Voltooooooooou o/
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Capítulo 7
Na manhã seguinte levantei cedo com um pouco de dificuldade. Havia passado a maior parte da noite me revirando na cama pensando em tudo que havia me acontecido desde que deixei a Alemanha. Pensei na luta diária que eu enfrentava para deixar no passado todos os meus fantasmas, e decidi que apenas uma visita de algumas semanas não iria jogar todo aquele trabalho duro por água abaixo. Mas tinha algo completamente novo me incomodando, algo que neguei com todas as minhas forças, e pretendia continuar negando mesmo que minha cabeça explodisse. Mas era fato que algo mudara em meus sentimos, ou melhor, algo se inverteu aqui dentro...
Pulei da cama e tomei um longo banho. Abri o armário e escolhi calças jeans pretas, uma camiseta longa e uma jaqueta de couro para espantar o frio. Eu havia prometido a Júlia que iria levá-la até o aeroporto para que ela voltasse aos Estados e ficasse com sua mãe num momento tão delicado.
Desci as escadas e todos já estavam sentados à mesa tomando café da manhã.
_ Bom dia família! – exclamei com toda boa vontade que consegui reunir
_ Bom dia o cassete! Não acredito que contou a eles sobre aquilo! – Tom disse irritado, provavelmente sobre a vergonhosa revelação de suas brincadeiras com o aspirador de pó.
_ Tom! Não brigue com sua prima logo cedo! E convenhamos querido, todos nós já suspeitávamos do que acontecia dentro do banheiro... – interviu tia Simone antes que uma briga se estabelecesse.
_Bobão! – exclamei e mostrei a língua para meu querido primo que retribuiu o gesto – E não acredito que contaram a ele! – repreendi Bill e Júlia
_ Não contamos, apenas tiramos um pouco sarro do taradinho aqui. – explicou-se Júlia dando tapinhas nas costas de Tom e rindo da reação do mesmo.
Todos conversávamos e tentávamos confortar Jú, para que ela conseguisse ser forte numa situação delicada como a que a família dela se encontrava. Exceto por Bill, que pareceu perdido em mundo só dele, voltava a Terra apenas para assentir uma vez ou outra sem que ninguém percebesse sua completa dispersão. Decidi não abordar o assunto naquela hora, conversaria com ele mais tarde.
Malas prontas e no porta-malas do meu Chevy Impala 67, Júlia se despedia de todos da casa, demorando-se um pouco mais em tia Simone, que por sua vez havia adorado minha exagerada e excêntrica amiga. Entramos no carro e partimos rumo ao aeroporto. No meio do caminho Júlia decidiu ouvir um dos meus cd’s e optou por The Runaways, seguimos ao som de Queens of Noise cantando alto como duas adolescentes.
Chegamos ao aeroporto muito antes do horário previsto para o voo de Júlia, então resolvemos tomar uma cerveja e sentar enquanto esperávamos a chamada daquela voz mecânica irritante.
_ Pode ir falando – disse Júlia me pegando de surpresa enquanto eu dava o último gole na minha cerveja, que por sinal já estava quente
_ Falando exatamente o quê, maluca?
_ O motivo dessa sua cabeça de vento estar tão no outro mundo quanto a de Bill durante o café da manhã. – insistiu
_ Não é nada, só estou... Sei lá, refletindo. Às vezes ter vindo para cá não me parece ter sido uma boa ideia. – desabafei
_ Eu imagino. Reencontrar o primo que tirou sua virgindade e que parece ainda ser apaixonado por você não me parece ser algo leve de se encarar – disse Jú fazendo pouco caso enquanto lixava as unhas.
Aquela declaração me deixou em choque por vários minutos. Como ela havia descoberto?
_ O QUE? NÃO! Quero dizer, quem te contou? – perguntei e imediatamente soube a resposta – Ah, eu vou matar o Tom, aquele filho de uma égua aleijada!
_ Ei, ei, calma! Não precisa surtar aqui. As pessoas estão olhando, controle-se mulher. – disse Júlia com a expressão mais serena possível – E não xingue o coitado do Tom, nem a tia Simone que não é uma égua aleijada. – fez uma pausa – Ele não me contou nada, eu descobri tudo sozinha. Fiquei todos esses dias apenas observando vocês, foi uma questão de tempo até eu juntar todas as peças, e devo agradecer a sua insuportável prima Katherine por ter me dado a dica mais importante de todas. Só queria que você mesma tivesse me contado... Sou sua melhor amiga...
A expressão nos olhos dela era de partir o coração.
_ Ah Jú, não fica assim. Olha, não é uma das coisas que eu mais me orgulho de ter feito... Mas sei que deveria ter te contado. Me perdoa!
_ Tudo bem, está perdoada. Mas vem cá, me conta, você também ainda é apaixonada por ele?
_ Não, faz tempo que não. Isso ficou pra trás, definitivamente. – afirmei com toda certeza – E ele não é apaixonado por mim, não sei de onde...
_ Ah, não me venha com essa! – Júlia me interrompeu – Depois da descrição dele de como foi a transa de vocês naquela brincadeira de verdade ou desafio, você ainda quer que eu acredite que ele não sente nada? Sério?
_ São apenas lembranças que ele guardou com carinho, nada mais. E pare de especular sobre minha vida particular!
_ Não estou especulando, apenas descrevendo fato. E outro fato é: Tom também tem sentimentos reprimidos por você.
_ Pode parando por ai! Agora sim você exagerou! Somos melhores amigos, os mais chegados do mundo, desde sempre, nada além disso e ponto final. – expliquei um tanto atordoada com a informação – Nunca houve nada entre nós além de amor fraternal e muita implicância saudável.
_ Pode ser que não no passado, mas nada impede que algo aconteça agora. – deu de ombros
_ Vamos mudar de assunto porque acho que o fuso horário está começando a te afetar seriamente. Tem que ver isso ai...
_ Engraçadinha. Só me prometa que vai me manter informada de tudo que acontecer, e do que não acontecer também. Quero ficar por dentro, você sabe como é – disse e deu uma piscadela
_ Pode deixar amiga. E me prometa que vai me dar notícias também sobre você e sua mãe, mande melhoras a ela. Mais tarde eu mando um e-mail para a editora dizendo que te liberei um mês a mais por questões familiares.
_ Não precisa. Deixar de trabalhar não vai curar a minha mãe por um milagre... – disse Júlia no tom mais triste que eu já ouvi
_ Mas sua mãe vai precisar de você muito mais do que eu e aqueles sugadores de almas que trabalham com a gente. – tentei demonstrar um pouco de solidariedade
_ Obrigada Mia! Você é a melhor amiga do mundo! – exclamou com lágrimas nos olhos me agarrando para um abraço longo e caloroso.
_ É para isso que as amigas servem. – afirmei interceptando uma lágrima que ameaçava cair.
_ Para ouvir desabafos também. Queria saber quando você vai me contar sobre o que aconteceu ai... – disse passando os dedos nas cicatrizes em meus pulsos cobertas por pulseiras. O toque dela ali, naquele local tão secreto e íntimo para mim, me fez sentir calafrios.
Então a voz mecânica deu o ar de sua graça anunciando o voo 9102 sem escalas com destino a Nova Iorque.
_ Um dia, quem sabe. – assenti, sentindo todas as minhas defesas se desfazerem como pó
_ Até mais Mia! Vou sentir saudades! – Júlia me abraçou com força e me manteve ali, presa – Você é mais forte do que pensa, nunca se esqueça disso. Conta comigo! Eu te amo!
Aquelas palavras foram o que bastou para que eu desmoronasse em lágrimas.
_ Eu também te amo! Obrigada! – disse antes que ela me soltasse.
Júlia foi em direção ao portão de embarque e eu fiquei pelo aeroporto até que o avião decolasse e eu me sentisse mentalmente equilibrada para dirigir de volta para casa.
As palavras de Júlia pairavam sobre mim criando uma nuvem de dúvidas e especulações. Senti meu coração palpitar cada vez que pensava que meus dois primos poderiam estar apaixonados por mim. Bill até que era de se esperar, levando em conta suas palavras e atitudes. Mas Tom? Era difícil dizer, ele sempre fora tão fechado e suas atitudes nada denunciavam.
Resolvi deixar isso pra lá e limpar a cabeça. Eu ainda tinha mais 3 semanas para sobreviver sob o mesmo teto que os dois, e não podia me dar ao luxo a ter pensamentos como esses.
Ao chegar em casa me deparei com Tom esparramado no sofá assistindo a um programa que ensinava como acampar da correta correta e agradável. Larguei a jaqueta numa poltrona e sentei-me ao lado dele no sofá, eu não tinha mais nada para fazer afinal.
_ Isso tudo é um monte de merda – comentou ele – Esses caras frescos e cheios de nhénhénhé não sabem nada sobre como acampar de verdade. Aposto que nunca saíram nem no próprio jardim!
_ Concordo. – afirmei rindo ao ver um dos caras do programa com nojo de matar um inseto.
_ Até você faz melhor priminha.
_ Pode apostar que sim. - fiz uma longa pausa enquanto via o apresentador sofrer para acender uma fogueira - Viu o Bill por ai?
_ Eu não. E não gosto de vocês de conversinha, podem tratar de me contar qual o assunto depois ein. - respondeu emburrado.
_ Está com ciúmes Kaulitz? Pois fique tranquilo que tem Mia para todo mundo! - exclamei dando um beijo em sua bochecha e me divertindo com a situação. Era bom ter alguém que quem confiar, e o Tom era o meu alguém.
Depois que o programa terminou me levantei e fui na direção da escada. Meu corpo pedia por um banho e minha mente clamava por reflexão e calmaria.
_ Ei! – chamou Tom – O que acha da gente sair pra acampar? Vamos admitir, isso aqui ta um saco.
_ Até que não seria má ideia. – admiti – Vou tomar um banho e daqui a pouco desço pra gente amadurecer mais essa ideia.
_ Ou... – disse Tom brincando com o piercing – Poderíamos amadurecer a ideia de dentro da sua banheira.
_ Aff, tarado!
Subi até o meu quarto, entrei no banheiro e pensei sobre a ideia de acampar. Pode ser interessante...