor, me perdoe. Mas faz parte do meu trabalho.
- Ossos do ofício. Eu entendo, Jill. Fico feliz por saber que mesmo por ser do FBI, consegue ser tão sensível quanto sua mãe.
- Todos sempre nos disseram isso.
Jill Wicler recuou, até ter coragem o bastante para constatar que aquele ser pálido, extremamente magro, e com vários curativos, era a mesma pessoa de seus relatórios. O que mais a impressionou fora a cicatriz que cortava o lado esquerdo do rosto.
- Vai ficar assim?
- Não. Os pontos foram dados por dentro. Assim que a sutura se restabelecer, a pele volta no lugar. Mas um traço leve ainda vai permanecer.
- E o bebê?
- Digamos que o pior já passou. Vai ser prematuro, e toda a gravidez vai ser muito delicada.
- Ela sentiu muita dor?
- Pelo que calculamos, ela foi arremessada a cinco metros de distância, a 60 km/h. O impacto não permitiu que ela sentisse dor. Estamos a mantendo em coma induzido, para suportar o resto. Bem, ela expeliu um tumor, sofreu graves danos cerebrais, paradas respiratórias... algumas lesões vão ser pra sempre, mas só vamos saber quando ela acordar.
- Quando pretendem acordá-la?
- Daqui três meses ela vai estar melhor.
- Porque tanto tempo?
- Acredite. Na situação dela, você não ia querer acordar assim.
Jill Wicler foi embora, prometendo que todos não seriam mais incomodados, mas que teriam de manter tudo o que haviam descoberto em sigilo. Valen estranhou o fato dela fingir que não o conhecia. Afinal, se ela estivesse pesquisado bastante como havia falado, sabia do passado.
Bem, até mesmo agentes federais eram humanos.
___________________________________________________________________________________________
aliás, dia 9 a CCOVR fez 1 ano Oo