Lou, foi um erro de digitação no outro cap, a Susi já conserta, você tem razão quanto as quilômetros.
Galera, aqui tem um caso de parada cardíaca, quase o mesmo caso da fic, só para vocês verem que é posível. Aqui
__________________________________________________________________________________
Parte 3
cap beseado na música Erase And Replace - Cinema Bizarre
música
Você apaga
O que você está pensando?
Você substitui
O que você sente?
Aeroporto Internacional de Calgary - horário de pico - 18:55pm
Cristine
Não havíamos nos falado ainda. A única coisa que nos conectava eram nossas mãos entrelaçadas, enquanto corríamos em busca de qualquer vôo saindo para Berlin. A minha mala estava em mãos, ele havia transpassado a dele no ombro. Queria ter dito alguma coisa que o confortasse, mas no meio de tantas pessoas transitando ele não me ouviria.
E a cada segundo, eu ficava imaginando como seria ver a cena dele vendo o irmão morrer.
- Vai naquela! - apontei pra fila ao lado, enquanto eu estava na outra, para procurar alguma passagem. Foi somente naquele momento que estávamos separados por cordões que vi seus olhos vermelhos, seus pulsos fechados ao máximo. Deus, o que eu poderia dizer?
- Senhora... sua vez.
- Sim, eu... - puxei o Visa International da carteira, colocando no balcão - duas passagens pra Berlin, pra agora.
- Só um instante - enquanto ela conferia, Tom voltou para o meu lado. - O que foi?! - Tive de gritar.
- Não tem ali também... meu Deus, eu TENHO que voltar!
- Calma, não se desespera agora... moça, achou?
- Tenho um lugar no vôo das 19:15, classe executiva. Para duas pessoas só daqui duas horas.
- Merda - ele xingou, dando um soco no balcão.
- Tom, seu passaporte.
- Que?
- Vamos! Vou comprar pra ele.
- Não, eu não vou...
- Tom, me escuta. Você tem que ir.
- Cris - ele ameaçou voltar a desabar.
- Eu vou duas horas depois, tá? Eu estou bem atrás de você.
- Cristine.
- Tom! Ajuda, porra!
- Tá - ele virou o rosto e saiu, não queria deixar eu ver suas lágrimas.
Você sabe como dói
Quando você perde alguem que ama?
Você desperdiça seu tempo com raiva
Resíduos de sua vida com medo
Tivemos de correr mais uma vez para passar a mala pelo raio-X. Ele me puxou pra perto, me deu um beijo desesperado.
- Você vai ficar bem?
- Embarco no das 21:25. Eu vou ficar bem. E você?
- Eu ainda não sei... Cris eu... tenho que te... contar uma coisa.
- O que?
- Você vai me odiar o resto da vida por isso.
- Tom...
- Senhor, seu vôo já está saindo! - A aeromoça alertou.
- Depois você fala - disse, dando um último abraço.
- Eu sinto muito mesmo - ele disse antes de entrar.
Fiquei acuada, confusa. Porque eu o odiaria, porque?
Fui até a grande janela da pista de embarque, me sentei num banco ali perto, com a mala entre as pernas. Me ajeitei no sobretudo dele, eu amava aquele sobretudo, ele havia jogado em meus ombros assim que pulamos do taxi ao chegar no aeroporto. O avião sumiu nas densas nuvens brancas, e fiquei prendendo a respiração por mais alguns segundos. Nem reparei que estava chorando, mas dormi ali, entre tantas pessoas que torciam para o tempo se manter firme para que nenhum vôo fosse cancelado. Me acordaram avisando que já estava na hora de embarcar. Assim que sentei, a aeromoça perguntou se eu desejava algo.
- Só um pouco de café bem quente, por favor. - Sussurrei.
O avião decolou, e senti o frio na barriga. Depois de tomar três goles do café, minha cabeça voltou a pesar, e só acordei quando estávamos sobrevoando a Inglaterra, como o co-piloto avisou do rádio.
- ... e a sua esquerda podemos ver a Terra do Rei Charles e do Príncipe Willian, ambos agora devem estar no Parlamento... Você sabe o que isso significa
Quando a história acaba?
Você simplesmente não pode ajudar a esconder
Você não pode dizer o que você sente
Bill
Voltei a escutar meus fracos batimentos cardíacos sendo monitorados. O ar-condicionado parecia transmitir o calor do verão, que ainda demoraria muito pra chegar.
Eu sobreviveria a mais um verão?
A porta foi aberta.
- Não...
- Senhora, tem que ser forte por ele agora.
- Não me peça isso - minha mãe veio até mim, senti ela mexer no meu cabelo - como eu vou viver sem você meu anjo, como?
- Como ele está? - Gordon perguntou, quase não escutei sua voz.
- Esteve pior. A pressão do trauma que sofreu fez com que o órgão se esticasse tanto que a artéria ameaçou romper - Myllena explicou. Mais uma vez a porta foi aberta.
- Doutor... - minha mãe pigarreou.
- Senhora Trümper... vamos conversar lá fora.
Minha mãe deu um beijo em minha testa antes de partir. Queria tanto dizer a ela que a ouvia, que eu estava vivo, não importasse como.
- Hei, rapaz, sou eu - disse Gordon - Bill eu... não sei o que te dizer. Nunca esperávamos que um rapaz de 26 anos passasse pela metade do sofrimento que você está passando agora. Olhe, a sua mãe... nós sabemos como a Simone funciona, não é? Mas desta vez, ela não vai conseguir ser aquela forte muralha que conhecemos. Eu queria mesmo poder... - ele parou de falar. Escutei claramente o grito da minha mãe, e ele saiu, batendo a porta.
- Bill, calma, por favor - Myllena sussurrou quando viu meus batimentos acelerados - o doutor teve que contar. Sinto muito, mas ela... já sabe que você... era pai.
Fiz um esforço para abrir os olhos, mas eles estavam colados com fita crepe. Myllena pegou em minha mão, e não permitiu que uma lágrima rolasse por inteiro do meu rosto.
- Não chora, Bill. Eu sei como é, mas não chora agora. Porque quando sua mãe voltar para este quarto, tudo o que ela vai querer é pensar em você ainda está inconsciente.
Respirei entre os dentes, e senti que estava relaxando quando Myllena aplicou mais uma dose de sedativo no soro.
- É uma dose pequena, só pra você relaxar. Tente dormir. E espero que quando acordar possa haver luz pra você.
Existem muitas maneiras de se perder
Quando o amor sangra em mentiras
Apaga e substitui
Agora, o que é real?
Tom Kaulitz estava completamente exausto.
Havia acabado de sair de um vôo que quase 15 horas sem pregar o olho um segundo sequer, evitando até mesmo piscar. Havia mandado uma mensagem para Birget, e acabara com as unhas esperando a resposta. Quando seu celular apitou, ele quase pulou da poltrona.
“Nossa Kiel” está a caminho
Tomara que dê tempo
B. Tomara mesmo, ele pensou.
Ficou pensando em Cris. Como ela iria enxergá-lo a partir daquele momento? Ele já havia feito tantas coisas erradas na vida, mas nunca fora tão longe, tão inconseqüente... e talvez aquilo custasse a vida do seu irmão.
Não! Eu nunca vou me perdoar se isso acontecer! Por favor, Bill. Não vai ainda... Quando chegou no aeroporto, tudo estava um inferno.
Com um dos aeroportos ainda sendo reformados pelo atentado terrorista quase dois meses antes, o Berlin-Tegel fervia. As férias estavam para chegar, e com elas, as primeiras nuvens cinza carregadas. Não havia sequer uma pessoa que passasse pela pista de pouso e não olhasse para o céu, esperando ver o primeiro floco de neve. Mas, ao contrário do Canadá, parecia que a neve só iria chegar em Dezembro.
Ele foi para fora, tiritando de frio, havia deixado seu sobretudo com Cristine. Assim como vários outros, tentava pegar um táxi, mas parecia estar impossível.
- Merda! - Xingava entre os dentes toda a vez que alguém conseguia antes dele. Só foi pegar um 27 minutos depois.
- Oi chefia! É só essa mala?
- É! - Ele pulou para o banco de trás, sentindo-se grato pelo táxi ter aquecedor - toca pro Hospital Universitário, agora!
- Pó deix... hei, você é...
- É, isso aí! Agora pode ir?
- Nossa cara, minhas filhas não iam acreditar - ele falava e fazia a balisa ao mesmo tempo, entrando na pista a 70km/h - elas tem todos os CD's de vocês. Você é o preferido da minha mais nova, a Laurie.
- Hum - ele autografou o verso do recibo da bagagem - toma, pra sua Laurie.
- Poxa cara, valeu! - O taxista parecia ter 40 anos, mas com uma linguagem de um rapaz de 18 - deve ser o sexto autógrafo dela de vocês, mas ela vai amar mesmo assim.
- Sexto? - Ele se impressionou.
- É, elas já foram a vários shows, e naqueles lugares que vocês ficam assinando CD...
- Sei - ele tentou pensar quando seria a próxima vez, se esta existisse.
- Olha, são elas - o taxista abriu o porta-luvas. Uma foto de duas garotas que deviam ter 14 e 16 anos, as duas sorrindo, sentadas dentro do táxi, naquele mesmo lugar que ele estava. Eram bem ruivas, com sardas perto do nariz, com olhos verde-vidro.
- São belas meninas, mas infelizmente não lembro delas.
- Eu imagino - ele pegou a segunda pista costurando atrás de um caminhão sem diminuir a velocidade de 90km/h - são muitas garotas. Mas elas se lembram de você. É seu irmão no hospital?
- Sim - ele fraquejou na voz.
- Hei rapaz. Fale pra eles da Laurie e da Beth. Elas estão torcendo por ele, assim como a Europa inteira.
- Eu sei.
Dois minutos depois, Tom descia do táxi. Ele teve de jogar a nota dentro do carro, o taxista não queria 25 euros de troco de jeito nenhum.
- Hei, mais uma coisa! - Ele gritou, fazendo Tom voltar - a banda. Vocês acabaram?
- Não. - Ele disse, convicto.
- Mesmo?
- É. E se alguém duvidar disso, mande escutar Wir Sterben Niemaus Aus. Vão entender.
- Boa sorte!
- Valeu.
A recepção não estava tão cheia quanto ele imaginava. Quando chegou sua vez, a recepcionista quase deixou o telefone cair.
- Bill Kaulitz. Qual é o quarto dele?
- S-s-s... sexto andar, senhor. Ele está no quarto 302, mas ainda com os aparelhos do CTI.
- OK, obrigada.
Tente não pensar em seu irmão entubado...
O elevador foi subindo. Com a garganta seca e os olhos molhados, ele se lembrou de tudo aquilo que já haviam feito juntos. Tom não queria casar com Cris e ter uma vida feliz se seu gêmeo - sua metade - também não tivesse. E somente Tom poderia mudar isso.
Sua mãe estava tentando ser contida por Gordon, enquanto uma enfermeira tentava se aproximar com uma seringa. A imagem fez com que toda a tristeza que sentia se transformasse em ódio puro.
- Se afasta dela, AGORA! - Sua voz forte ecoou no corredor.
Ele foi correndo. Sua mãe o abraçou de joelhos, molhando seu pescoço de beijos e lágrimas de sangue. Ele ficou abraçado com ela até que conseguisse parar de tremer, e se acalmou meia hora depois.
- Mãe.
- Eu não posso mais, Tom, não posso...
- Tom? - Ele olhou para trás. Gustav estava com cara de espanto, e Georg parou de respirar.
- Ele... - ele negou com a cabeça.
- O que o médico disse?
- Se não o transplantarem... ele vai morrer em poucos dias. Mas se tentarem fazer a cirurgia agora ele morre antes de conseguirem terminar o procedimento. Cadê a Cris?
- Não tinha mais nenhuma poltrona, ela deve chegar... amanhã, não sei.
- Você está com cara de cansado.
Tom riu pelo nariz, colocando uma mecha do cabelo da mãe atrás da orelha.
- Não chora, senhora Trümper, eu vou consertar tudinho.
- Porque você sempre diz essas coisas?
- Porque sou seu filho mais esperto! – Ele a conseguiu fazer sorrir,
que ótimo – não perca a Fé. Agora não, eu juro que vai dar tudo certo, vai sim.
- Confio em você. Só ainda não confio em minha própria força, amor.
- Não exija demais de você. Gordon?
- Fala, rapaz.
- Leva a moça pro banheiro pra ela lavar o rosto. Eu vou lá ver o carinha.
Ele ajudou a levantar a mãe, e assim que ela foi, ele pegou a mala. Antes de entrar, foi até o bebedouro, precisava de um pouco de força para o que iria acontecer.
- Hei, cara – disse Georg – como está?
- Relaxa. E as meninas?
- A Danny está lá em casa com a Lana – Gustav enfiou as mãos no bolso da calça – ela queria estar aqui, ela só não...
- Não podemos forçá-la agora. Pensa no carinha de vocês dentro dela.
- É menina.
- Sério?!
- É. O que a gente queria.
- Cara, quero só ver daqui 20 anos. A Laurinha tem potencial pra ser uma beldade Listing, e se tua filha puxar a mãe então... é, sem folga pros seguranças até estarem casadas!
- Yeh! – Georg concordou, dando um tapa em suas costas – e aí, vamos vê-lo?
- Ta.
Isso é tão difícil de esquecer
Quando você simplesmente não pode
Você precisa de algo em que acreditar
Mas você não pode voltar no tempo
Bill estava melhor desde a última vez que Tom o havia visto num hospital. Desta vez seu rosto não estava coberto de cortes, ele não estava pálido. Ele parecia tranqüilo, com a mão esquerda repousando no peito. Tom virou-se para os aparelhos. Ele estava estável, pelo menos.
- Sabe quando a gente prometeu sempre estar junto, não importa como? Lá no inicio de tudo?
- Sei, Gus.
- Não queria... não esperava isso. É o momento mais feliz da minha vida, mas não consigo sorrir. É um dos meus três melhores amigos, e não me sinto tão... impotente.
Myllena, que estava no canto do quarto, pediu licença, e saiu. Georg se aproximou do ouvido de Bill, tentando conter a tremulação na voz.
- Eu quero que meus filhos cresçam correndo pelo backstage que tanto conhecemos, invadindo o camarim, arrebentando as cordas das guitarras do Tom...
- Porque não os seus baixos?
- Eles detestam guitarras, mas amam baixos!
- Gêmeos malvados...
- Quem fala – Gustav disse, rindo.
- Então Bill, como eu... – Georg parou de falar. Ele estava tentando esboçar um sorriso – ele está nos ouvindo!
- Claro né. O Bill não é surdo, né mano? – e Bill conseguiu firmar o riso.
- Bill. Nós ainda estamos aqui, nós quatro. Nunca saímos, nunca paramos, nunca acabamos. Vamos cara. Eu não to mais afim de me aposentar.
- Mesmo com quase 30?
- Vá à merda, Tom! – Os três riram. – Bill, você sabe o que eu quero dizer, não é? Não vai ser fácil, mas não é impossível. Você vai sair dessa carinha, eu sei que vai. Porque você é indestrutível, como nós. Estamos aqui esperando ver seus olhos abertos. Até logo.
- Caras eu... tenho que ficar um pouco a sós com ele, ta?
- Claro, Tom. Nós estamos no corredor.
- Valeu.
Tom puxou uma cadeira, suspirando alto. Já havia anoitecido, e seus olhos pesavam, implorando sono. O sofá-cama tinha a impressão de ser a melhor cama do mundo, seus ombros doloridos e rígidos indicavam isso.
- Hoje já foi demais. Dorme, eu falo com você pela manhã. Mas eu... já estou pedindo seu perdão desde agora. Me desculpe, sério.
Quando Simone voltou, encontrou seus dois meninos em alto sono. Tom estava debruçado na maca de Bill, a boca entreaberta, tossindo. Simone tentou fazê-lo sentar direito, e por tocar nos seus ombros, o filho reclamou dor, voltando a tossir.
- Dorme no sofá, querido.
- Não, eu tô bem...
- Acho que você vai ficar resfriado.
- Se eu tiver sorte... e ele?
- Do mesmo jeito. Não quer ir pra casa e dormir?
- Não. Eu tenho que estar aqui. Mas aceito o sofá, ainda não sou de ferro como ele.
- Você que pensa – disse Gordon.
Tom jogou a manta de lã em cima da cabeça, e dormiu quase instantaneamente, escutando as constantes batidas do coração de Bill.
Não é verdade que você ganha
Mesmo se você perde
As coisas que realmente importam
Elas estão sempre em sua mente
Cris
Parecia que eu pesava 200 quilos.
Os outros passavam por mim, batendo no meu ombro, quase me levando junto com sua pressa constante. Eu só queria acordar dali 5 minutos e descobrir que tudo não havia passado de um sonho.
- ... hei, espera!
- ... olha ela ali.
Que, fotógrafos haviam me achado?
- Ta surda, garota?
- Georg! Mas o que... oi Gustav.
- Viemos te buscar!
- Que horas são?
- Onze e meia da manhã de terça.
- Caras... acho que fui atropelada, só pode....
- Vem, dá aqui sua mala – Georg a tirou da minha mão.
Meu pequeno pesadelo realmente aconteceu. Assim que chegamos no carro de Gustav, uns 5 paparazzis apareceram, todos falando ao mesmo tempo, empurrando câmeras no meu rosto. Gustav me protegeu, avançando na minha frente, enquanto eu ficava sem ação ao ver Georg praticamente esmagar o maxilar do paparazzi mais próximo.
- Seu... você quebrou meu queixo!
- Me processa! To louco pra te esganar num tribunal!
- Entra, Cris! – Gustav me colocou no banco de trás, enquanto ligava o carro. Georg pulou pro carona, e Gustav saiu cantando pneu, enquanto os ávidos fotógrafos continuavam, sem ligar para o companheiro que gemia de dor no chão.
Ficamos em silêncio. A mão direita de Georg havia ficado vermelha, ele estava com uma expressão raivosa, abrindo e fechando a mão toda hora.
- Valeu, Gee.
Ele suavizou a expressão, me olhando pelo retrovisor.
- Família é pra essas coisas.
- Sabe, é por causa disso que a Daniela te ama.
- Como?
- Seu jeito agressivo para proteger quem você se importa.
- E a vontade de quebrar a cara de um desses otários não conta?! – Rimos.
- Como ele está?
- Nos ouvindo – disse Gustav, sem tirar os olhos do trânsito. Foi a última coisa que dissemos antes de chegar.
- Nós não te contamos uma coisa – disse Gustav, enquanto íamos até o andar do quarto.
- O que?
- Seja forte, Cris.
- Porque, Georg?! O que aconteceu? Gente, falem.
- Simone quer falar com você. Ela está te esperando na cafeteria.
A reconheci, de costas para a entrada. Estava sozinha, com uma xícara entre as mãos, os ombros encurvados. Os meninos ficaram na entrada, enquanto eu caminhei até lá, sem ter certeza se queria mesmo ouvir.
Simone estava com um olhar perdido, triste. Peguei sua mão, ela mal reagiu. Um papel dobrado e amassado estava em cima da mesa, ela indicou que eu o pegasse.
- Tomara Deus que você já saiba. – Aquela voz, aquela frase... me gelou.
Resultados de exames da Glória.
Ela estava condenada.
Mas ela... ia ser mãe?
Parei de respirar ao ler. Minha cabeça deu uma pontada na mesma hora, e me lembrei de quando a havia visto viva pela ultima vez, horas antes de morrer. Seu eu tivesse ficado. Se eu tivesse impedido. Se nós soubéssemos da verdade...
Mas eu não podia consertar os erros do passado.
Eu não podia voltar no tempo.
Eu não podia mais segurar as mãos dela bem firme e a impedir de morrer.
Porque nada mais dela existia.
Foi estranho, mas não consegui chorar, ou ter alguma reação. Simone tentou falar comigo, mas somente me levantei. Passei pelos meninos, corri até o térreo. Peguei um dos táxis que sempre ficavam parados ali perto.
A lápide dela estava com flores novas sempre. O branco do mármore contrastava com o cinza do clima. Perto de mim outras pessoas tinham quem visitar, mas naquele momento, somente eu estava ali. Queria somente uma resposta dela.
- Você sabia?... Glória, você sabia? Você tentou voltar? – o vento me respondia com o silêncio.
- Eu queria que você soubesse que... eu faria de tudo pra consertar as coisas. Mas nós não sabemos o quanto ele ainda pode durar. Se ele não conseguir... que vocês dois consigam descansar em paz. Porque eu não consigo, irmã. Me desculpe por pensar assim, mas... você não tinha o direito de partir e nos deixar.
O tempo parecia mudar. Ficou mais escuro, o vento frio aumentou, o ar ficou úmido.
- Não tinha direito...
Tom já estava de pé. Ainda não havia se alimentado, mas não que sentisse algo além da ansiedade. Suas mãos estavam fechadas em punho. Ele não tinha certeza se Bill podia o ouvir ou reagir. Mas era a sua chance.
- Vai me perdoar algum dia?
E seu irmão continuava inerte, somente respirando fracamente.
- Eu amo você, Bill. E é por isso que te poupei, até agora. Me desculpe se tentei controlar tudo, se tentei tornar as coisas perfeitas. Eu não esperava que você ficasse sabendo, na verdade... nenhum de nós. Mas você não pode partir, porque... não tem mais motivos pra isso.
Ele voltou a olhar para os aparelhos. Será que eles iriam começar a apitar? Ele iria descobrir em breve.
- Bill... Eu a achei.
- Tom! – Georg entrou, abrindo a porta com tudo.
- Que houve?
- A Cris. Ela sumiu.
E ele sabia onde ela estava.
- Ela sabe a verdade?
- Sim.
- Cuida dele. Eu já volto.
Cris
Eram as últimas chuvas, mas nunca haviam sido tão fortes. Estava encharcada ate os ossos, não enxergava meio metro a minha frente. Estava petrificada, as mãos apoiadas nos filetes da grama. Eu queria me mover, só não me lembrava mais como. Alguém chegou, colocando um guarda-chuva em cima de mim.
- Me deixa Tom, por favor.
- Nossa! Então é assim que você me trata?
Comecei a gargalhar, mas rir mesmo. Era tudo tão absurdo e ao mesmo tempo, real...
- Cris pare com isso, vamos.
Era impossível não rir. Mas percebi que estava ficando histérica.
- Abra seus olhos.
- Cala essa boca, Glória! Para, sai da minha cabeça já!
- Cris...
- PARAA!... Para agora, para, por favor...
- Cris.
- Sabe de uma coisa? – Abri os olhos. E ainda não acreditava no que via – você devia ir embora, agora.
- Não está vendo que eu estou tentando ir? Mas não posso te deixar nessa chuva.
- Vá pro inferno, imaginação.
- Já vi que vai ser difícil, não é?
- Acha que engana com esses cortes no rosto, essa mão engessada, e seu olho roxo? Você morreu Glória.
- Eu estava morta. Mas agora é sério, não podemos ficar aqui.
- Eu odeio tanto você – disse, a ponto de explodir.
- Mas é claro que odeia.
Então ela me abraçou.
E seu senti.
O calor do corpo, o tocar, o coração pulsando alto.
E a ultima coisa que senti antes de apagar foi que ela não me deixou cai com a cara na grama.
Você continua procurando por algo
Agora, o que é real?
____________________________________________________________________________
Tuuudo bem! só pra esclarecermos foi nossa piadinha particular, desde o primeiro capítulo da primeira temporada era pra ser assim
Não estão bravas, né??
É TUDO IDÉIA DA SUSI SE EXPLICA MULHER!!