ANTES QUE COMEÇEM A LER olhem este aviso aqui
Primeiro, desculpas. Eu sei que demorou pra caralho (porra quase 1 ano vocês esperando já), mas cara, foi o cap mais difícild e escrever, de todos que já escrevi. Como sempre, não ficou do jeito que eu gostaria que ficasse, mas acho que as emoções neste caso são conflitantes demais, ninguém consegue descrever com precisão. Não ficou como vocês merecem e isso me deixa um pouco frustada, confesso. O mais difícil pra mim sempre é Bill, ele é intenso e complicado de escrever, de entender
a estrutura do pensamento. Mas preciso que leiam com calma, escutando a Fix You que deixei (vai a tradução também aqui). E pensem: se a pessoa que vocês mais amam tivesse morrido e voltasse, o que você sentiria? Eu descrevi no meu caso, mas se tiverem este pensamento vai ficar mais fácil de entender. E calma viu, o cap não vai fugir =D
HAHA podem dizer né, EU DISSE PRIMEIRO QUE O BILL IA FICAR LOIRO E COM BARBA, hoho seeempre prevejo o futuro. Uma dica pro futuro desta fic é que Tom vai, digamos, imitar o gêmeo neste sentido. Será que vai acontecer na real também? (Bem se acontecer, dái vai ser certeza que tenho poderes, sou uma X-Men do futuro ^^)
Boa leitura meus anjos, que a vista de vocês canse, só pra uma desculpinha pras lágrimas, espero tê-las feito chorar ^^
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Capítulo 24 - Reencontro
Quando você faz o seu melhor, mas não tem sucesso
Quando você recebe o que quer, mas não o que precisa
Quando você se sente tão cansado, mas não consegue dormir
Preso em marcha -ré
Glória
Londres não estava fria como a Alemanha.
Pelo contrário, o ar estava pesado, abafado, e o céu era uma única placa de um cinza chumbo e pesado.
Escondi o rosto com meu boné, e óculos escuros. O aeroporto estava entrando em seu horário de pico, os avisos dos horários dos voos a todo momento, pessoas indo e vindo aos portões de embarque. Cristine passou o braço sob meus ombros.
- Ninguém vai te reconhecer, relaxa.
- Não dá. Voltar ao mundo dos vivos é tenso...
Ela riu pro trás dos óculos escuros.
Assim que saímos do aeroporto, um carro nos esperava. Quando entrei, dei de cara com os olhos alegres de Tobi.
- Olá! - Ela me disse, pelo retrovisor.
- Oi! Porque não estou surpresa de te ver aqui?
- Os planos são todos de Tom.
Fomos conduzidos até um hotel a vinte minutos dali. Meus pais logo foram dormir as duas horas que ainda tínhamos pra descansar, "antes do grande momento", nas palavras de Cris. Entre o cansaço causado pelo estresse e a fome, decidi por me alimentar antes que meu filho começasse uma rebelião dentro de mim. A ansiedade dos últimos dias havia me deixado tensa, quase paranoica.
- Quando vou ver Bill? - Perguntei a ela, enquanto me ajudava a pegar os talheres para comer.
- Ainda hoje, mais tarde.
- E onde os meninos estão agora?
- Bem perto daqui. E então, preparada pra voltar à vida?
- Estaria se vocês... como é que é... eu quero saber também o que... acontece!
- Hei, não faz assim, não fica se forçando.
- É que irrita. Esquecer as palavras, estar letárgica.
- Sabe, é melhor você dormir um pouco. Hoje vai ser um dia bem cheio.
A encarei, mas ela não demonstrou medo, dando de ombros.
- Tudo bem, mas já vou avisando que vou obedecer até hoje. Amanhã...
- Amanhã você vai ser capa da Bild. E de uns outros 100 meios de comunicação.
- É, no mínimo... não vai adiantar, tentar dormir. Eu não vou conseguir.
Nós duas olhamos pela janela quando o primeiro raio lançou um flash no céu. O vidro da janela tremeu. As típicas chuvas que logo trariam a neve sobre a Inglaterra estavam prestes a começar.
- Lembra de um dia, muiito tempo atrás, quando fomos num show em São Paulo e choveu? - Cris me perguntou.
- Como poderia me esquecer. Foi a primeira vez que vi Bill.
- O céu está igualzinho naquele dia.
- Isso por um acaso é um prelúdio do que vai acontecer?
- Quem sabe...
E as lágrimas escorrem pelo seu rosto
Quando você perde algo que não pode substituir
Quando você ama alguém, mas isso se desperdiça
Poderia ser pior?
Três andares acima
Bill
Eu estava de braços cruzados pra grande janela, cansado de tentar impor minha opinião, já que ninguém me escutava. O primeiro trovão tinha acabado de estourar, era certeza que o ar lá fora devia estar bem mais frio, com cheiro de chuva.
Excelente. Como se eu pudesse ficar doente à toa... Tom, Gustav e Georg estavam alguns metros atrás de mim, comendo e conversando, ignorando meus protestos totalmente. Londres estava com o trânsito cheio, mas fluente, os carros indo na direção centro, se não fosse o vidro temperado, daria pra ouvir o barulho confuso e constante da correria diária.
Não era o melhor lugar do mundo pra estar depois de tanto tempo internado.
- Escute - Tom veio ao meu lado, falando e engolindo batata frita ao mesmo tempo - venha comer, não vamos ter tempo depois.
- Quero ir pra casa - cerrei os dentes - por favor, Tom.
- A gente já vai. Quer dizer, se chover assim mesmo, acho que só amanhã.
- Eu ainda não estou bem, e odeio isso. Estou em Londres sem nem saber porquê!
- Relaaaxa, olha o coração.
Inspirei bem fundo umas duas vezes, de olhos fechados, tentando relaxar os ombros incrivelmente tensos, mas ferindo a palma das mãos com as unhas. Que dez hein?
Se divertindo comigo só porque não consigo bater em você! - Vai me contar o que é?
- Em duas horas. Prometo.
Natalie entrou pela porta, sorrindo. Estava com sua mala de maquiagem numa mão, e uma roupa numa capa de proteção na
outra. Uni as sobrancelhas em dúvida.
- Billie, vamos logo, temos pouco tempo pra te arrumar.
- Arrumar? Pra onde...
- Xiiu, não interrompa uma artista.
- Poxa vida, pessoal...
- Sem reclamações, mais novo! - Tom me empurrou em direção à ela.
Vesti uma calça jeans escura, camisa social cinza, gravata e paletó pretos, sapatos reluzindo de novos. Depois de muito tempo finalmente fui maquiado de novo, mesmo que meus olhos estivessem bem menos marcados de preto, e coloquei argolas na orelha, só meu cabelo loiro permaneceu o mesmo. Ao avaliar minha imagem no espelho, vi um cara novo: diferente e triste, vestido da felicidade que tinha no passado. Me senti falso e forçado.
- Proonto, tá lindo!
- Falta perfume! - Tom palpitou.
- Ah, é! - Natalie borrifou perfume francês sobre mim.
- E claro - Tom colocou a caixinha do anel no meu bolso - e decorou seu discurso?
- Está na ponta da língua. Só gostaria de saber o porque, né.
- Vai saber agora. Bora descer!
Os primeiros grossos pingos de chuva nos atingiram no misterioso caminho. Nenhum deles falou uma única palavra no carro, mas suas expressões indicavam alegria e ansiedade. Eu só me perguntava o quanto mais teria de suportar daquilo até pirar de vez.
Prendi a respiração ao ver o estádio do Manchester United, e a fila gigantesca em volta dele, que andava aos poucos. Eu até podia ter arriscado o palpite de um jogo, mas vi os cartazes do festival de música Live 8 decorando o lugar.
Merda! - Eu não vou cantar! - Disparei, enquanto o carro entrava pelo portão dos fundos.
- Mas neem se quisesse! - Tom finalmente disse. Ele abriu a porta e um guarda-chuva pra mim, e corremos até o backstage, cheio de gente andando para todos os lados. Na hora, reconheci os sons de riffs de uma guitarra, fazendo uma breve passagem de som. Gritos, muitos gritos. O ambiente normal de trabalho denovo - Gregor, Gunther: é no segundo andar!
- Okay! - Georg e Gustav responderam juntos, e passaram à nossa frente, subindo as escadas.
- O que eu vou fazer, TOM?! - O forcei a parar. - Quero saber agora!
- Vaamo! - Ele me empurrou escadaria acima, nossos ouvidos escapando um pouco dos gritos da plateia que aumentava a cada segundo no campo e nas arquibancadas. O corredor tinha uma placa com grandes letras em vermelho estêncil, a palavra CAMARINS se destoando.
Tom bateu numa porta qualquer e Gustav abriu. Gordon e mamãe estavam lá.
- WHAT?!
- Nossa, a Natalie faz um trabalho perfeito, sempre! - Mamãe me deu um beijo melado na bochecha e bagunçou as mechas do meu cabelo.
- Mãe, a senhora aqui?
- Claro, não perderia este momento por nada neste mundo.
- E aí, rapaz, já de pé? - Gordon me cumprimentou.
- Pois é, tô tentando descobrir porque antes que eu arrebente Tom de pancada.
- Humpf, é assim que todo meu trabalho é reconhecido? - Meu gêmeo reclamou.
Georg entrou na sala. Parecia um staff, com uma prancheta em mãos e um fone enganchado no pescoço. O cabelo bem domado em seu tradicional rabo-de-cavalo.
- Tomie, tinha razão, este trabalho é realmente divertido! - Quase ri da sua feliz expressão.
- Georg, profissionalismo!
- Oh ya! - Ele endireitou a postura - vamos Bill, estão esperando você pra colocar o microfone, e o Martin quer dar uma palavrinha contigo.
- Chris Martin - disse, apavorado, me sentindo gelado.
- Esse mesmo - Tom respondeu - Gustav, mamis e Gordon, nos encontramos mais tarde!
E antes que eu pudesse dizer outra coisa, voltaram a me tirar da sala. Os gritos da plateia explodiam, e a música no palco estava altíssima, reverberando por tudo. Reconheci-a de imediato.
- É Black Eyed Peas?!
- É! - Tínhamos que gritar pra falar - eles que abriram o festival! - Georg nos levou até atrás do palco.
Reconheci os integrantes do Coldplay na hora. Enquanto me cumprimentavam, Georg e mais dois staffs colocaram o microfone em mim. Com um canto do olho eu via a quantidade de gente pulando lá fora, mesmo sob a chuva forte.
- ... vai ser como o planejado, Bill - disse Chris - nós começamos as primeiras notas de Fix You e você entra e fala!
- Tá!... TOM, PELO AMOR DE DEUS - estava quase em pânico - porque tudo isso? E-eu não sei se posso subir num palco denovo!
Ele arqueou a sobrancelha, e ficou sério.
O que me preocupou mais ainda.
- Mas ela tem que ver você! Ela precisa saber como se sente, que está arrependido, que quer ela de volta! Bill, se não for, vai estar tudo perdido.
Fui com as duas mãos na boca. Podia ouvir Will.I.Am agradecendo ao público. Coldplay seriam os próximos.
- Eu sempre estive no palco com você. Desta vez eu vou estar aqui atrás, mas eu vou estar aqui. Mas você tem que ir.
Os caras do Coldplay passaram por nós, e foram imediatamente ovacionados pelo público quando chegaram no palco. Georg colocou os fones no ouvido, e levantou os dedos indicador e médio.
- Dois minutos! - Gritou, imitando um staff.
- Será que ela vai me ouvir? Isso é mesmo... possível?
- Onde quer que ela esteja. Pode acreditar.
- Oh meu Deus...
Fiz que sim com a cabeça, e me posicionei na entrada do palco. Vamos lá coração, aguenta só mais dessa vez. Escutei Chris dizendo que tocariam Fix You por um motivo todo especial, e todos logo entenderiam o porque. Então a música começou. Olhei para o lado e Georg levantou o polegar, vi a palavra "vai" em seus lábios.
Mais uma vez olhei a multidão lá fora. A vontade de recuar tomou conta de mim. Mas algo, lá no fundo da minha mente, gritava que eu devia isso à ela. Inspirei umas duas vezes, soltando os ombros e estalando o pescoço.
Vamos nessa. Então as pernas finalmente obedeceram, e eu fui.
Luzes vão te guiar para casa
E incendiar seus ossos
E eu vou tentar consertar você
Glória
Cristine já tinha repetido um zilhão de vezes o quanto ia ser legal. Ela não parava quieta no banco. Todos já estávamos com capas de chuva por cima da roupa, o trânsito piorava a cada minuto, assim como a primeira pancada de chuva. Eu ainda tinha receio de sair e ser vista, enterrei o boné ainda mais, até sentir uma pontada de dor pela costura deste ter entrado em contato com a cicatriz da cabeça. Os raios eram constantes.
- Vamos sair com toda essa água?!
- Caalma, chuva forte é assim mesmo, logo passa!
Mais um raio estrondoso estourou no céu. As buzinas dos carros aumentaram. Até que vi o estádio, e a fila de pessoas em volta dele, todos entrando pelas diversas entradas do lugar. Cris seria tão irresponsável de me levar num lugar desses?
- O que estamos fazendo aqui?
- É hora do show. Vem!
- Hã?
O carro parou no portão 2B. As gotas pesadas de chuva foram inclementes, batendo com força contra mim, Chris e meus pais. Se aproveitando da altura e da força, Tobi foi abrindo caminho para nós, uma confusão de carros e pessoas sem tamanho, as unhas de Cris segurando meu pulso esquerdo com força. Tobi nos entregou os ingressos e entramos, direto no campo de futebol quase totalmente tomado pelas pessoas. Ficamos no exato centro, dava pra ver o enorme palco, e o corredor de uns 10 metros para quem quer que fosse cantar, usar. O lugar foi ficando cada vez mais cheio, e a chuva gelada melhorou, mas ainda era forte. Ninguém ali parecia se importar com isso. Eram londrinos, tempo chuvoso era absolutamente normal para eles.
Black Eyed Peas abriu o festival, protegidos pelo amplo teto do palco. Dava pra ver os rostos deles pelos telões posicionados em cada extremidade deste, todo mundo começou a pular no ritmo da música eletrônica.
Fui com a mão no ouvido direito, e ajustei o aparelho auditivo para que não permitisse que o som forte machucasse minha sensível audição. Ainda me adaptava aquilo.
- Quantas pessoas tem aqui?! - Gritei para Cris, que finalmente parou de pular como todo mundo pra me dar atenção. Meus pais estavam entre mim, pra evitar que as pessoas ficassem se esbarrando.
- Umas 150 mil, por aí!
- É realmente necessário que eu fique?! Eu estou... estou quase passando mal. - O som forte e a chuva me deixavam tonta.
Eu precisava de um local calmo e escuro, antes que a dor de cabeça começasse.
- Cris, olhe o estado da sua irmã! - Nosso pai gritou.
- Por favor, é a próxima banda! Só mais um pouco.
- Tome! - Tobi me deu uma garrafa d'água, tomei o líquido dando graças, já estava com a garganta seca, o mal-estar deu uma leve trégua.
- Cris, e agora?!
- Calma, já vai!
- Olhe aqui calma nada, JÁ CHEGA! Porque estou toda molhada, em Londres e no meio de 150 mil pessoas?!
- Aproveita o show! - Ela não tirava os olhos do palco. Todos batiam palmas, a próxima banda estava entrando.
- CRISTINE!
- Olha por palco!
Então, mesmo irada, já totalmente cansada daquele joguinho de segredos, eu olhei.
Oh meu... Deus! Era o Coldplay. Chris Martin entrou, mas ao invés de se sentar na frente do seu piano foi até o microfone, e explicou que por um motivo muito especial, a primeira música seria Fix You. Todos comemoraram. Aquela música só podia significar uma coisa.
- Não vai me dizer que...
- Não tira os olhos do telão por nada neste mundo!
Então, a música começou, Chris fazendo segunda voz, a banda tocando um pouco mais baixo do que se deveria.
Porque disso? Entendi quando vi Bill entrar. Um grito único de surpresa foi dado, e por um momento, deixei de sentir a chuva, e o chão em que eu pisava. Só ouvia meu coração batendo muito forte no peito.
Tom, seu... isso é tortura. - Oi pessoal - ele deu uma pausa pelos assovios e ovações de todos - primeiro de tudo, me perdoem por... estar atrapalhando o show de vocês. Eu não devia estar aqui, foi tudo ideia desse meu irmão besta!... me desculpem. Mas... eu estou aqui por um motivo. É uma coisa que eu tinha planejado já há muito tempo. Eu tinha... combinado com este pessoal maravilhoso do Coldplay que ia... - ele olhou pra cima, e piscou diversas vezes - eu ia pedir a mão do amor da minha vida no show deles que aconteceu em Novembro. Mas infelizmente... esses atentados horríveis aconteceram - ele olhou pra baixo, e voltou a encarar o público. A primeira lágrima escorreu - muitas pessoas morreram. Eu quase fui uma dessas vítimas, nunca pensei que um dia seria tão afetado pela maldade e violência desta forma. E a minha Glória... desde que ela morreu... eu me sinto horrível, de inúmeras formas. Porque, aquele sentimento de... de que eu podia ter feito alguma coisa a mais. Eu podia ter abraçado ela e dito que estava tudo bem, em vez de discutir, e a afastar de mim. Todo dia eu relembro cada coisa errada que eu fiz. Eu corrijo cada uma dessas coisas, só pra ter algum tipo de consolo, tudo poderia ser diferente mas não adianta mais, porque ela não vai mais voltar - ele não suportou falar, e se entregou ao choro por alguns segundos - m-me desculpem. É que a culpa... é o que mais me corrói. Eu sei que... que na verdade nem sei mais o que vou fazer daqui pra frente. Porque quando ela morreu, uma boa parte minha foi junto. Eu nunca mais vou conseguir ser quem eu era, porque eu dependia dela pra saber e sentir o que é a verdadeira felicidade, pra ser amado por alguém, e sentir isso crescer todos os dias. Eu nem estou seguindo o discurso que deveria estar fazendo. Mas, eu só quero que você saiba uma coisa, amor: é como esta música diz. Eu queria que as luzes te trouxessem de volta, pra casa. Eu queria ver você só mais uma vez. Só pra te pedir perdão. Só pra sentir seu cheiro, sua presença... só pra ter a certeza, uma última vez a certeza... que a pessoa que mais amo no mundo ainda existe. Eu fui um canalha, mas mesmo sendo um, me perdoa por favor. E-eu te amo. E sinto sua falta. Eu te amo demais, Glória. E eu tenho medo... tenho medo de continuar vivo sem você. Por tudo o que a gente sofreu, esperou, e passou, meu anjo. Me perdoa. Eu nunca vou deixar de te amar, mesmo com todos os meus erros.
Ele soltou o microfone no chão, e escondeu o rosto nas mãos. Enquanto o solo da guitarra começava, todo mundo bateu palmas. Bill tremia, soluçava. Tive a certeza que ele nunca tinha falado sobre o sofrimento que passava todos os dias. Não era bom encarar aquilo de frente, mas agora, ele estava um pouco mais tranquilo por ter sido sincero com si mesmo.
Então, olhei pra Cris. Ela abriu um sorriso gigante, e fez que sim com a cabeça, espirrando as gotas que estavam no capuz contra meu rosto.
E eu sabia o que tinha que fazer pra finalmente voltar a viver. Por mim, por Bill, e pelo nosso filho.
A abracei.
- Obrigada...
- Certo, certo, mas vai, corre, vai!
Disse um breve tchau pros meus pais, arranquei a capa de chuva do corpo de qualquer jeito. Tobi foi abrindo espaço pra mim. Sentia um frio no estômago, a vontade de chegar no palco logo era mais forte do que tudo que já tinha sentido. Por um momento, eu apressei o passo, vi pelo telão que Bill estava secando o rosto, ele ia voltar pro backstage.
Não, Bill, eu tô aqui! - Eu estou aquii! - Gritei. O boné caiu da minha cabeça. Uma câmera me achou na multidão, e eu passava num telão, enquanto Bill estava no outro, confuso, tentando entender em que direção os fãs apontavam. Meu Deus, como chovia, eu estava encharcada até os ossos, tropeçando em mim mesma.
Então, o refrão chegou no seu ápice. Todo mundo já abria caminho pra nós, gritando, apontando pra mim. Cheguei na grade que dava pro corredor, e com a ajuda de um impulso de Tobi, subi nela, e fui para o corredor. Fiquei de pé.
Os gritos se tornaram ainda mais intensos.
E lá estava eu, na ponta daquele corredor, poucos metros me separando dele. Bill estava petrificado, os olhos arregalados, a boca aberta, o microfone caído ao seu lado. Talvez de início pensou que eu fosse uma ilusão, mas agora, todos também me viam. Ele deu um sorriso de incredulidade, os olhos borrados e muito brilhantes.
Percebi que o tempo nunca, mas nunca mesmo, tinha passado entre nós. Eu era aquela adolescente outra vez, toda molhada, sorrindo abertamente para a única pessoa que meu coração amaria no Universo inteiro. Chris voltou a cantar a penúltima parte da música. Bill deu o primeiro passo, eu dei o segundo, ele deu o terceiro, quarto, quinto, sexto, ficando imediatamente molhado, suas lágrimas e angústias dos últimos torturantes dias sendo finalmente lavadas.
Eu não consegui correr, só dar alguns passos, o impacto de tudo me deixando inerte e aérea. Mas ele correu, muito rápido, os metros e centímetros que nos separavam acabando pouco a pouco. Eu já escutava sua risada. Eu já o escutava vivo.
Finalmente, nos encontramos. O corpo dele se chocou contra o meu, eu engoli a dor nas costelas. Ele soltou um grito angustiado, eu me enlacei no seu pescoço, beijando-o dezenas de vezes. Seu calor, sua presença, seus braços me deixando ainda mais perto, conseguiram acalmar um pouco meus nervos. Nunca havia tremido tanto na vida.
- É você... VOCÊ - a voz dele, trêmula dele disse. O público cantava os últimos três versos da música, tão alta, tão intensa e significativa pra nós.
Afastei um pouco o abraço, suas mãos seguraram meu rosto. Percebi o quanto senti sua falta, e mal fazia ideia de como tinha conseguido passar por aquilo tudo sem ele.
Bill Kaulitz.
O cara impossível para todo o mundo, mas totalmente possível pra mim.
- Sou eu, sim. - Confirmei.
Uma salva de palmas e gritos se iniciou com o fim da música.
Antes que eu pudesse dizer algo mais, Bill ficou de joelhos. Engolia ar pela boca. Com a mão tremendo, tirou a caixinha de veludo do bolso, e abriu. As pessoas acompanhavam tudo pelas câmeras que nos focalizavam pelos telões. Foi quando finalmente comecei a chorar. De lá, ele tirou um anel de prata, com uma pedra de rubi em forma de coração. Era o anel que muito tempo antes, ele tinha me feito experimentar numa joalheria, uma vez.
Sempre romântico, não importava a ocasião.
- P-por favor... por favor...
- A-ham - fiz que sim com a cabeça. Ele colocou o anel no meu dedo, nós dois tremendo.
Eu o fiz levantar. Nossos lábios finalmente se encontraram, no melhor beijo que Bill me deu na vida. O choque de emoções ali mexeu comigo completamente. Finalmente, eu estava viva de novo. Nosso medo e sofrimento foram destruídos. As mentiras haviam ido embora. Agora era eu, ele, e nosso maior presente vibrando dentro de mim, como se soubesse de tudo o que acontecia do lado de fora.
Ainda estávamos nos beijando quando senti que ele me pegou no colo, e me tirou da chuva, seus braços protetores me envolvendo. Não seria mais capaz de me separar dele.
Bem lá em cima ou lá embaixo
Quando você está apaixonado demais para desistir
Mas, se você nunca tentar, nunca saberá
Exatamente qual é o seu valor
Cristine
Estava acompanhando o verdadeiro show lá da plateia. Foi muito mais lindo do que pensávamos, minha mãe do meu lado chorando, eu quase gargalhando de feliz. As filmagens daquele dia seriam a primeira coisa que eu ia colocar na festa de casamento deles.
Senti o celular vibrar no bolso, e atendi ainda rindo.
- Deu certoooo!
- Cara, a gente é demaaaaais! - Tom estava tão empolgado quanto eu.
- Você viu?
- Vi, vi, mas já tô com o carro no lugar combinado. Pode deixar, o Tobi vai voltar pro hotel depois, vem antes que a chuva piore!
- Tá! - Desliguei - hei, vamos, o Tom tá esperando a gente! - Gritei para os meus pais, e voltamos na direção contrária a todo mundo.
Logo vimos Tom do outro lado da avenida, buzinando e gesticulando. Entramos correndo no carro, ainda rindo, meus pais no banco de trás e eu no carona. Dei um beijo estalado em Tom assim que entrei, ele estremeu porque eu estava toda gelada e molhada.
- Ah, olhe, borrou seu batom.
- Eeee Tomee! - Fui puxar o porta-luvas pra me ver no espelho, mas algo caiu dele, indo direto no meu colo.
Fiquei sem ação. Eu reconheceria uma caixinha de veludo daquelas a mil quilômetros de distância. Fui com as mãos na boca, e comecei meu tradicional choro histérico, borrando ainda mais meu rímel. Tom pegou a caixa cautelosamente, e a abriu.
- Eu sei que... não é um pedido convencional né, mas... a gente nunca é mesmo!
Soltei um riso misturado de grito, tentando secar o rosto inutilmente, era emoção demais para um dia só.
- E aí... quer casar comigo?
- NÃO! - Gritei.
- Não? - Meus pais disseram em uníssono, e Tom ficou lívido.
- O-o-o... t-tá né... a gente... pode ficar só ajuntado mesmo, não tem problem...
- NÃÃO...
- Ah, não? - Ele olhou pra frente, e pensei que ele fosse mesmo chorar - e-eu quero dizer... a gente sempre espera o sim, mas...
- Não, Tom - o fiz olhar pra mim, e consegui sorrir - Não é não, de não de aceitar. É por não acreditar que Tom Kaulitz está me pedindo em casamento!
- Wait! Então... você está em choque?
- É, É!
- Aaaahhnnn - os três disseram.
- Mas é claro que a resposta é SIM! - Quase pulei nele, e o enchi de beijinhos - ah, pai?
- Bem, o que fazer? O jeito é conceder - ele se deu por vencido.
E voltamos pro hotel, eu enganchada no pescoço de Tom quase o enforcando, admirando meu lindo anel de brilhantes.
Bill
O show continuou para quem ficou no estádio. Coloquei Glória no chão assim que voltamos para trás do palco, Georg nos trouxe toalhas, Natalie a ajudou a se secar, e tirei os fios do microfone de mim. Foi quando realmente prestei atenção à sua aparência.
Era impossível de entender.
Porque ela estava daquele jeito? - Tem um batalhão de fotógrafos vindo - Natalie nos avisou, vamos pro hotel, todo mundo já foi pra lá.
Passei o braço nos ombros de Glória, sentindo como ela estava fraca. Georg foi dirigindo, Natalie no carona, e a abracei. Com um canto do olho, vi que o anel que eu havia colocado no dedo dela girava, sobrando no dedo. Ela respirava entre os dentes trincados, parecia que lutava pra não demonstrar dor.
- O que houve com você? - Sussurrei. Ela não respondeu, ou demonstrou reação alguma. - Glória? - Segurei sua mão, e ela finalmente olhou para mim.
- Oi, falou comigo?
- Não escutou?
- Oh, é!
E para o meu choque, ela tirou um aparelho auditivo no ouvido direito, e ajustou o volume, o recolocando no lugar.
- O que...
- Estou surda do lado direito. - Respondeu com voz cansada, os olhos pesados, quase se fechando.
- Glória, mas... - analisei aquela cicatriz estranha que cortava seu rosto. Apavorado, percebi que seu olho direito não parecia estar focado - você está enxergando?
- Bill. Você vai saber de tudo, mas agora eu estou esgotada.
- Tá bem.
Ela dormiu quase imediatamente, exausta.
Entramos pelos fundos. Não sabia como tinham descoberto o hotel, mas a entrada principal estava lotada de câmeras prontas para um flash. Pra minha surpesa, desde que tínhamos chego em Londres, estávamos só há três andares de distância.
Quis ficar com ela, mas Tom a deixou com a mãe e com a irmã.
Ela precisa de cuidados. Ele me levou pro nosso quarto. Fui direto na minha bolsa, tomei meus comprimidos, e um banho quente. Depois de seco, somente Tom me esperava no quarto, o queixo trincado, encostado na lareira desligada. A adrenalina baixou aos poucos, o cansaço fazia com que cada junta dos meus ossos doesse.
Sabia que não me recuperaria daquilo tudo tão cedo.
- Você sabia? - Perguntei.
- Há algum tempo.
- E porque não me contou? Como soube?
- Bill, é melhor você sentar. A história que eu tenho pra te contar não é nada legal.
Não consegui o interromper. Ele me contou em detalhes porque nos desencontramos, dos dias que ela ficou entre escombros pedindo ajuda, de como foi resgatada, e porque não soubemos de imediato. Depois, a recuperação extremamente dolorosa. Tudo o que ela passou, até depois de consciente. Aceitando o fato que teria de passar o pior momento da vida no meio de estranhos, sem poder se comunicar com a gente. E tudo... pra salvar nosso filho. O certo seria ter interrompido a gestação. Ela teria recebido todos os remédios que precisasse, e as sequelas seriam muito menos que agora.
Mas ela decidiu arriscar seu único fio de vida. Pra salvar nosso filho. E ninguém podia dizer com certeza sobre os próximos dias de uma gravidez de risco. Eu não esperava que ela ainda estivesse grávida, a notícia me deixou atônito.
- ... o médico dela chega depois de amanhã.
- Ela vai... ter que ficar internada?
- Pelo que eu falei com o Dr. Valen, por enquanto não mas quando chegar no sexto mês, ela não vai mais poder sair do hospital, até depois da recuperação do parto.
- Você disse... que teve problemas com a placenta?
- Nossa, cara... - ele desviou o olhar - tiveram de praticamente costurá-la. Mas... a gente tem que ficar muito bem preparado, tá? Vai ser bem prematuro. E não tem como... dizer se vai conseguir viver depois que nascer.
- E o risco pra ela é grande?
- Cada dia mais.
Escondi o rosto nas mãos.
- Bill. A decisão foi dela. Tudo o que a gente tem a fazer é apoiá-la. E ser forte, porque ela não pode mais.
- Faz ideia do quanto a arriscou por trazê-la aqui, né?
Ele fez que sim com a cabeça, olhando pro chão.
- Achei que seria a melhor coisa a fazer, pra você, porque... ah, Deus.
- O que foi?
- O trauma psicológico. É muito maior que ela demonstra, mas a Glória não quer cooperar, é teimosa. Bill, você tem que ficar preparado pra uma verdade dura, mas crucial: ela pode rejeitar você. E não vai ter o que fazer se isso acontecer.
O estresse pós-traumático ainda não se manifestou, mas pelo que aconteceu... vai ser um momento de extrema fragilidade dela. Quanto mais estarmos preparados agora, mais vamos poder ajudar.
- Ela me aceitou... por emoção, então.
- Não tem como afirmar - ele foi até mim, e segurou meus ombros - vocês dois estão feridos, precisam de tempo. Vamos lá ver ela?
- Não sei se eu quero...
- Oh, Bill. Vamos. Nada melhor pra uma futura mãe que o futuro pai. É a sua família, eles precisam de você.
Eles me deixaram a sós com ela. Ela estava dormindo, encolhida num canto da cama. Não tive coragem de tocar em sua cicatriz, parecia que ia doer se eu fizesse. Era estranho vê-la de cabelo curto. Era estranho vê-la tão frágil, quando já tinha me acostumado com sua postura forte, como se nada fosse capaz de a abalar. Glória sempre fora meu porto seguro, mas agora aquele papel era meu. Sentei no chão, e por mais incrível que pareça, ela abriu os olhos, como se sentisse minha presença.
- Oi - disse - pode dormir. Eu fico cuidando de você. Dos dois.
- Tom te contou?
- Aham.
- Mas ele é um insuportável mesmo, não deixou nem eu falar. - Percebi que ela evitava meus olhos.
- Ele me contou tudo.
- Huuumm...
- Ainda doi?
- Algumas partes do corpo sim. As enxaquecas me deixam cega, eu... tenho que ficar no escuro pra passar.
Me aproximei dela. Ela não se afastou. Dava medo de tocá-la e provocar alguma dor sem querer.
- Era você? De madrugada, na clínica?
Ela confirmou com a cabeça.
- Tom disse que você tinha ilusões minhas. Como assim?
- Era meu modo de resistir à perda. Eu conversava com você todos os dias, foi ficando cada vez mais real.
- Está com depressão mesmo?
- Não importa. Ela acabou de ser curada. Eu só quero que você deixe que eu cuide de vocês.
Ela me deixou ficar deitado ao seu lado. A chuva persistiu, e a noite caiu por completo. Escutava sua respiração falha e ruidosa. Quando perguntei o porque, ela me disse que seus pulmões ainda se recuperavam das queimaduras.
Respirei muito pó e cinzas, a fumaça estava tão quente... engoli a vontade de chorar, minha garganta tinha um bolo dolorido.
Eu sabia que lá fora, o mundo estava agitado, todos loucos pra conseguir algum detalhe a mais sobre nós dois. Que inferno eu teria de passar... no dia seguinte, assim que pisássemos na Alemanha, centenas de fotos sairiam sem que pudéssemos escapar, eles iam acampar no portão de casa pra conseguir uma foto, e muitas mentiras seriam inventadas.
Meus pensamentos foram quebrados quando sua mão fina pegou a minha. Ela deixou que eu tocasse sua barriga, mais para o lado esquerdo.
- Segundo a... o exame, o bebê está bem aqui. Ele está ficando cada vez mais parecido com você.
Senti uma cicatriz ali. Mas também senti meu filho. Fiquei imediatamente emocionado.
- Oi bebê - sussurrei - é o papai.
Lágrimas escorrem pelo seu rosto
Eu te prometo que aprenderei com meus erros
Lágrimas escorrem pelo seu rosto
E eu
Luzes vão te guiar para casa
E incendiar seus ossos
E eu vou tentar te consertar