Galera minha, acabei de voltar da facu (que por acaso começou hoje!!) como to muito cansada, edito amanhã com vossos coment's, por enquanto, aí vai o cap. Boa leitura!música do capítulo
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Bill
- Vamos aumentar a velocidade para 40km/h. OK pra você, Bill? - Somente gesticulei com a cabeça. Parecia que meu coração ia explodir a qualquer momento. Senti a esteira ganhando velocidade, e apertei a corrida. A máscara de oxigênio começava a pesar no rosto, suor escorria pela regata. Deus... só 40km e eu já estava assim?
Olhei de relance para a área dos computadores, onde monitoravam meu coração pelo teste ergométrico. Millena olhou fixamente para o painel, e estreitou os olhos.
Eu não estava indo tão bem quanto eu esperava.
- Bill, podemos aumentar para 50km?
Fiz que sim com a cabeça, sem saber se ia suportar ou não. A esteira ficou mais rápida.
Deixei minha mente vagar. Eu havia guardado o desenho que Júnior havia me dado na carteira. Ainda não conseguia entender o que aquilo significava. Uma praia... o sol... uma parte das Maldivas... e Kiel. O que era aquilo, o que significava?
Fiquei divagando, não escutei quando avisaram que iria aumentar para 60km/h. Senti a adrenalina gelar minhas veias, forcei o pulmão a engolir mais oxigênio. Minhas pernas começaram a doer, os batimentos cardíacos pulsavam até meus ouvidos. Olhei de novo para os médicos que me monitoravam. Desta vez, Millena olhava pra mim, com um rosto preocupado.
Então, eu quase caí da esteira. Senti o coração dar um pulo, a estranha dor lascerante ardeu no peito. Me apoiei no aparelho, querendo ar, mas nem forças pra puxar eu tinha. Quando a esteira aprou, eu estava de joelhos nela, pingando suor, quase não tendo forças pra respirar.
Millena foi a primeira que veio até mim. Ela tirou a máscara de oxigênio puxando pela nuca. Quando o cano respiratório sair da minha boca, cuspi muita saliva, tendo um ataque de tosse.
- Você está bem? - Ela disse. Dois médicos já tentavam me levantar.
Fiquei tossindo uns dois minutos, e tentei beber água. O líquido gelado doeu a passar pela garganta, que pegava fogo. Ainda respirava alto, entre os dentes.
Fui para uma sala de recuperação cabisbaixo. Minha mãe nada disse, só ficou do meu lado, segurando forte minha mão. Não havia conseguido completar o exame. Um exame simples, e não havia nem mesmo chegado ao mínimo. Coloquei a mão no peito, me perguntando por quanto tempo mais aquele órgão ia suportar.
- Está doendo, filho?
- N-não é que... só estou preocupado - as palavras quase morriam na minha boca de tão fracas.
Nem olhei quando meu cardiologista entrou na sala. Em mãos, ele tinha o resultado dos exames. Ele respirou fundo antes de prossegir, e minha mãe apertou minha mão ainda mais.
- Bill... para um ser humano, coma sua idade... o mínimo são 80 bpm.
- Quanto eu cheguei? - Perguntei sem medo.
- Cinquenta e sete bpm. Ainda... está muito abaixo de um nível seguro.
- Deus... - minha mãe sussurrou. Por impulso, eu a abracei.
- Eu já devia estar melhor?
- Sim.
- Qual devia ser meu mínimo? - Ele parecia procurar as palavras certas.
- 75, no mínimo. - A voz dele falhou.
- Eu vou viver? - Perguntei, mas não me importava muito com isso.
- Eu trouxe os resultados... e esse formulário. Quero que você o assine.
- Que formulário é esse, doutor? - Minha mãe estava a um ponto de desabar.
- Uma autorização para colocarmos o nome de Bill na fila de espera para transplante de coração. Com urgência.
Foi quando o chão sumiu sobre os meus pés. Minha mãe começou a chorar, e pedi para Gordon tirá-la da sala. Não queria que ela ouvisse o resto, eu não queria ouvir.
Mas precisava.
Fechei os os olhos, sentindo que o médico se sentou ao meu lado. Não queria ver, ouvir era mais que o suficiente.
- Quais são... as minhas chances?
- São boas. Seu tipo sanguíneo é universal, as chances de um doador são grandes.
- Quantos estão na minha frente... na fila?
- Bill. Isso é só um procedimento-padrão.
- O que? - Abri os olhos, uma ponta de raiva começou a brotar dentro de minhas consciência.
- Não é porque você é famoso, e sim pelo seu quadro clínico. Todos os pacientes que estão em um estado como o seu passam na frente dos outros.
- Mas isso não é justo com quem já está!
- Bill. Aqui nós decidimos quem vai viver e quem vai morrer pelo prontuário. Eu sinto te dizer, mas o marcapasso não está funcionando. Seu coração adoeceu, ele regrediu. Agora ele só suporta uma criança de 10 anos, não um adulto com 26.
- Doutor...
- Bill. Se não assinar esse formulário... você vai morrer. Em questão de meses. Eu sinto muito, mas é esta sua realidade e tem que encará-la agora.
- Não adianta...
- O que não vai adiantar?
- Podem trocar meu coração. Mas a dor vai continuar, eu sei que vai...
Ele se levantou, ficando na minha frente. Estendeu o formulário para mim na prancheta.
- Já perdi alguns pacientes. Como dizem, são ossos do ofício. Mas eu não vou perder você, rapaz, querendo ou não. Seu lugar não é morto, e...
- Então era o lugar dela? - Ele ficou sem voz. - Ela devia ter morrido?
- Não foi o que eu quis dizer...
- Foi sim - puxei a prancheta e assinei de qualquer jeito, forçando a caneta contra o papel. - Não vai adiantar. Sabe porque?
Ele me olhou, incrédulo.
- Porque meu lugar é com a Glória. Vivo ou morto.
Saí da sala, e encontrei minha mãe aos prantos sentada numa cadeira perto da máquina de refrigernates. Me abaixei até ela, que se lançou no meu pescoço, dizendo um milhão de vezes que sentia muito.
- Não foi culpa sua. Eu vou ficar bem. - Foi o que pude dizer.
- Eu... nós temos que fazer alguma coisa...
- Não dá pra fazer mais do que isso, mãe.
- Vou chamar seu irmão.
- Não – disse, sabendo que ele precisava de tempo pra falar com Cristine. – Eles têm coisas a resolver. Não vou fazer um transplante amanhã, vai demorar um pouco pra achar um doador.
Ainda negando veemente, ela olhou fundo, até minha alma. Senti que fiquei gelado por um certo tempo.
- Nem pense nisso – disse, me levantando. – Vamos, quero passar na casa do Gee antes da minha.
- Por quê?
- Senhor Kaulitz... – me virei, ao escutar a voz de Myllena – precisa assinar sua alta dos exames.
- Claro – sorri fracamente. Quando ela me passou a caneta, sussurrei – na sua opinião...
- Não tenho autorização pra falar com paciente sobre...
- Os exames são meus, é do meu coração que estamos falando.
- Faça o transplante – ela forçou a voz – sinto muito. Mas não vai acontecer um milagre.
- Eu ainda espero por ela todos os dias.
- Sei bem como é. E isso só aumenta sua dor.
- Obrigada Myllena – disse, me despedindo – vamos, mãe?
Ao sair do hospital, alguns fotógrafos me clicaram de longe. Em algumas horas estaria no próximo noticiário, já podia ver as manchetes.
Líder do Tokio Hotel Muda o Visual Radicalmente Depois do Trauma
Bill Kaulitz está Abatido e Loiro
Tivemos Acesso aos Seus Exames que Indicam... Que fossem à merda.
Estava com Georg no jardim atrás da sua casa, escondido pelos altos pinheiros e entrelaçados arbustos de bambus. Mesmo com sol, tinha de ficar com casaco, pequenos montes de neve já podiam ser vistos em alguns cantos. Os gêmeos Listing haviam espalhado vários brinquedos pela grama queimada pelo frio, gastavam toda a energia que tinham correndo.
- Quando vai ser transplantado? – Georg finalmente disse, sem ter coragem de me encarar.
- Em questão de meses, já estão procurando alguém no banco de doadores. – Espalmei as mãos na mesa. O movimento fez com que meu pulso ficasse a mostra. O nome dela gravado ali me cortou sem piedade alguma.
- Isso te incomoda, não é?
- Como posso viver com um coração de outra pessoa?
- Bill. Não vê? Essa pode ser sua chance. Quem sabe você não precise de um novo coração pra conseguir continuar?
- É justamente isso.
- O que?
- Não sei se quero continuar.
Georg se levantou, se ajeitando dentro do casaco. Eu sei que ele queria dizer a coisa certa. Mas não podia.
- Eu te entendo, cara. Fico pensando se... tivesse sido com a Danny. Mesmo destruído eu ia ter que continuar, por eles dois.
- Ela não me deixou um pedaço tão grande.
- Mas foi mais do que suficiente pra mudar sua vida pra sempre.
Ri da mais pura ironia.
- Idiota!
- Que? – Falei, incrédulo.
- Ficou anos procurando a garota certa em convenções e festas de garotas cheias do dinheiro. Quem ia dizer que ia ser uma fã, hein? Mais uma na multidão. Mas você sabe por que ela conseguiu seu coração. Porque ela foi diferente, Bill. Ela te marcou. Eu estava lá quando aconteceu. Jamais vou me esquecer de quando o Tom abriu a porta, e no mesmo momento ela voou pra dentro. Voou direto a você e pra você. Uma vez. Pra sempre.
Me levantei abruptamente, me afastando. Consegui dar passos suficientes para ficar dois metros longe dele. A dor veio aos poucos, bem lá do fundo, foi se acumulando com outros pontos ainda frágeis da consciência, foi tomando forma, força, vigor. Explodiu na minha cabeça por todas direções, trazendo dor emocional e física. Vazou pelos meus olhos. Ele tentou me consolar, mas pedi pra ficar sozinho. O céu cinza não trazia conforto, só mais lembranças.
Não reparei na presença de Júnior. Sua pequena mão quente se contrastou com a minha. Ele não se assustou a me ver naquele estado, mas ficou ali. O vento penteava nossos cabelos em direções impossíveis. Estava começando a ficar escuro e mais gelado.
- E-ela disse... que vai ficar tudo bem.
- Quem, Júnior?
- A moça que me deu o desenho.
Me abaixei na sua altura, esperando ter uma explicação melhor.
- Quando ela te deu? Onde?
- Faz... dias. No parque. Tava com a mamãe e com a mana.
- Ela te deu o desenho?
- Deu. Ela disse que era pra você.
- Júnior... ela era a Glória?
- Não! – Ele tinha certeza daquilo.
- Quem era então?
- Não sei. Ela parecia legal...
- Você nunca a tinha visto? – Ele negou com a cabeça.
- Vem. Ta ficando frio.
O peguei no colo, indo em direção a casa. As luzes estavam acesas, dava pra ver toda a movimentação lá dentro.
- Ela era bonita – ele sussurrou.
- É mesmo?
- Aham!
- Ela disse o nome?
- Não.
- Tudo bem – sabia que não ia conseguir nada além daquilo – vem, acho que vai ter neve denovo.
Estava usando uma blusa de lã cinza, com uma alta gola que ia até o queixo. Estava sentado no sofá perto da janela, vendo os flocos caindo, tão juntos que a visibilidade estava quase zero. O fogo na lareira estava alto, minha mãe o aproveitara pra fazer fondue de chocolate, mas não consegui comer muito. Ela diria que aquele chocolate era altamente calórico, cheio de açúcares, conservante, corante artificial...
O barulho que copos me acordou para a realidade.
- Mãe, deixa aí, eu já lavo.
- Claro que não! Você não pode ficar pegando friagem à toa.
- Acho que a última vez que ouvi isso foi no nosso último Natal de Magdenburg
Ela sorriu, e ficou na minha frente.
- Vocês tinham uns 7 anos, estavam começando a ficar diferentes.
- Aquele cabelo ridículo! – Rimos muito – e o Tom, parecia um surfistinha.
- Era uma graça. Quase como você está agora.
- Estava mais frio do que hoje, a casa tava lotada. Foi a... primeira vez que vimos o pai naquele ano.
- Tudo era tão... difícil, longe. Mas perece que foi ontem.
- Só há 19 anos atrás. – Hesitante, peguei a carteira no bolso – quero te mostrar uma coisa.
Ela analisou o desenho, com um vinco entre os olhos, lendo várias vezes a palavra no canto.
- Kommt? – Ela disse,
vem.
- Não está escrito vem. É Kiel.
- Kiel?
- É. O que você sabe sobre Kiel?
- A fronteira com a Dinamarca... nome de pessoa. Não Bill, eu acho que está escrito Kommt. Quem te deu isso?
- O Júnior.
- Ela já sabe escrever e desenhar assim?!
- Não. Ele disse que uma mulher deu pra ele no parque, era pra ele entregar a mim.
- O desenho de uma fã, quem sabe.
- É... pode ser. – Voltei a olhar fixamente para a palavra. Estava em letra de forma, era tão irregular. Pareciam mais códigos do que letras. – Deixa pra lá, está tarde. E amanhã, voltamos a conversar moçinha, sua casa está abandonada sem você.
- Eu já lhe disse, eu e Gordon estamos muito bem aqui, obrigada. E pare de nos expulsar!
- Ah, até parece!
- Seu pai me ligou.
- Sério? Onde ele ta?
- Sabe como é, ele vem e vai. Disse que ainda tem receio de te visitar.
- Receio bobo. Eu quero ele aqui, perto. Preciso dele.
- Vou repetir suas palavras. Ele prometeu tornar a ligar amanhã.
- Prometeu como quando eu tinha 7 anos?
- Não. Como... agora. Seu pai fiou muito abalado pelo que aconteceu mês passado, amor. Ele quer estar perto, só não sabe como. Foi um homem que deixou que o remorso o dominasse. Eu sei que você é filho dele. Mas não permita que o mesmo aconteça com você. Glória odiaria isso.
Ela tinha razão.
Era torturante estar só naquele quarto. Ela havia partido, deixando o terrível frio e escuro da solidão em seu lugar. Eu podia sentir aquele sopro de dor escondido no canto das paredes, esperando que eu fechasse os olhos.
Voltei a abrir o livro que líamos juntos. O Mundo de Sofia ainda marcava a mesma página, de onde Cris havia terminado de ler pra mim, no hospital. Queria tanto saber o final da história... mas escutando a voz dela.
Até planejávamos ter filhos lendo aquele livro. Agora, tudo o que eu tinha em mãos era um livro que eu não compreendia, assim como a dor de não ter mais a pessoa que o lia. Estava ficando cansado mais rápido, as pálpebras pesavam.
Eu não quero dormir, não quero, não quero... não quero aquele sonho ruim, não...Tentava me controlar, mas por mais que tentasse, a solidão estava cada vez mais perto...
Vai ficar tudo bem, respira.Ela não me deixava descansar...
Bill... vamos! Para com isso.Me deixava sem ar algum...
Está tocando, faz um barulho horrível. Som de buzina, som de buzina... estou ficando paranóico, para! Por favor!Abri os olhos, assustado. Do meu lado, a “buzina” ainda tocava. Era o meu celular.
- A-alô? – Disse, esfregando dois dedos nas têmporas – Alô?
Nada. A linha estava muda, mas a ligação continuava.
- Aqui é Bill Kaulitz, se não disser nada agora eu vou desligar. – Vociferei, irritado.
Então, do outro lado da linha, eu escutei o clique. Quem me ligou havia cortado a ligação. Fui até o identificador de chamadas, intrigado.
Não tinha nada. O numero havia sido registrado com uma seqüência de oito zeros, e o código de área.
4.4.2 0431
Não sabia de onde era. Peguei uma agenda qualquer na gaveta, sempre havia os códigos e suas localizações nas primeiras páginas.
Gelei ao ver de onde era. Não tive coragem de ler em voz alta, deixei a agenda cair no chão.
4.4.2 0431 correspondia... a Kiel e arredores.
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OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
p.s. Cris voltou a pensar em voltar, estou quase a convencendo!