Chegamos lá e tudo o que víamos eram fãs e mais fãs. Eram garotas, mulheres e rapazes até onde podíamos ver. Não estou plenamente sã, mas creio que ficaremos láááááá trás e não dará para ver nada, mesmo sendo no camarote.
- Ahhh, só posso estar sonhando, um show do Tokio Hotel! – Andrew diz sorrindo.
- É, um sonho. – concordo alegremente.
- Aham, um sonho que vocês transformaram em pesadelo! – ele diz já irritado.
- Que? O que eu fiz? – Patrícia pergunta com inocência fingida – Foi a senhorita Vallori que ficou atrasando com o cara dos e-mails, com convites para James...
- Falando em James, coitadinhos, ele e Mollie terão que ficar lá trás!
- Junto com a gente? – Andrew pergunta emburrado.
- Mas eles nem são fãs do Tokio Hotel... – Patty diz.
- E nem você. – digo.
- Nem é verdade! Mas, onde eu estava? – ela pergunta já mudando de assunto.
- Estava tentando se livrar da culpa. – Andrew ajuda.
- Ah, sim... A culpa é só da Jessy. – ela conclui.
- Run, vocês não são pregados em mim, podiam muito bem ter vindo sem minha companhia. – dou de ombros.
- Aaaaaah, é assim que você nos trata depois de sermos tão companheiros?! Viu, Andrew?
- Que vacilooooooo... – digo debochada.
- Esquece ela. Temos que entrar logo!
- Como? – pergunto.
- ‘Como’? – Patrícia pergunta – Minha filha, esqueceu quem eu sou?
- Infelizmente, não dá... – Andy diz baixinho.
- Ah haá, muito engraçado...
- E qual seria sua escapatória para essa, Houdini? – Andrew pergunta cruzando o braço, Patty fecha a cara mais responde como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
- Furando fila, ora bolas... – ela revira os olhos – Vamos passar a perna neles, só.
- Ai, meu Deus...
- Eu topo! – Andrew me cutuca – Vamos lá Jessy vai ser divertido, além do mais você finalmente vai poder usar sua malandragem das ruas. – ele ri.
- Que malandragem das ruas? Tá me estranhando é?
- Ah, estou, malandragem das ruas é com a Mollie... - ele diz com a mão no queixo.
-Aff...
- O que é? Eu sempre quis vê-la em ação! – ele se refere as vezes que Mollie teve que roubar lojas no centro para poder comer.
- Deixa quieto... E então, o que vai ser Patty?
- Não sei.
- Como assim não sabe?
- Eu dou a ideia inicial e vocês aprimoram o plano... Eu hein, quer tudo mastigadinho! Assim seria fácil demais!
- Ai, ai.
Discretamente nós fomos chegando mais para frente, mais, mais e mais. Algumas pessoas tentaram inutilmente nos parar, pois quando nós três metemos na cabeça a ideia de passar na frente de todo mundo, nós passamos na maior cara-de-pau que tivermos! Não quero nem saber!
- E agora? – pergunto – Já chegamos à entrada, mas a partir daqui complica...
- Chega de ‘miguê’... – Andrew diz para Patty.
- Que? – ela pergunta.
- Chega lá puxando papo e na hora de entregar os ingressos, eu e Jessy chegamos! – Andrew explica.
- Por que eu?
- Porque você teve a ideia, nós aperfeiçoamos e agora você executa! Eu hein, quer tudo mastigadinho! Assim seria fácil demais!– eu repito o que ela diz, sabe na, se não irritá-la não tem graça.
- Se tiver outra etapa a cumprir, nós fazemos!
- Ah, tá! Não estou gostando disso não. – ela revira os olhos, insatisfeita.
- Você não tem que gostar, só tem que fazer!
- Que merda... – ela diz baixo.
Ficamos meio distantes e escondidos, só olhando a desempenho de Patrícia. Foi um clássico, não sei como o cara caiu nessa. Ela chegou devagar, ‘tropeçou’ e conversou com o cara. Simples, rápido, fácil e prático. Foi então que Andrew e eu decidimos nos aproximar.
- Quem são esses? – o rapaz perguntou já desconfiado.
- Ah, Jessyca, Andrew, procurei vocês em toda parte! – Patrícia diz com um sorriso falso.
- Aqueles seus amigos que você falou?! Ah, oi. – ele sorri, charmoso.
- Olhe, já está quase na nossa vez! – uma garota se aproximou – Quem são esses?
- Ué, fãs do Tokio Hotel que também estavam esperando para poder entrar... – ele diz.
- Ah, bem, achei que fossem furadores de fila! – nos entre olhamos.
- Também vão para o camarote?
- Lógico!
- Que bom.
- Nossa vez. – a garota diz balançando seu cabelo colorido.
- Ingressos. – um cara alto pede.
- Aqui.
- Camarote, sigam por aqui. – o cara aponta. O casal nos espera logo na frente.
- Aqui nossos ingressos. – lhe entrego os três convites que Bill me deu.
- Nem acredito que finalmente vamos entrar... – Andrew cochicha – E com quarenta minutos para começar o show!
- Huum... Vocês são Meet&Greet...
-
QUE? – Patrícia escandaliza – Não acredito que seu amiguinho nos fez trocar camarotes por esse Meet&‘Grest’! – Patrícia se revolta.
- É Meet&Greet! – o cara corrige.
- Tanto faz! Grr... – ela continua alterada – Que merda de Meet&Greet é essa? – Patty bate o pé.
- Nós... Vamos... Conhecê-los...? – Andrew não crê.
- Que?
- Meet&Greet significa que vamos conhecer a banda! – digo.
-
JUUUUUURA? – Patty berra.
- Er... Sim... – o cara alto responde revirando os olhos discretamente.
-
AHHHHHHH! – Patty pula – Vamoooooooooos! – ela nos puxa.
- Você são por ali.
- Não é junto com eles? – pergunto.
- Não.
- Hum, ahh... Valeu.
Depois de uma despedida muito meia boca, nós vamos para a área reservada para os ganhadores de um concurso.
- Caralho, chegamos por último e ainda temos uma visão mais privilegiada do que o pessoal que chegou primeiro! – Patty diz.
- Muito mais!
- Aqui é o pessoal que ganhou um concurso... – Andrew diz.
- Ah... – olho o pessoal animado e fico mais ansiosa pelo início do show.
- Ele é da equipe da banda? – Patrícia pergunta.
- Quem?
- Seu amigo dos e-mails... Ei, cadê ele? – ela pergunta com as mãos na cintura e batendo o pé.
- Já, já vocês vão vê-lo!
- Ahaaaam...
Minutos depois o show começa, é uma banda qualquer fazendo a abertura. Andrew está irrequieto, quer que os quatro alemães apareçam logo e que meu querido ‘amigo dos e-mails’, como eles gostam de chamá-lo, finalmente se revele. Admito que quero contar logo. Ficar com esse suspense está quase me matando... Odeio ficar assim entalada, quero gritar para todos que Bill Kaulitz troca e-mails comigo e que passei uma tarde maravilhosamente divertida e também constrangedora com ele!
- Jessy! Jessy! – Patrícia me cutuca – Acho que é agora que o gostosão do Tom vai entrar!
- Que?
- Vem, vem! – Andrew chama da beirada da grade de contenção.
Fumaça esbranquiçada e as luzes se apagam. Sim, está na hora! O som da guitarra de Tom vem cortante, acompanhado de gritos histéricos, inclusive meus e da Patty. Em seguida o baixo de Georg e logo depois a bateria de Gustav. Finalmente eles aparecem no meio da fumaça, com as luzes acesas, posso vê-los, todos eles. É uma sensação única, estar no show de uma banda que você tanto curte! Principalmente com as garantias que tenho de encontrá-los novamente, principalmente o vocalista... Ah, Bill... Suas calças apertadas, botas pretas, correntes e espinhos. Ele esperava até sua vez de cantar. Seu novo microfone brilhava em sua mão agora com as unhas pintadas de cinza. Como sou distraída, se não estivesse tão contemplativa teria percebido logo a música... ‘Noise’ bem como eu havia pensado.
-
MEU DEEEEEEEEUS! ELES SÃO TÃO PERFEITOS! – Patty grita, parecia que ela estava gritando para si mesma... Sabe, quando tem tanto barulho ao redor e você mal consegue ouvir seus próprios pensamentos? É, é assim nossa situação. Andrew não consegue tirar os olhos do palco, assim como Patty e eu até agora... Rapidamente volto minha atenção a ele.
Olhar penetrante, o famoso olhar matador, aquele que nenhuma mulher resiste... Foi de repente que aqueles olhos se viraram para mim. Certo, certo, não para mim, para o camarote... Parecia mais que ele estava me procurando. Tom se aproximou dele e sutilmente esbarrou com o braço da guitarra no irmão, que voltou o olhar para o resto do público.
- Será que ele estava procurando alguém? – Patty pergunta aos berros.
- Acho que sim! – digo.
Com angústia e ansiedade percebi que o magnífico show do Tokio Hotel estava no fim. Depois de tanto fogo e explosão no palco, eles deixaram um gostinho de quero mais em todos que estavam presentes. Sensacional! Acho que irei até o próximo show deles, nem que seja do outro lado do mundo!
Novamente perdida em meus devaneios, escuto Tom dizer ofegante em seu microfone que esta seria a última música do show. Repentinamente Georg diz que Bill insistiu para que essa fosse a última.
- Isso, de última hora ele preferiu mudar. – Tom diz no microfone – Quero saber por que tão de repente? – ele pergunta em tom maroto.
- Huum, bem, conversei hoje com alguém e esse alguém me disse que certas músicas nossas tem um som mais... Entoado. – Bill diz.
- Ah, e que músicas seriam?
- Ahhhm... ‘Noise’, ‘Pain of Love’ e a que vamos tocar... ‘Humanoid’...
- Em alemão certo?
- Certo, é a preferência... Vamos tocar então. – Tom diz sorrindo.
-
ELE NÃO É UMA DELICINHA? – Patty morde o lábio inferior –
HUUUUUM...- Imagina só, depois você vai ficar cara a cara com ele! – berro em seu ouvido.
-
AHHHHHHHHH!- Quem será esse alguém? – Andrew berra – Pode ser uma garota com quem ele esteja tendo um caso! – ele parece animado com a possibilidade de sua teoria ser verdade.
- Não, ele não está tendo um caso com esse alguém! – berro rápido.
- Ah... – ele para e me olha, aliás, os dois param e me olham – Como sabe? Hein, Jessyca... – tive a impressão de que outras pessoas me olhavam, esperando respostas, mas não quis confirmar minhas suspeitas e continuei a olhar para frente.
- Você supôs uma coisa e eu supus outra. – ignoro os olhares e volto a apreciar o restinho do show.
- Não, ele deve sim ter um caso. Escutou o que Tom disse? Que é a preferência... Pode ser a preferência desse alguém...
- Ou só a deles, ou do público.
- Sabia que seu amigo trabalhava para os rapazes da banda! – Patty diz só para mim, talvez ela também tenha percebido os olhares curiosos.
- Não é bem assim, ele não trabalha
PARA eles! – digo fechando a cara – Além do mais, você tem que se concentrar no show!
- Ahaaaaaam...
A ignoro e continuo a contemplá-los, sem nem querer imaginar uma situação diferente dessa.