That Day - Duas irmãs, um segredo.

Ao chegarmos na casa dela, que nos últimos anos era minha, os empregados a olhavam com amor, todos gostavam dela. As crianças não a reconheceram totalmente, fiquei quieta diante da reação deles, Lis chorava muito e logo que Bill apareceu ela correu pra falar com ele. Meu coração estava saindo pra fora ao imaginar os dois sozinhos na cozinha, eu sei que no fundo Bill ainda a ama, eu não queria admitir isso, ele era minha vida agora. Fui até a cozinha e os encontrei abraçados, disse a Lis que as crianças a chamavam e ela foi dar um passeio no jardim com eles. Bill estava chorando.

- Está chorando? Nunca te vi chorar antes.

- Lara, por favor!

- Ainda gosta dela?

- Ela acaba de sair de um coma de 3 anos, você não pode entender?

- Sim, mas achei que você a odiaria depois de tudo que ela te fez.

- Isso foi a 3 anos atrás, ela não tem memória Lara!

- Eu sei, mas...esquece...

- Vou embora.

- E as crianças?

- Vou levá-los comigo.

- Mas e ela? Já que acha que ela mudou porque não os deixa com ela?

- Oras Lara, ela está debilitada, seu corpo ainda dói, não vou deixar eles aqui por enquanto.

- Ok.

Ele estava seco comigo, desde o dia em que ela acordou. Eu passei todo esse tempo me dedicando a ela e quando ela acorda tira tudo de mim, tudo que eu tinha. Tentei não ficar com raiva dela, no fundo ela era só uma garotinha de 25 anos que tinha renascido. Bill foi embora e disse que mais tarde pegaria as crianças.

**

Narração de Lisa

Fui com meus anjinhos pro jardim, os empurrei no balanço e brincamos de montar um grande quebra cabeça,eles eram tão lindos, tão amáveis, me abraçavam tanto. Bill apareceu na porta da sala, e acenou pra nós...logo saiu.

Eu não sabia o que pensar, minha vida recomeçaria, mas da onde? Lara me olhava estranhamente agora ...eu não sabia o que acontecia antes, e durante a brincadeira resolvi conversar com as crianças sobre isso, alguma coisa eles me falariam. Ainda montando o quebra-cabeça.

- E ai meninos, vocês moram aqui só com o papai?

Mike - Não mamãe, a tia Lara mora aqui também.

- Ah, e vocês gostam dela?

Mike - Sim...eu gosto e você Bleno?

Breno – Eu também mamãe, ela da biscoitos pra nós todas as tardes.

- Que bom...e o papai, como ele é?

Mike – O papai e a titia namora, ele brinca com nós só de dia de semana.

- Namoram?

Breno começou a rir.

Breno – Nós já vimos eles dando beijos na cozinha, hihihihi.

Mike também riu. Eu dei um sorrisinho.

- Vocês são uns pestinhas mesmo hem.

Fiz cosquinhas neles tentando não demonstrar a confusão que estava em minha cabeça, e comecei a perguntá-los sobre a escola, amiguinhos, e tudo que uma mãe deve saber...me senti mal ao usá-los, mas...porque Lara não me contou que estava com Bill? E as crianças, encaravam aquilo com naturalidade!

Passei a tarde toda com eles, Lara saiu e não voltou até a hora que Bill chegou, eu estava na sala com eles, após tomarmos banho comendo pipocas e vendo filme na sala de TV. Bill ficou em pé por um tempo...creio que estava esperando que o filme terminasse.

Lisa – Porque não deita aqui com nós pra ver o filme Bill?

Mike – È papai, vem aqui.

Bill – Não, o papai vai comer alguma coisa, estou com fome, logo vamos embora.

Lisa – Embora pra onde?

Bill – Pra minha mãe.

Lisa – Mas...

Eu me levantei, e nós fomos até o corredor.

- Por que vai levá-los?

- Você não está em condições Lis.

- Mas e você? Não mora aqui?

- Não mais...

- Vai pra onde?

- Na casa de minha mãe.

- Queria falar com você, sobre algumas coisas...

- Sim Lis, vamos almoçar amanhã...

- Está bem, mas vamos almoçar fora? Quero respirar um pouco, ver a rua.

- Lis, acho melhor não...há muitos fotógrafos, e...se lembra deles?

- Fotógrafos? Não...não consigo...

- Ok, eu me disfarço, te pego amanhã na hora do almoço.

- Te espero.

Ele desceu e esperou as crianças para irem, logo fiquei sozinha de novo.

Cada passo que eu dava naquela casa me fazia lembrar de alguma coisa nova, isso era bom, mas ao mesmo tempo não era...em cada cômodo eu via uma coisa, mas a pior foi no banheiro do meu quarto. “Estávamos eu e ele no banheiro, eu sentada no vaso chorando, com os braços cheio de hematomas, ele encostado na pia gritando comigo, me dizia que eu não podia fazer isso conosco...o que eu fazia?”

Adormeci naquela noite, com muito medo de não acordar...

_ Acorda dorminhoca!

Abri os olhos e vejo uma senhora, loira com cabelos curtos, bem arrumada, com brincos bonitos. Quem era?

- Er...Bom dia! – eu disse sonolenta.

- Minha filha, estava viajando por isso não puder vir antes...estou tão feliz que esteja de volta!

- Mãe?

- Sim anjo...sou eu.

Eu a abracei, como se nunca tivesse visto ela antes, minha mãe...e eu não lembrava sequer seu nome.

- Me desculpe mãe, mas não lembro de nada, minhas lembranças são vagas.

- Eu entendo meu anjo, mas os médicos disseram que você recuperaria tudo.

- Sim...eu espero, e o papai?

- Ele está na Espanha a negócios, virá amanhã sem falta, pra almoçarmos todos juntos na casa do campo.

- Ah que bom, não vejo a hora de ver todos meus parente e amigos e...

- Bill? Cadê ele? – ela sabia que eu o mencionaria.

- Está na casa da mãe dele...disse que viria me buscar pra almoçarmos hoje.

- Eba! Levante-se e vamos se arrumar...

- Mas mamãe, eu soube que ele está com a Lara, não quero destruir...eu mal cheguei.

- Com a Lara? Quem te falou isso?

- Meus filhos...

- Eu não sabia disso filha, Lara não me falou nada, aliás desde do dia... é deixa pra lá, onde estão aqueles pestinhas?

- Desde aquele dia? –ela silenciou. – Mãe aquele dia não me sai da cabeça! É minha única recordação inteira, passa consecutivamente na minha cabeça.

- Tente não se lembrar meu amor.

- Eu não consigo, eu...não sei o que pensar, mãe alguma coisa de muito mal eu fazia, pois, Bill me despreza nas minhas lembranças, ele me olha com dó...mãe o que eu fiz?

Ela parou por alguns segundos e não falou nada, continuo séria, e logo mudou de assunto, eu não entendia o porque de me privarem de tudo, eu não sabia da verdade da minha vida, e nem da mentira, procurei não insistir, talvez Bill me falasse algo na nossa conversa do almoço...Mamãe e eu tomamos café e ela ficou comigo até Bill vir me pegar.

Ele buzinou na porta, e eu sai pra entrar no carro, ao entrar nenhuma palavra, nenhum abraço, nenhum beijo...

Paramos em um restaurante aberto, e sentamos isolados.

- O que vai querer Lis?

- Escolhe você, por mim tanto faz.

- Ok – ele fez os pedidos e ficou olhando pra algum lugar, os óculos escuros me impediam de ver seu olhar.

- Tire esse óculos Bill.

- Não posso, estou disfarçado esqueceu?

- Me desculpe. – abaixei a cabeça.

- Não!...não tem que me pedir desculpa...eu...estou sendo mal educado com você...

- Eu não entendo a sua frieza.

- Um dia vai compreender Lis.

- Me fala o porque Bill? Por favor! Todos me olham com pena, me privam da verdade, eu não sei o que pensar... o que eu era afinal?

- Nada Lis, você era só uma garotinha cheia de vida...

- E o porque desse receio seu diante de mim?

- Eu ...eu...não sei.

- Não consigo compreender, acho que devo ter sido má...eu batia nos meninos? Te traia? –ele ficou em sério.

- Bater neles não, sempre foi uma boa mãe quando eram bebês, agora se me traiu não sei...e agora hem? Risos...nunca descobriremos.

Eu dei um sorriso, o primeiro daquele dia.

- Estava com saudade do seu sorriso Lis...saudade do brilho dos seus olhos...

- Eu não sei se estava com saudade de você, mas... toda vez que você chega perto de mim eu sinto que vou explodir.

- Ainda te provoca reações como estas? Risos.

- Pois é...mas, não quero destruir sua vida atual, interferir nela nem nada.

- Minha vida atual?

- Sim, sua carreira, seus amigos, suas namoradas.

- Lis, a única coisa que mudou foi meu alto astral, você levou minha felicidade junto com você, minha fama também mudou, aumenta a cada dia...mas isso é o de menos pra mim, pensei que não sobreviveria sem você, e aqui estou eu...despedaçado mais feliz! Consegui juntar os pedaços ao longo desses anos da sua ausência.

- Eu entendo, e fico feliz que tenha conseguido se refazer...eu não sei o que significava pra você, mas sinto que foi forte.

- Você significava tudo na minha vida.

- E como ficaremos agora? –ele silenciou novamente- Me desculpe, eu...não devia estar perguntando isso...me desculpe.

- Não... eu devo responder, e sinceramente...não sei Lis...não sei.

- Está com minha irmã Lara não está? – sua fisionomia mudou.

- Com Lara? Quem falou isso?

- As crianças me falaram...sem querer...

- Não quero falar sobre isso Lis.

- Mas eu preciso saber Bill...estão sendo injustos comigo não me contando!

- Injustos?...eu não estou com Lara, não negarei pra ti que estive algumas vezes, mas cada vez que eu olhava Lara via você diante de mim...foi a única maneira que eu tive que preencher o vazio que me deixou.

- Me visitou no hospital?

- Todos os dias que eu estive na Alemanha eu fui até lá, sem exceção...

- Bill...você ainda me ama?

Ele não respondia, ficou quieto até que o garçom chegou com nossos pedidos...tinha que ser agora? Bill começou a comer e eu também...