e aew minhas meninas! Vou postar hoje (bem, horário de verão... já é domingo). Jannah, Georg se vingará no tempo certo. Aqui, ainda tem humor, mas as coisas começam a ficar um pouco mais sensíveis. Mill vezes obrigado para Gii, por ter me ajudado na escola da foto do cap. Até a próxima, boa leitura! =D
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Capítulo 27 - E a Vida Continua
Bill
Três dias antes do Natal, Glória teve mais um de seus pesadelos.
Eu estava no banheiro fazendo a barba quando escutei. Inconscientemente, tinha treinado como reconhecer aquele som. Tirei a espuma do rosto com a toalha, e fui até ela, a segurando pelos ombros. Os médicos dela, antes de voltarem a Kiel, me alertaram de ajudá-la a acordar, pra que no futuro, se acostumasse a fazer isso por si mesma.
- Glória. Amor, abra os olhos.
Ela reconheceu minha voz. Sua respiração estava curta, e assim que me viu, afastou o olhar.
- O atentado denovo?
- Hã?
- O atentado, outra vez? - Aumentei o tom da voz, me esquecendo da sua audição mais baixa.
Glória confirmou com a cabeça. Voltou a me olhar, e riu.
- Meia barba?
- Tava fazendo.
- Ahn - ela voltou a olhar pra frente, e viu nossas malas já prontas nos esperando. Seu olhar ficou triste.
Desviei sua atenção lhe dando um beijo estalado na boca. Era diferente beijá-la agora, com a cicatriz no lábio inferior presente entre nós.
Havia muitas coisas entre nós.
- Bom-dia, mamãe - e beijei sua barriga - bom dia, bebê.
- Cresceu mais... dá pra sentir.
- Hoje eu vou vê-lo... nem acredito!
- Nossa Bill, quanta ansiedade!
- Como não?! Nossa primeira ecografia 3D, vai dar pra ver o rostinho.
- Ainda não muito, né. Eu só quero saber de uma vez se é menino ou menina, não comprei um sapatinho sequer.
- Hmmm... que coisa.
- Oooh, não. Não me diga que passou minha frente!
- Não é bem isso.
- Biiiu. Fala.
- Tá, já que tocou no assunto, espera. - Fui até meu armário, e do fundo da gaveta de camisas, tirei um pacotinho azul, e entreguei nas mãos de Glória. - Abre!
- Tá - ela hesitou em abrir. Quando ofereci ajuda, ela recusou, dizendo que tinha de reaprender. Bem, ela rasgou o pacote em dois lugares, mas conseguiu tirar de lá um par de sapatinhos brancos de tricô. O pé direito tinha um pingente na letra "B" e o esquerdo a letra "G".
- Gostou?
- Billie! Olha só que amor! - Ela me abraçou, dando um beijo do lado do rosto com a barba já feita - porque das nossas iniciais?
- Porque quando nascer eu vou morder o pézinho direito, e você o esquerdo.
- Oooowwnnn... seu, seu fashionista! Me derreteu agora...
- Foi minha mãe que fez.
- A dona Simone?
- É, essa mesma que já cansou de te dizer pra você a chamar pelo nome, sem esse "dona"!
- Nem adianta, chamo sua mãe assim a vida toda... ah Bill. Amei mesmo, demais.
- Sabia que ia gostar.
- Mas sei lá, com esses pingentes... ficou bonitinho, mas muito menina, não acha?
- E quem garante que meu filho não vai ter personalidade parecida com a minha?
A provoquei só pra ver sua cara, brava.
- Meu filho
não vai ter trejeitos do pai, tá? Vamos acabar com o bullying premeditado, por favor!
- Hã?! Mas e se ele quiser usar saia escocesa?
- Eu vou ir tomar banho, antes que eu leve essa discussão adiante e acabe te esfolando.
- Tá, eu te ajudo.
- Eu já consigo tomar banho sozinha, valeu.
Terminei de fazer a barba, só depois ela entrou no banheiro. Arrumei a cama, escutando o chuveiro ligado. Eu entendi perfeitamente meu erro de ter a evitado tocar. Glória se retraiu completamente, ela não queria deixar que eu visse suas cicatrizes. E lá no fundo, eu sabia que o que ela mais temia, era uma rejeição da minha parte.
Afastei a gola da regata, e me olhei no espelho, o começo de minha própria cicatriz ali. Diante dos meus olhos, aquele dia horrível em que pensei tê-la perdido. Em que eu quase havia morrido.
Suspirando, fui andando até o banheiro, tirando cada peça de roupa. Abri a porta de vidro do boxe com cuidado, Glória estava de costas, terminando de esfregar o xampu no cabelo ainda curto. Vi as marcas na sua espinha - uma abaixo do pescoço e outra na lombar - nos dois lugares onde ela tinha quebrado, e que agora a sustentavam com ajuda de pinos e o tratamento das células-tronco. Aguns vergões vermelhos permaneceram na sua perna esquerda por causa das queimaduras.
Ela levou um breve susto quando se virou e me viu. Entrei no chuveiro, e antes que ela dissesse algo, peguei sua mão direita, e a fiz tocar na minha cicatriz, até metade do tórax. Senti sua mão tremendo. A água do chuveiro escondia suas lágrimas.
- Não me rejeita, por favor - pedi - s-se antes eu me afastei, foi porque eu não queria te machucar. Eu sei que as coisas não vão voltar a ser como eram antes, quase tudo mudou. Mas eu quero... que saiba que todo dia quando eu acordo e eu vejo você, sabe o que eu vejo?
- O que?
- Eu me vejo no backstage depois daquele show. Eu vejo você toda molhada, quase chorando, correndo pra mim. Quem diria que a louca que invadiu o backstage naquela noite, seria no futuro... a mulher que... que me mudou pra sempre. Que roubou este coração aqui. Que mesmo ferido ainda é dela, e nunca vai deixar de ser.
Terminamos de tomar banho juntos, e eu a ajudei a se vestir. Eu sabia exatamente a reação dela à carinho, e quanto mais feliz ela ficasse, mas faria bem ao bebê. Não evitei tocá-la, e se ela se retraía, eu dava tempo para que se reaproximasse.
- Será que tem alguém... já acordado nessa casa?
- Hmmm, não vamos descer.
- Mas eu tô com fome.
- Quieta, baleia - damos um beijo de esquimó - deixa eu namorar você em paz.
- Pensei que já tínhamos passado dessa fase...
- Eu não permitiria isso.
A fiz sentar no meu colo, e sua mão voou na minha nuca, suas unhas arranhando a tatuagem.
- Estava com saudades. - Ela sussurrou.
Alisei a barriga dela duas vezes.
- Bebê vai dormir, seus pais estão conversando agora - ela gargalhou, e eu a beijei com avidez. Desde setembro... eu estava quase maluco.
- Pega leve, tá?
- Pode deixar...
Deitei sobre ela com todo cuidado possível. Glória riu, totalmente sem graça.
- Eu amo você, sua tímida.
- Muuito obrigado por lembrar!
Tudo teria dado certo se meu maravilhoso gêmeo conseguisse raciocinar que antes de irromper dentro do quarto, tinha de bater na porta. Esse maldito costume do Tom não passava nunca. Ele escancarou a boca, e colocou as mãos na cintura.
- Heeeeiiii! Mas que pouca vergonha é essa?!
- Seu viado, quer parar de gritar?
Glória suspirou, eu saí de cima dela. Ela me olhou como se dissesse:
Ou você mata ou eu mato, e ficou de pé.
- Tem uma criança no recinto!
- Com TODA a certeza, Tom - cruzei os braços e trinquei os dentes - quantas vezes já te falei pra bater na porta?!
- Milhares, e daí? Glória, eu esperava mais de você.
- Vai se catar - ela o fuzilou com o olhar.
É aquilo que dizem: nunca irrite uma mulher grávida.
- Wow, fora a estressadinha aí... a Cris já fez o café.
Corri até a porta para acompanhar Glória, mas antes dei um tapa na testa gigante dele.
- Imbecil.
- Gêmeo.
Ajudei Glória a descer os degraus.
- Desculpa, amor.
- Tá tuudo bem - mas a voz dela dizia o contrário.
Cris estava colocando os pães na mesa quando nos viu.
- Bom dia, casal Kaulitz!
- Bom dia - dissemos juntos.
- Iiii, que houve?
- Cris, vamos ter que conversar sobre a educação que você dá ao mala - comentei.
- Não me diga que ele entrou sem bater denovo.
- Salvei uma criança! - Tom veio atrás de nós, e conseguiu pegar no ar o pano de prato que joguei contra ele.
- Ahn tá, então se eu tivesse grávida, você ia ficar na seca por nove meses assim, de boa?
- Você tá grávida?! - Eu, Tom e Glória disparamos.
- NÃO! Maas que fissura por bebês, já tem duas de barriga na família, pra quê eu?!
- Ahn - Tom foi até a cafeteira, e começou a fazer seu capucchino - não posso te engravidar antes do casamento, seu pai me mata.
- Ah tá né, depois, eu posso ter 18 filhos e tá beleza?
- Hei, não roube, a gente já tinha combinado 20.
- Nuusss - Ri um monte, enquanto ajudava Glória a cortar o pão.
- E hoje então, vão tirar fotos da minha sobrinha?
- É ecografia, e é sobrinho!
- Bill, mas que coisa, pára de teimar comigo. Eu sei que é menina, hoje vai ficar provado. Aliás, que nome a
minha sobrinha vai ter?
- Concordamos com Sofia - Glória o respondeu.
- Porque não Cristine?
- Tom, olhe amorzinho, fica quietinho e toma seu café antes que eu te esgane, tá?
- Ouch!
Foi um momento de distração. Glória foi pegar a xícara de café, mas bateu com as costas da mão na xícara, que se espatifou no chão.
- Ah mana, deixa, eu limpo.
- Droga... Bill, eu te queimei?
- Não, não. Só foi um susto mesmo.
- Me desculpem...
- Que isso, Glorinha, tá sussa. - Tom recolheu os cacos, e Cris foi buscar um pano de chão.
- Olha só quem machucou - peguei a mão dela. Os nós dos dedos estavam vermelhos, e dei um beijo em cada um.
- Não foi por querer, eu sou um desastre.
- Shh, pare com isso. É só uma xícara.
- Hoje é uma xícara... meu Deus eu tenho que melhorar. Como eu vou pegar nosso bebê no colo desse jeito?
- É só não ver aquele filme lá - Tom se intrometeu na conversa.
- Hã?
- Que filme, Tom? - Perguntei.
- Ah, aquele filme... A Mão que Balança o Berço.
- Mata ele agora.
- Com toda certeza, amor.
Corri atrás de Tom, mas ele foi pro outro lado do balcão.
- Eu tava brincando!
- Tá ótimo, vou te bater só de brincadeira, vem cá!
Nós demos quatro voltas no balcão correndo um atrás do outro, até Tom se esquivar o bastante pra conseguir correr da cozinha. Fui atrás dele na sala, e nós dois quase batemos nos nossos futuros sogros, que estavam indo tomar café.
- Bom dia.
- Bom dia, senhor Marcos - dei meu sorriso mais aberto, e voei com a mão na orelha de Tom - vem cá!
- Aiaiii... não puxa o alargador, urg, dói!
- Calaboca! - o levei de volta até Glória. Cris tinha terminado de limpar o chão, e quando viu a cena deu de ombros, como se dissesse:
é todo seu. - Peça desculpas pra mãe do meu filho.
- Hum.
- Toom.
- Tá! Desculpa. Foi só de brincadeira, Glória.
- Ah, Bill, solta ele. Tadinho.
- Você desculpa ele?
- Claro que sim, não posso levar em consideração tudo o que uma criança diz.
O soltei.
- Agora, dê um abraço de desculpas.
- Cara, você já notou que não estamos mais no primário?
- Caalaboca, eu sou o chefe.
- Caraalho - Tom girou os olhos, e Glória riu um monte, enquanto recebia o abraço.
- Já tá bom - os afastei.
- Agora que já estão em paz, vamos tomar logo esse café - disse Cris - a Teresa e o Brian não acordam agora mesmo, e os dois aí tem muito o que fazer hoje.
Foi a primeira vez que Glória saiu de casa desde que tinha voltado.
O número de paparazzis ainda era o mesmo. Estávamos só eu e ela no carro. Glória usava meu boné do Japão, um moletom cinza com um capuz grande o bastante para as laterais, e óculos escuros imensos. Ela baixou o rosto quando os flashes do lado de fora nos atingiram, eu fiz a manobra do carro com uma mão, e segurava a mão dela com a outra. Acelerei o máximo que a sinalização permitia, sempre atento ao retrovisor.
- Alguém nos seguindo? - Ela perguntou, de olho no espelho da manobra.
- Pelo jeito não.
- Em dez minutos, vamos estar na Bild.
- Cinco. Poxa, não vamos desconsiderar a rapidez do pessoal.
Ela riu pelo nariz.
- Então... preparado pra nossa coletiva de imprensa mais tarde?
Ergui a sobrancelha, apertando os dedos no volante, já a 85km/h.
- Ainda dá pra cancelar.
- Eu não quero cancelar, Bill.
Suspirei pesadamente, e diminui um pouco com o fluxo de carros aumentando.
- Eles vão ir na nossa casa.
- É melhor do que a gente num estúdio, né?
- Glória, cara...
- Não. Você concordou, vamos até o fim agora.
Tinha sido ideia da Glória aceitar o convite de Kenneth Hoff - entrevistador de um dos programas de mais sucesso do país - pra nossa casa. O programa dele tinha o objetivo de dar espaço à pessoa famosa que quisesse esclarecer seu ponto de vista, sobre qualquer assunto. Kenneth ia até a casa da pessoa em si, não a forçando a ficar sob a tensão de um estúdio. Já tinha visto vários capítulos do programa. Ele era sério, não fazia perguntas idiotas, sabia respeitar a vez de falar, era possível ter uma conversa bem fluída.
Havia outro extremo: sempre fomos conhecidos por sermos reservados com nossa vida privada, e as pessoas que pertenciam a ela. Convidar um repórter pra vir na nossa casa, enquanto falávamos de nós... era algo muito radical.
Mas Glória inssistiu para que aceitássemos o convite. Claro, ela tinha razão: só uma nota assinada por mim à imprensa não era o bastante para acalmar a todos e cessar os rumores da mídia. Mesmo assim, resistia a ideia.
- Vai dar tudo certo. Confia.
- Eu sei, mas vai ser estranho. Se eu não quiser responder...
- Não é obrigado.
- Mesmo assim, olha o sensacionalismo! O pessoal do programa tá fazendo comercial de cinco em cinco minutos na TV avisando sobre uma misteriosa entrevista exclusiva na véspera do Natal...
- Diminui.
- Merda - tinha ido a 92km/h sem perceber. Tirei o pé do acelerador, e relaxei os ombros, já doloridos de tanta tensão - desculpa. Eu sei, você não gosta de velocidade.
- Só não quero que leve uma multa.
Voltei a me concentrar na estrada. Glória foi com a cabeça pra trás no banco, fechando os olhos.
- Dor de cabeça?
- É... uma grande.
- Quer voltar pra casa?
- Não se preocupe, ainda é pouco. Deve... uma ou duas horas.
- Não entendi.
- Pra começar mesmo.
- Ahn. Daqui a pouco a gente chega.
- Tudo bem.
- Glória... porque disso? Dessa entrevista?
- Não é por causa da mídia, mas sim pelas fãs.
- Me explica melhor.
- Eu já fui do outro lado da batalha, Bill, sei bem como é sofrer no
front - ela riu, olhando pra frente, como se os tempos de fã passassem por seus olhos - se tem uma coisa que irritava mesmo, era quando saía um rumor, e a gente ficava esperando a resposta de vocês. Vamos responder, pelo menos uma vez, tá? Os soldados merecem a apresentação do comandante. Não só sinais do código
morse.
A ala de obstetrícia do hospital era cheia de casais ansiosos como nós.
Fizemos questão de passar por todo processo, inclusive sentarmos na sala de espera. Estar ali, como pessoas normais... era tão banal para os outros, mas tão incrível pra nós. Eu sorria a todo momento, olhando para as belas fotografias de bebês pela sala, a mão de Glória entrelaçada na minha, enquanto ela conversava com outras duas grávidas. Foram menos de 15 minutos de espera, mas aproveitamos cada segundo. Aquela era a nossa primeira, única, e última chance de termos um filho biológico. Quando nos chamaram, eu quase saltei da cadeira.
- Caramba - ela sussurrou, enquanto íamos para o consultório - você tá tremendo, amor.
- Tô mais nervoso do que quando toquei pra meio milhão na França.
A porta dizia "entre sem bater", e foi o que fizemos.
O dr. Dérick Wolf tinha quarenta e tantos anos, e aquele jeito radiante que só os obstetras tem. Ele falava tão alto quanto eu, gesticulando e nos fazendo rir, o que me ajudou a ficar mais calmo. E claro, avisou que era um piadista de primeira.
- Então... marinheiros de primeira viajem, hã?
- É, nervosos e empolgados - comentei entridentes.
- Tá tudo certo, Bill, por enquanto sua descrição corresponde com os fatos! - rimos. - Tá. Qual foi o início da gravidez?
- Na primeira semana de Setembro.
- Certo, e você me disse que é para Abril, né mamãe?
- Isso.
- Uma gravidez de risco, são sete meses, sendo que 3 já se passaram. Bem, o seu médico vai te explicar melhor no futuro, mas concordo com a decisão de você permanecer o tempo que resta em internamento. O trauma sofrido foi grande e considerável, e quanto mais você ficar perto de médicos, melhor.
- Acha que vai precisar de quanto tempo na incubadora?
- Bom... cada caso é um caso. Tem bebês prematuros como ele que também são de sete meses e ficam um mês, ou uma semana. Isso vai do bebê mesmo. Mas pelo que eu vejo, este está sendo muito bem cuidado, né papai?
- Eu queria cuidar mais né...
- Deve dar uma raiva de ver ela andando!
- Se eu pudesse amarrava na cama! Parece que não sabe que está grávida!
- Ai que absurdo, Bill. Não tá vendo que é brincadeira? - O dr. Wolf quase se matou de rir.
- Não adianta, Glória, os papais são assim mesmo... Bill, é importante que ela ande, isto ajuda na elasticidade da pélvis. Aliás, assunto íntimo: estão tendo relações?
Eu me remexi na cadeira.
- Até agora não.
- Bom, mas estão fazendo o contrário do que se deve.
- Como?
- Por enquanto, não vai ter uma melancia entre vocês. Mas as relações são importantíssimas neste caso. Não querendo ser rude, mas vai passar um bebê foca onde mal passa um filhote de camundongo!
Eu fiquei vermelho (e olha que isso é difícil), mas a Glória riu horrores da minha cara.
- O negócio é que quanto mais elasticidade, mais fácil será o parto. Óbvio que neste caso, se espera uma cesariana, mas o bebê pode vir numa hora emergencial, se encaixar em minutos, há casos que em dois minutos a mãe fica com 9 de dilatação, e tudo o que vai dar tempo de fazer é um normal mesmo.
- Há este risco?
- Sim Glória, temos que pensar em todas as possibilidades, principalmente no seu caso, onde já houve ruptura na placenta. E claro, a relação vai te ajudar a produzir hormônio do bem-estar, que é a base da produção do leite materno, você precisa deste estímulo. Minha recomendação pra quando saírem daqui: os dois na cama!
- Pode deixar, doutor, hoje ele não me escapa.
- Ai, Bill, logo uma brasileira... não queria estar na sua pele!
- É dela que eu gosto, não tem jeito.
- Okay, Bill, pode ir uns cinco minutinhos lá fora? Vou começar os exames na Glória, e o primeiro, eu não recomendo homem nenhum a ver! É trauma.
- HÃ?!
- É toque, Bill - Glória sussurrou.
- Vou tomar um café na máquina, já volto.
Eu nem mesmo consegui chegar na máquina. Umas 10 enfermeiras saíram dos seus postos ao me ver, todas implorando por um autógrafo, ou uma foto no celular. Tá, não custava nada atender meu fã-clube de plantão, e fui o mais simpático possível com todas, mas recusei os telefones das filhas adolescentes. O dr. Wolf foi me chamar, e espantou-as de longe de mim, fingindo estar bravo.
Quando entrei na sala, a maioria das luzes já tinham se apagado. Glória estava na maca, a blusa puxada, e uma boa quantidade de gel transparente já ali. Sentei-me ao seu lado, e nos demos as mãos, de olho na LCD 32 polegadas.
- É hora do show - o dr. Wolf anunciou.
Ele localizou nosso bebê em alguns segundos. Assim que eu o vi comecei a chorar. Foram lágrimas incontroláveis, as mais imediatas que eu tive na vida. Tentava em vão secar o rosto, enquanto o médico nos mostrava cada parte dele.
- Como podem ver, osso do nariz já está formado - ele disse - isso significa que seu bebê não vai ser down. Vamos tentar um close no rostinho.
- Onnn. Tá dormindo!
- Tá mesmo, mamãe. Autorização pra acordar?
- Ahã! - Glória respondeu antes de mim.
O dr. Wolf agitou um pouco a barriga dela. Segundos depois, um par de olhos - dois pontos ainda brancos - focalizaram exatamente a câmera.
Era como se o bebê nos olhasse. Fiquei embasbacado. Em seguida, ele colocou a mãozinha na boca, mas continuou nos olhando.
- Ele tá vendo a gente! - Consegui dizer.
- Está sim - Glória levou minha mão na boca, e a beijou.
- Ele se mexe muito, já consegue sentir?
- Só uma vibraçãozinha, doutor.
- E olhe só, ainda de perninhas cruzadas! Papais, não vai ser hoje que vocês vão saber se compram rosa ou azul, neste caso eu sempre sugiro o branco, verde-limão e lavanda, por enquanto é o bebê, sem ele ou ela.
- Igual a mim - Glória disse - minha mãe não sabia se eu era menino ou menina até eu nascer.
- Haaam, então, como o caso de perninhas cruzadas aconteceu com a mãe, é bem provável que o bebê vá pelo mesmo caminho.
- O jeito é ir comprando branco mesmo. Billie! Pára de chorar!
- Não consigo! É meu bebezinho, olhando pro papai.
- Pai coruja à vista...
- Nem me fale, doutor, este vai ser daquele que a criança vai andar aos 4 anos, porque não vai conseguir colocar os pés no chão.
- Querem ouvir o coração?
- Claro - respondi.
As batidas eram altíssimas, e muito mais rápidas que as nossas. Eu escancarei a boca.
- Isso é normal, viu? O coração dele nunca vai trabalhar tanto quanto agora, precisa bombear sangue e oxigênio por todo o organismo.
- Qual é... o quadro geral?
- Glória, seu bebê parece tão normal quanto os outros. É claro, os próximos exames podem e vão detectar mais coisas, mas o que posso dizer é: relaxa. Ele está se desenvolvendo, tá tudo nos conformes. Parabéns, papais. O pequeno guerreiro de vocês continua na luta.
- Tá dormindo? - Perguntei.
- Sim, voltando a pergar no sono. Imagina meu rapaz, este bebê dorme a essa hora. Vai ficar a madrugada toda acordado, chorando, se esperneando, e você com saudades dos tempos que dormia!
Ele e Glória voltaram a rir.
- Tem problema não, eu canto pra ele.
- Ah, sabe que isso é bom? Cantar. Ele vai aprender a reconhecer a sua voz, já que a voz da mamãe ele já gravou.
- Doutor Wolf, o senhor sugere isso pra um cantor? Ele vai querer cantar todas as músicas.
- E vou mesmo. Meu filho vai nascer com pelo menos o Zimmer na ponta da língua.
- Bem, o show acaba aqui. Papais, dêem tchau pro bebê meninomenina!
- Tchau, meu amor, a mamãe tá te esperando.
- Bebê, o papai vai fazer o quarto mais incrível do mundo pra você. Vem logo tá? A gente tá esperando.
- Ah, que fofo gente. Isso é o que recompensa meu trabalho.
Ganhamos o DVD da filmagem. Tiramos mais algumas dúvidas, e nos despedimos do médico simpático. Glória prometeu que o enviaria um convite do chá de bebê assim que arranjássemos a data. Voltamos a colocar nossos "disfarces". A abracei pelos ombros, e a ajudei com o cinto de segurança. Minha felicidade era imensa. Nem vi os fotógrafos à nossa volta.
O pessoal da equipe de filmagem montava todo o equipamento para a gravação na sala, enquanto todos víamos pela zilionésima vez o DVD, ou como Tom batizou: Baby Kaulitz TV -Gaught on Camera (meu irmão me puxando no lado criativo) na cozinha. O "capítulo" eleito melhor da temporada, foi quando nosso bebê colocava a mãozinha na boca, olhando pra câmera.
- Olha a fixação dele pra ser filmado - Tom disse - ele vai nascer pra ser artista!
- Só falta você dizer que ele tem as mãos para as cordas de uma Gibson.
- Nhaa, Bill, sempre lendo meus pensamentos!
Girei os olhos. Kenneth Hoff estava recapitulando as perguntas, enquanto o maquiavam com base.
- E aí? - Tom veio ao meu lado, sussurrando - pronto pra mais essa?
- Vou ficar um pé atrás.
- Normal. Mas sei lá, ele parece ser gente boa. Ele sabe bem esse assunto de família, é casado, tem filhos... sussa. Nada mais traumático que já não tenhamos passado.
- Mas agora, o lugar é outro.
- Ahn vá! Isso não é desculpa. Vai dizer que perdeu o jeito pra coisa?
- Nie, é só... é muito pessoal. A gente fala de Tokio Hotel, Tokio Hotel, Tokio Hotel. Mas agora é a gente. É a minha família.
- Cara, o que você prefere? Passar por isso de uma vez, ou continuar a atrair moscas pro seu portão?
- Tá... que seja, eu vou estar lá com ela.
- Iiisso, e chega de bichisse.
Kenneth nos cumprimentou com toda a polidez e simpatía possível. Ele tinha o cabelo mais loiro que o meu, e olhos irritantemente azuis, quase davam dor de cabeça. Glória estava de jeans, uma blusa bata de lã vermelha, com mangas que iam até nos dedos, e ainda usava o boné do Japão. Eu também estava de jeans, e um casaco grafite de gola alta, e só quatro colares no pescoço, sem maquiagem. Nos sentamos no sofá e ele na poltrona à nossa frente, câmeras apontadas pra ele e para nós. O microfone na roupa incomodou um pouco.
- Vai ser bem tranquilo - ele disse - respondam o que quiserem. Paramos quando vocês acharem melhor.
- Tudo bem - respondi, abraçando o ombro de Glória.
- Ainda bem que é gravado - ela sussurrou.
Um dos câmeras chamou a atenção de Kenneth para a câmera, e começou a contagem regressiva.
- Em cinco, quatro, três, dois... vai.
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adoogo essa parte de bebê!
partezinha do próximo pra dar aquela vontade
- ... então você não sabia pra onde a Glória estava indo?
- Não, e já disse que não.
- Essa parte da história realmente não ficou clara, Bill
Já chega, eu não vou mais suportar, nem mais um minuto dessa droga!