Críticas construtivas e sinceras para essa capítulo são super bem- vindas, até porquê foi um pouco difícil escrevê- lo. Eu não tenho muita experiência em relatar brigas e coisas do gênero, mas... Vamos lá, de qualquer jeito. Boa leitura
E por favor, não odeiem o Brian e o Grant KKKKKKKKKKKCapítulo II
Bill abriu a porta de seu armário e começou a depositar ali todos os livros que não seriam necessários para as próximas aulas. Incomodado, passou o dedo indicador pela gargantilha, em uma tentativa inconsciente de folga- la. O couro que comprimia o extenso hematoma fazia o machucado doer, e causava uma sensação de asfixia que ele geralmente não possuia ao usar tal acessório.
- Ei, Bill!
Bill desviou os olhos do armário e olhou para o fundo do corredor da escola. Não conseguiu evitar sentir um alívio ao ver a figura baixinha, de cabelos crespos e óculos que era Debra, sua colega de sala. E sua melhor amiga.
Desde sempre Bill estivera acostumado a encontrar Debra a postos ao lado da porta de seu armário quando ele chegava na escola. Como hoje ela estava claramente atrasada, ele já havia começado a se perguntar se precisaria enfrentar aquele dia sozinho.
- Você demorou hoje. - Sorriu Bill, enquanto Debra corria quase tropeçando em seus próprios pés, mal conseguindo enxergar por cima da pilha de livros que carregava.
- Rupert estava uma praga ontem! - Ginchou ela, referindo- se ao namorado. - A maldita maratona de matemática da escola dele é hoje, e a peste me fez estudar com ele a noite inteira. Quase que não venho para a escola hoje, de tão dolorida. Agora, por favor Bill, você pode ser gay mas ainda é homem. Seja cavalheiro e me ajude com isso aqui, sim? - Bufou, virando- se de costas para que Bill pegasse a chave de seu armário no bolso traseiro de sua calça.
Bill sorriu, pegando a chave e abrindo o armário que ficava duas fileiras abaixo do seu. A imagem de Debra e Rupert virando a noite para estudar não deixava de ser hilária. Aliás, os dois formavam um casal engraçado. Ela, em seu glorioso um metro e meio, de cabelos marrons e crespos e com óculos cujas lentes eram mais grossas do que um fundo de garrafa de vidro, namorava Rupert, que era mais alto do que o próprio Bill, e aparentava não possuir um completo controle de seu corpo, tão absurdo era o tamanho de seus braços e pernas. A única coisa que ambos realmente tinham em comum era a acne. Na melhor das hipóteses, eram um casal bem atípico.
Depois que os livros foram devidamente guardados, Debra encostou as costas no armário para descansar. Olhando para Bill e parecendo deixar de lado o repentino mal humor matutino, sorriu para ele animada e perguntou:
- E como foi seu final de semana? Ou melhor... A festa? - Ela piscou.
Bill corou, e chegou mais perto para que ninguém ouvisse.
- Eu fiquei com um garoto. - Ele disse, deixando escapar uma risada maliciosa.
Debra levou a mão à boca, e começou a saltitar freneticamente em volta de Bill.
- Oh meu Deus, Bill! Foi com...
ele? - Ela perguntou, referindo- se ao garoto por quem Bill já tinha uma considerável queda a tempos. Loiro, cabelos encaracolados e olhos azuis. Nick, o típico garoto universitário. Mas também, Debra não estava de todo surpresa. Bill era bonito, e perfeitamente capaz de seduzir alguém tão belo quanto.
- E como foi? Me conta logo. - Sussurrou ela, dando um empurrão em Bill, que olhou cautelosamente em volta para verificar se ninguém mais poderia estar ouvindo. Em seguida, curvou- se até estar próximo ao ouvido de Debra.
E então, deliciando- se com cada lembrança furtiva, começou a contar os detalhes de sua noite de sábado.
- Eu estava com Brenda e Pria na festa. Você não as conhece, são minhas amigas do Orgulho Gay. Nós já havíamos bebido um bocado, mas mesmo assim eu não estava muito alto pra perceber que Nick estava por perto, do outro lado da piscina da casa. Ele estava conversando com uma garota loira, que não parava de dar em cima dele. - Bill revirou os olhos, para logo em seguida acrescentar: - Mas mesmo assim, ele não parava de olhar pra mim.
- E aí? - Impacientou- se Debra, dando um pequeno saltinho de ansiedade.
- Quando já tinha passado de meia noite, ele deu uma desculpa para a garota e veio perguntar se podia falar comigo. Então eu saí de perto delas, levando ele um pouco mais para o fundo. Mas parece que não foi suficiente, porquê ele disse algo como
"A gente não pode ir para um lugar um pouco mais... Reservado?"- Bill sorriu. Suas costas já estavam começando a doer pela diferença de altura existente entre ele e Debra, então apressou- se em terminar. - Não me pergunte como, mas quando eu percebi nós já estávamos nos beijando no quarto de hóspedes.
Debra soltou uma exclamação de surpresa, e olhou para o amigo incrédula.
- Vocês foram para um
quarto Bill?
- Shh! Você quer que alguém mais escute? - Advertiu ele. Respirando fundo e voltando a se concentrar após de ter certeza que a amiga se acalmara, despejou o final da história. - Acabou que nós fomos um pouco mais além do que eu esperava.
-
Que? Como assim? - Debra voltou a se exaltar, agarrando Bill pela gargantilha e sendo advertida novamente pelos olhares aflitos do amigo. Revirando os olhos e mudando bruscamente o volume da voz, voltou a falar: - Vocês transaram? - Sussurrou ela, num tom que sabia que só o amigo poderia ouvir. - Bill, você está no segundo ano do ensino médio! É uma criança! Nem seu irmão que está na faculdade deve fazer essas coisas!
O rosto de Bill agora parecia um saco de tomates, tamanho era o rubor que tomava conta de suas bochechas. Ele gaguejou por um segundo antes de continuar a falar, num volume tão inaudível que Debra praticamente precisou fazer leitura labial:
- Não, eu não transei com ele! Você é doida? Mas - Bill olhou para os próprios pés. - ... Eu fiz uma certa
coisa nele... E erm, ele fez a mesma coisa em mim. Satisfeita?
- Você tá falando de sexo oral? - Debra agarrou Bill pela gola de sua camiseta, deixando diversos amarrotados em sua roupa.
- É Debra, é. Mas isso não é sexo.
- Claro que é! - Ela gritou, sacudindo Bill e chamando a atenção de algumas pessoas que estavam em volta. Sem dar muita atenção para o resto dos alunos, Debra inspirou o ar devagar por alguns instantes numa tentativa de readquirir o controle. Depois de alguns segundos, tornou a falar, tão controlada quanto era possível:
- Você ao menos se protegeu? Você podia ter pego alguma doença. A vida não é só festa, Bill.
- Eu... - Começou Bill, tentando ao mesmo tempo se livrar daquelas mãos minúsculas e inventar uma desculpa plausível para o fato de não ter pensado em qualquer tipo de proteção.
Mas não conseguiu terminar a frase. Apenas manteve os olhos fixos em algum lugar por cima do ombro de Debra, assumindo uma postura defensiva. Em resposta, Debra largou a blusa de Bill e virou- se, já tendo a certeza de quem veria atrás de si.
Brian e Grant. Bill sentiu a bile subir pela garganta quando seu olhar encontrou o dos outros dois garotos. Eles estavam do outro lado do corredor da escola, e vinham andando na direção de Bill e Debra com o mesmo sorriso cruel repuxado em seus lábios. E a distância que existia entre eles estava diminuindo espantosamente a cada segundo.
- Hey Grant, olhe. O gay e a latina, a dupla dinâmica da escola de novo. - Brian gritou, enquanto parava ao lado de Debra e agarrava seu braço absurdamente fino. - Fala sério, você trai seu namorado espantalho e vai dar para o seu amigo viado, não é? Parece muito que vocês dois já se comeram - Ele disse, praticamente cuspindo as palavras e fazendo o que podia para falar o mais alto possível. Diante do olhar que Debra lhe lançou, Brian soltou uma risada gutural.
- Merda. - Deixou escapar Bill, sentindo que suas pernas iriam falhar a qualquer momento, tamanha era a violência com que tremiam.
- O que foi que você disse, seu arrombadinho? - Gritou Grant, empurrando Bill com violência contra o armário. A força foi tamanha que a porta do pequeno compartimento se abriu, derrubando ali uma infinidade de livros, cadernos e aparelhos eletrônicos. Bill fechou os olhos e se deixou deslizar para o chão, enquanto uma dor descomunal começava a se espalhar por seu braço e abdômen. Debra se debatia e gritava sem parar, com os braços imobilizados atrás das costas pelas mãos de Brian. Suas pernas curtas chutavam o ar à sua frente, e ela parecia estar a um segundo de mordê- lo.
- O viadinho está insolente. Acho que nós precisamos dar uma lição nesse filho da puta. - Ainda se divertia Grant, enquanto agarrava Bill pelo braço e o arrastava até Brian. O barulho que faziam era tanto que uma considerável quantidade de pessoas começou a se reunir em torno dos quatro para assistir.
Mas ninguém fazia nada. Ninguém que já estava ali intercedia por Bill ou por Debra. Eram apenas espectadores energúmenos, incapazes de tomar partido de qualquer um dos lados.
- Segura a nossa pequena
muchacha, Grant. - Riu Brian, fazendo chacota ao referir- se à nacionalidade de Debra.- Deixa que eu cuido da outra garotinha.
Grant agarrou Debra e sorriu para ela com desdém. Ao ver aquele rosto tão perto do seu, ela revirou os olhos com uma expressão que deixava transparecer apenas o nojo que sentia por pessoas como aquela.
-
Hola chica, porque essa cara? Algum problema? - Ele gargalhou, apertando ainda mais os pulsos de Debra.
- Meu problema é você, seu bastardo. Que anda pela escola lambendo a bunda do seu amigo. - Cuspiu ela, com o coração acelerado diante da própria ousadia.
- Cala a boca! - Grant arreganhou os dentes e deu um puxão no braço de Debra, que apenas pôde limitar- se a abafar a exclamação de dor.
Brian seguiu até Bill, que havia conseguido ficar de pé e mantinha- se apoiado no armário, com a mão sobre o braço machucado. Mordia inconscientemente o lábio inferior ao mesmo tempo em que prendia a respiração, em uma tentativa de aplacar a dor.
Seria uma sorte sem tamanho se ele conseguisse escapar dessa agressão sem algum osso quebrado, ele próprio pensou.
Brian agarrou Bill pelo pescoço, e aplicando uma força inúmeras vezes maior do que a que Grant usou para agredi- lo, o atirou no chão.
A multidão começou a ficar agitada, e na única vez em que abriu os olhos, Bill pôde ver um grupo de pessoas subir correndo escadaria acima. E torceu para que eles tivessem ido em busca da orientadora, que poderia interceder por eles e apartar a briga.
Brian sentou- se sobre as costas de Bill e entrelaçou os dedos em seu cabelos negros, puxando- os cruelmente enquanto reclinava- se para ter os lábios próximos ao seu ouvido.
- Adoro brincar com você, sabia? Você nunca reage. Já faz tanto tempo, mas você nunca fez nada. Eu vou te forçar até o limite, pra descobrir até onde você vai. - Sussurrou Brian sorrindo, tão perto de Bill que este pôde sentir seus lábios repulsivos roçando em sua orelha.
- Filho da puta. - Bill gemeu com dificuldade, com seus pulmões sendo esmagados pelo peso de outro corpo.
- O quê você disse, bichinha? - Seus dedos soltaram o cabelo de Bill para irem deslizar por sua fina cintura de maneira tensa. - Repete.
- Eu disse que você é um
filho da puta! - Bill deu um grito sofrível, e por um momento ele teve a sensação de ouvir sua voz ecoando por todas as paredes do colégio.
Brian deu uma gargalhada gutural, e posicionou seu joelho sobre a base da coluna de Bill. Com os olhos vidrados, agarrou seus pequenos pulsos brancos e puxou seus dois braços para trás, enquanto colocava todo o peso em seu joelho. Dessa vez, Bill não conseguiu conter uma lágrima sequer.
Bill ergueu os olhos para fitar o ventilador de teto que girava debilmente, parecendo estar prester a cair a qualquer momento. Mantinha as mãos cruzadas sobre o peito enquanto a voz da coordenadora do ensino médio não diferia muito de qualquer canção de ninar. Lenta, maçante e repetitiva.
Debra estava sentada ao lado dele, com o rosto da cor de um tomate. Exaltava- se o tempo inteiro, à beira de um ataque de nervos. Parecia capaz de saltar por cima da mesa e agarrar o pescoço da senhora de meia- idade, que só sabia prosseguir com sua ladainha improdutiva.
Bill suspirou profundamente. Deixaria que Debra brigasse por ele. Estava preocupado demais em não demonstrar o quando sentia dor no couro cabeludo, na base da coluna e em toda a extensão de ambos os braços. Queria chorar, queria
muito. Mas continuava segurando- se bravamente, travando uma batalha interminável contra seus próprios sentimentos.
- Senhor Kaulitz? - Chamou a coordenadora, pelo que não parecia ser a primeira vez.
Bill sobressaltou- se em sua cadeira giratória, e olhou para Debra. Sua cara estava lastimável. Seu cabelo estava completamente desgrenhado e seus óculos ligeiramente tortos. E Bill pôde jurar que quase viu a amiga espumar.
Queria poder ter a capacidade de poder sentir a mesma raiva. Ter a vontade de lutar por uma vida melhor. Mas não. Sobre si pairava a mesma sombra de uma aceitação entediante.
- O que eu estava dizendo à senhorita Gonzales - A orientadora Mercedes prosseguiu, cruzando ambas as mãos à frente do rosto. - E que o senhor provavelmente deve ter ouvido, mas não vale a pena reforçar, é que eu não tiro a culpa do senhor Altermann e do senhor Ristow. Mas mesmo assim, acho que você deveria fazer a sua parte para evitar esse tipo de baderna nas dependências da instituição.
- A minha parte? - Bill cruzou os braços, erguendo uma sobrancelha em atitude incrédula.
- Você certamente sabe a que eu me refiro. Esses seus piercings, a sua maquiagem, a maneira como o senhor se porta em público... Tudo isso obviamente contribui para que a agressão aconteça.
Bill sorriu para ela, não temendo a possibilidade de sua atitude ser interpretada como petulante.
- A senhora se refere ao que eu sou, não é isso mesmo? Ao fato de eu ser gay? Pois para a sua informação, e com todo o respeito que a senhora merece, eu não escolhi ser assim. Eu sinto necessidade de me expressar dessa maneira. Eu não acordei um dia e pensei algo como
nossa, acho que vou experimentar ser gay por um ou dois dias. Saber como deve ser dar a bunda, não é mesmo? Só que isso deve ser uma novidade para você. Eu não vou mudar nada em mim para ter que evitar que esse tipo de coisa aconteça comigo. Quem deveria tomar as providências necessárias era a orientação da escola. O que aliás, deveria ser a sua obrigação! - Bill agora estava gritando, e havia levantado de sua cadeira. Sentia o oxigênio faltar- lhe, ao mesmo tempo em que seu coração quase lhe saltava pela boca.
- Senhor, queira se... - Começou a orientadora, antes de ser interrompida pela porta da sala, que Bill batera com um estrondo atrás de si ao sair em disparada corredor afora.
Debra limitou- se a lançar um olhar acusador na direção da senhora de meia- idade, antes de fazer menção de levantar- se e seguir o melhor amigo.