Eu sei, eu sei que eu disse que só ia postar amanhã ou depois de amanhã, mas a minha vontade de começar a postar essa fic é tão grande que eu não respondo por minhas ações uq e.e
Então, lá vamos nós denovo, espero que vocês gostem
PS: só para lembrar a vocês que nessa fic, Tom, Bill, Georg e Gustav não são famosos.
A porta da pequena cafeteria se abriu, fazendo tilintar o pequeno sino em cima da porta. Tom ergueu os olhos, enquanto baixava a xícara de café fumegante. Observou por alguns segundos a bela e tímida moça loira sair do lugar e se deter logo adiante por causa da chuva, embaixo de um pequeno e elegante toldo vermelho preso acima da porta.
Apreciando mais um gole de café quente, que descia quase queimando sua garganta e contrastando violentamente com aquele frio devastador, ele admirou a mulher mais uma vez. Ela possuía feições fortes, e curtos cabelos louros que se agitavam com a ventania. Vestia roupas de frio, e carregava duas sacolas que pareciam estar lotadas.
Havia alguma coisa em seus olhos... Algo que Tom não sabia definir, mas que o atraira profundamente desde que ele a viu pela primeira vez quando entrou na quente e aconchegante cafeteria. Talvez fosse timidez, seriedade. Uma aura de grande reserva pairava em torno dela. Isso o intrigara de maneira tão intensa, que ele percebeu que sentia vontade de conhece- la. E agora, sua única oportunidade estava à sua frente, enquanto a garota loira estava parada em frente à porta da cafeteria e afundando o queixo no cachecol escuro para se proteger do frio.
Como que atraído por um estranho magnetismo, Tom deixou o dinheiro em cima da mesa, ao lado da xícara de café que apesar de vazia, ainda fumegava. E então levantou- se e foi até a porta. Quando a abriu, esperava que o barulho do pequeno sino sobre a porta a fizesse se virar e olhar para ele, mas ela não se virou.
Ele chegou mais perto dela, enfiando as mãos nos bolsos e enterrando o queixo na gola de seu sobretudo preto, tentando bloquear as rajadas de vento gelado que se chocavam agressivamente contra o seu corpo. Quando estava mais perto, sentiu o cheiro de seu perfume, discreto e ligeiramente doce.
Ele se postou logo ao lado dela, e a mulher o olhou ligeiramente. Quando ele sorriu, ela devolveu o sorriso discretamente, e olhou para o chão logo em seguida.
Procurando aquecer- se mais, ele apertou os braços ao lado do corpo. E então, falou com ela.
- Oi.
Ela olhou para ele, parecendo assustada. Mas quando viu que ele sorria simpaticamente, tranqüilizou- se e o olhou nos olhos, também sorrindo:
- Olá.
- Como você vai? – Disse Tom, sorrindo. Percebeu que a garota deteve- se por um momento em seu piercing nos lábios antes de responder:
- Vou indo bem... – Ela disse olhando para ele, analisando- o. - Você parece com frio. – Ela disse sorrindo e apontando com o queixo para Tom, que estava imóvel e tinha os braços praticamente colados junto ao corpo.
- Eu? Claro que não, eu não sinto frio. Eu sou como...
I am the Superman , you know. Não tem essa de frio. – Ele deu de ombros, sorrindo. E como que para o trair, seus dentes começaram a bater.
A garota riu, e revirou os olhos. Depois, olhou para a chuva e soltou um suspiro cansado.
- Você está esperando alguém? – Ele perguntou, tentando fazer com que o assunto parecesse o mais casual possível.
- Só esperando que essa chuva passe logo. – Ela disse, sorrindo de maneira paciente.
- Mas... Porque você não vai de táxi? – Tom apontou com o queixo para um ponto de táxi do outro lado da rua, onde alguns taxistas se aconchegavam dentro de seus carros com aquecedor.
Ela sorriu e olhou para o chão, tímida.
- É que... Eu não tenho dinheiro.
Ele olhou para ela surpreso, e chegou mais perto. Ela ergueu os olhos, parecendo apreensiva com a aproximação de Tom. Ele parou ao seu lado, e abaixando a cabeça novamente por causa do frio, ergueu os olhos para ela e disse, abrindo um sorriso:
- Deixe que eu pague para você.
- Não precisa, obrigada. A chuva vai passar, eu não quero tirar o seu dinheiro. - Ela disse, sorrindo de maneira conformada.
- Tudo bem. – Ele disse.
Tom cruzou os braços e olhou para as nuvens no céu. Tudo estava preto, e um relâmpago acabara de rasgar o espaço acima deles.
- Mas parece que isso aqui vai longe. Vamos então fazer um acordo? Eu também preciso de um táxi. Eu pago por nós dois agora, e depois você me paga a sua parte.
Ela olhou para ele, erguendo as sobrancelhas.
- Sem pressa, pague quando você puder. – Ele disse, erguendo os braços na altura do peito e mostrando a palma das mãos, como que para mostrar que não havia pressão nenhuma quanto à devolução do dinheiro.
Como que para concordar com Tom, um relâmpago pior do que o anterior cruzou o céu, causando uma claridade que praticamente os cegou. Ela olhou para ele, que estava sorrindo como uma criança que havia acabado de perceber que ganharia uma disputa. E então, desistindo, ela aceitou:
- Você venceu. Vamos.
Ele riu com um ar triunfante, e ela revirou os olhos, achando graça.
Tom pediu para que ela esperasse embaixo do toldo sobre a entrada da cafeteira, e atravessou a rua correndo sob a chuva em direção ao ponto de táxi. Em poucos minutos, ele estava ensopado e tremendo dentro do carro, com os braços cruzados em frente ao corpo.
O taxi parou em frente à cafeteria, e a garota abriu a porta e entrou rapidamente. Depois de colocar suas sacolas no chão do carro, ela então virou- se para Tom e disse, sorrindo:
- Obrigada. Eu... Eu juro que vou te pagar assim que puder.
- Sério, não precisa se preocupar. – Ele disse, sorrindo afavelmente. Tom podia ver que agora, apesar de ainda estar um pouco retraída, a garota agora sorria amigavelmente para ele.
Os dois se entreolharam por alguns segundos, e então, sentindo que ela também havia demonstrado interesse, Tom resolveu falar:
- Eu estava olhando para você na cafeteria. Você é muito bonita.
Ela pareceu surpresa, e olhou para os joelhos timidamente, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.
- O... Obrigada. Você também...Também é muito bonito.
Ele sorriu, e ela o olhou nos olhos.
- Como você se chama? – Ele perguntou.
- Kadance. – Ela respondeu, passando a mão nos cabelos, sua face enrubescendo.
- Prazer, eu sou Tom. – Ele sorriu lindamente, estendendo a mão para ela. – Seu nome é muito bonito.
Ela apertou a mão de Tom delicadamente. Tom apreciou o toque de sua mão quente, que parecia ferver em comparação à sua enorme mão congelada. Kadance pareceu perceber isso também, e comentou sorrindo:
-
Superman? Mesmo? Sua mão está gelada! – E então, chegou mais perto de Tom, puxando as mãos dele e as colocando em seu colo, esfregando- as com as suas próprias para aquece- lo. Ele se deteve por um minuto, olhando seus olhos. Ela era linda, e aquele mistério em seus olhos ainda permanecia. Na verdade, agora era muito maior. Seus traços pareciam carregar tristeza. Ela parecia ter sofrido muito em algum momento de sua vida.
A chuva havia aumentado, e o táxi estava chegando perto de onde ela morava. Kadance ainda segurava as mãos frias de
Tom em seu colo quente. Quando o carro passou por um quebra- molas, as sacolas se agitaram e uma delas se abriu ligeiramente. Tom olhou de esguelha para seu interior, e pode ver ali várias caixas brancas. Caixas de remédio. As duas sacolas estão lotadas com vidrinhos de cápsulas?
Para quem seria aquele remédio? Antes que ele pudesse chegar a uma resposta satisfatória, ela puxou discretamente com o pé as duas sacolas para baixo de suas pernas.
- Chegamos. – Disse o motorista encostando o carro em uma rua, em frente a um pequeno prédio. Kadance olhou para Tom como quem se desculpa, enquanto ainda segurava suas mãos.
- Já disse que você não precisa se preocupar. Não vai fazer falta. Pague quando puder. – Ele sorriu, afagando delicadamente o joelho de Kadance.
- Eu sei que já agradeci, mas obrigada de novo. Se não fosse por você eu estaria lá até agora. – Ela sorriu timidamente.
Então, retirou de maneira delicada as mãos de cima das de Tom, e pegou as sacolas no chão do carro. Quando ela ia abrindo a porta, ele a chamou.
- Ei, Kadance.
Ela se virou e olhou para ele.
- Eu posso voltar a te ver? Por favor.
Kadance olhou para aquele garoto, sorrindo. Viu como ele era bonito, e sentiu- se atraída pelos seus músculos que se evidenciavam ligeiramente sob sua roupa de frio. Mas o que mais a encantou nele foi algo além disso. Foi a vontade de viver que ele parecia emanar. Sua energia era algo que contagiava um ambiente, e era disso que ela precisava. Imediatamente ela se sentira bem perto dele. E então, convencida de que queria voltar a vê- lo novamente, falou, sorrindo:
- Claro. Venha cobrar o que eu te devo quando quiser.
Ele sorriu, e seu semblante se iluminou.
- Vou vir te ver amanhã então.
Ela assentiu calmamente, antes de fechar a porta do carro.
- Até amanhã Tom.
O carro deu a partida, e Tom virou- se para ver Kadance correndo até a porta do prédio e apertando o interfone impaciente. Segundos depois, a porta se abriu e ela entrou, carregando suas sacolas.
Quando virou- se para frente de novo, Tom não pode deixar de pensar em quem deveria ser a pessoa com quem ela falou ao interfone. Será que ela morava com alguém? Será que ela já possuía outro homem? Ele desejou com todas as forças que a última pergunta não fosse verdade, porque ele queria tanto voltar a vê- la.
Então, enquanto voltava para casa, ele começou a olhar de maneira vaga para a chuva lá fora, e a pensar incansavelmente no mistério do olhar de Kadance e em como aquela mulher parecia haver despertado alguma coisa que estava desacordada havia muito tempo dentro dele.
Kadance mal havia chegado em seu apartamento e já sentia vertigens, que com certeza eram conseqüência da gripe que deveria ter acabado de pegar. Apenas o pouco tempo em que passara na chuva já havia sido o suficiente para fazer com que ela chegasse em casa encharcada da cabeça aos pés e com os dentes batendo de frio.
Completamente exausta, ela pegou as duas pesadas sacolas com comprimidos e levou- as para o seu quarto. Deitada em sua cama, Marie, uma japonesa esguia e também sua melhor amiga desde a infância, pintava as unhas.
Kadance abriu uma gaveta em sua estante e ali foi despejando ruidosamente o conteúdo das duas sacolas. Marie deteve- se para olhar para ela, dizendo:
- Você sabe que se não tiver cuidado com isso vai precisar encarar outra fila gigantesca naquele hospital nojento, não sabe?
Depois que a gaveta estava cheia, Kadance a fechou e jogou as sacolas em um canto, indo se sentar ao lado de Marie.
- Sei.
- Então por que você não toma cuidado? Você não pode ficar enfrentando essas filas o tempo inteiro, você sabe que isso vai te deixar exausta.
Marie parou de falar quando olhou para os cabelos e para as roupas de Kadance, que estavam pingando.
- Olhe para você, está ensopada da cabeça aos pés! Você quer morrer? – Ela disse, se levantando e puxando a amiga pelo braço em direção ao banheiro. – Sério, vai tomar um banho quente, eu vou trazer algum agasalho.
Kadance ligou a ducha, e virou- se para olhar para Marie. Quando viu a expressão alterada da amiga parada ao seu lado, sorriu e disse:
- Marie, você sabe que não precisa cuidar de mim como se eu tivesse catorze anos, não sabe?
Marie revirou os olhos. Era inacreditável como Kadance era incapaz de se preocupar consigo mesma.
- Você age como se
tivesse catorze anos, não vinte! Age como se não soubesse que é mais frágil do que a maioria das pessoas. Age como se não ligasse para o fato de que pode morrer se não se cuidar. E o principal de tudo, é que você age como se não soubesse o quanto você me faria falta se fosse embora.
Kadance olhou para a amiga, que tinha os olhos molhados e vermelhos. Tinha visto esse filme por vinte anos. Era sempre isso que acontecia quando Kadance se descuidava por um segundo sequer. O que seria de sua vida se Marie não estivesse lá para cuidar dela? E então, compreendendo a preocupação da amiga, sorriu para ela.
- Não se preocupe Marie. Eu prometo que estou me cuidando. Isso foi só um acidente.
Marie enxugou uma lágrima, e olhou para o chão. Kadance a abraçou, e Marie, com a cabeça enterrada em seu ombro molhado, disse:
- Me desculpe, eu não queria ser grossa. É que eu te amo muito. Você é minha irmã, a única coisa que eu tenho. Não quero te perder por causa dessa maldita doença.
Kadance não sabia o que dizer, então apenas a abraçou mais forte.
Marie olhou para ela e disse por fim, sorrindo de maneira triste:
- Eu vou pegar algo quente para você vestir. Vá tomar um banho logo, você está gelada.
- Tudo bem Marie. E depois, eu tenho uma coisa para te contar.
Marie, parecendo curiosa, saiu do banheiro. Logo em seguida voltou trazendo um moletom preto. Olhou para Kadance, que já havia começado a se despir das roupas molhadas e falou:
- Vou esperar aqui fora. Estou curiosa. – Ela riu, já parecendo menos nervosa, e então desapareceu quarto adentro.
Por mais quente que a ducha estivesse, Kadance ainda tremia de frio. Não deveria ter saído de casa quando o clima estava tão louco. Era justamente nesses dias que ela poderia facilmente pegar uma gripe que a devastaria. Mas como era teimosa, não aceitou a ajuda de Marie, que havia se oferecido para pegar os remédios no hospital. Ela se perguntava às vezes se algum dia essa teimosia a mataria.
Quando terminou de tomar seu banho, secou os cabelos com um secador e vestiu o pijama preto e quente que Marie havia trazido. Quando saiu do banheiro, a amiga estava sentada em sua cama, e olhava para ela curiosa.
- E então, não vai me contar? – Ela disse, enquanto Kadance se jogava na cama ao lado dela, sorrindo de maneira radiante.
Kadance olhou para Marie, fazendo um pouco de suspense.
- Conta logo. – Marie sorriu, agitando- se nervosamente.
Kadance suspirou, e então prosseguiu:
- Eu conheci um garoto. Era isso.
Marie arregalou os olhos, e riu abertamente enquanto agarrava Kadance pelos pulsos e começava a implorar para ficar à parte da história.
- Me conta tudo, todos os detalhes, por favor. Como ele se chama? Você vai ver ele de novo?
- Calma Marie, calma. Eu vou te contar tudo. Foi o seguinte...
Kadance contou para a amiga a história toda, desde a hora em que havia conhecido Tom, até o momento em que ele havia prometido que iria voltar para vê- la de novo.
- Mas isso é incrível! Ele realmente parece estar a fim de você! – Exclamou Marie.
- Não vamos tomar conclusões precipitadas. Ele pode voltar querendo o dinheiro que eu fiquei devendo. – Disse Kadance, embaraçada. – E sem contar que... Nunca iria rolar.
Marie desfez o sorriso quando percebeu o desânimo da amiga. Olhou para ela com compreensão, e então perguntou:
- Você acha que nunca iria acontecer por causa da...
- Por causa da doença. Esquece. Ele nunca iria querer nada comigo depois que soubesse que eu tenho AIDS. – Interrompeu Kadance, que sempre sentia devastada por dentro ao admitir isso para si mesma.
- Mas Kady, existem tantas pessoas que convivem com isso normalmente, tantos casais que passam por isso...
- Marie, não vê que ele é jovem, que tem uma vida pela frente? Porque você acha que ele iria querer alguma coisa com uma soropositivo? Eu... – Lágrimas começaram a brotar do rosto de Kadance. – Eu já desisti de ter uma família. E não é justo, eu não fiz nada para merecer isso! Porque isso foi acontecer Marie? Por quê
comigo?Marie não sabia o que dizer, então apenas abraçou a amiga o mais forte que pôde.
Kadance chorou em seus braços até estar exausta o suficiente para dormir pesadamente. Marie só a acordou uma vez, para que pudesse tomar os seus remédios, e então deixou que ela dormisse até o dia seguinte.
De manhã, o drama da tarde anterior parecia ter passado. Marie estava pondo o café da manhã enquanto Kadance tomava a primeira dose de seus remédios do dia ao seu lado, quando o interfone do apartamento tocou.
Marie, segurando uma garrafa térmica com café e duas xícaras, tirou o interfone do gancho e o segurou entre o ombro e a orelha.
- Olá? Não, aqui não é ela. Ah... Só um momento.
Kadance, que estava ao lado da pia com um copo de água na mão, olhou para a amiga.
“Você vai atender? É... Ele.” Perguntou ela silenciosamente, com uma das mãos tampando o bocal do telefone. Kadance apenas estendeu a mão e pegou o interfone. Procurou acalmar- se um segundo antes de atender. Não queria que parecesse que ela era inexperiente com isso.
- Alô?