olá seduções
que saudade *-* bom, o capítulo tá enorme, e cansativo.
eu precisava esquecer do vestibular, então escrevi compulsivamente
lamento por vocês
boa
sorte leitura
CAPITULO 13Abri os olhos lentamente. O quarto ainda estava escuro e a cortina branca balançava de leve. Apalpei o lençol macio tentando achar meu celular, em vão. Olhei para o criado mudo e lá estava ele. Peguei-o e vi que horas eram. 10:15 da manhã. Eu nunca acordava nesse horário, ainda mais num sábado. Porém, batidas fortes e um som irritante de furadeira ecoavam por quase todo o meu apartamento. Mudanças. Só eram permitidas no sábado, das 9:00 da manhã às 8:00 da noite.
Levantei quase que me arrastando, fui até a porta e espiei pelo olho mágico. Eu teria novos vizinhos. Torci para que fosse alguma pessoa simpática e que gostasse de música, mas se fosse bonito, dava pra esquecer a parte da música. Rachel que era sortuda por vizinhar com Josh, aquele deus grego. Ri de mim mesma e abri a enorme porta que dava passagem para a sacada. Era um dia lindo, um vento gelado, típico do início do inverno, mas o sol brilhava alto no céu.
Um dia tão bonito e eu teria de achar algo para fazer, sozinha. Rachel havia viajado, eu já estava com saudades. Caminhei até o banheiro, fiz minha higiene matinal e decidi descer para dar uma corrida. Eu não ia à academia há 4 dias e estava com saudades de malhar. Troquei de roupa, coloquei meus headphones no ouvido e saí.
Enquanto chaveava a porta, cantava animadamente. Ao me virar, me bati em alguém que saía do elevador com uma enorme caixa de papelão carregada de quadros e porta-retratos, que se espalharam pelo chão. Mais que depressa tirei os headphones e pedi desculpas, ajudando a senhora de olhos e cabelos castanhos à minha frente a recolher o que havia caído.
- Desculpe, eu ando tão distraída. - expliquei, pegando o último porta-retrato e colocando-o na caixa.
- Imagine querida, não foi nada. - sorriu ternamente para mim. Nesse momento eu percebi que me daria muito bem com aquela mulher.
- Bom, acho que vamos ser vizinhas de porta. - sorri também – Eu sou Anne, muito prazer. - estendi a mão.
-Muito prazer, sou Simone. - pegou minha mão e me puxou para um abraço. Num instante tive a sensação de conhecê-la há anos, era tão simpática e aconchegante. - Vamos nos dar muito bem. - me olhou sorrindo.
- Claro que sim! Bom, não quero atrapalhar então já vou indo. Até mais. - me despedi, ela sorriu e logo entrei no elevador.
Cheguei no térreo e saí pela porta dos fundos. Puxava os cabelos para cima para amarrá-los num rabo-de-cavalo. Olhei para minha esquerda verificando se vinha algum carro, e ao olhar para a direita me bati bruscamente contra alguém alto e forte. Caí no chão na mesma hora.
- Mas hoje não é meu dia! - reclamei, enquanto o vento forte jogava meus cabelos no meu rosto, dificultando minha visão.
- Desculpe moça, não foi proposital. - falou largando a caixa que segurava, me estendendo a mão. Levantei-me, e sem olhar para a pessoa que estava na minha frente, comecei a limpar minhas calças de cabeça baixa.
- Tudo bem, eu que estou muito longe hoje, não foi culp... - ao olhar para o homem à minha frente, perdi a voz.
- O QUÊ? - falamos em uníssono, nos encarando. Esfreguei os olhos na esperança de estar tendo vertigens, mas era real.
- Tom? O que faz aqui?! - perguntei.
- Minha mãe está de mudança, veio para tomar conta de Bill! E você, o que faz aqui? - perguntou como se eu fosse uma alienígena.
- Como o que eu faço aqui?! Eu moro aqui! - exclamei em um tom óbvio. - Espera, não me diga que aquela senhora extremamente simpática e gentil que será minha vizinha é sua mãe?! - perguntei, ainda duvidando.
- Apartamento 1102? Sim, é a minha mãe. - falou orgulhoso.
- Coitada, mas essas coisas de parentesco não se escolhem, né?! - lamentei baixinho.
- O que você disse? - indagou desconfiado. Eu ia repetir mas fui interrompida por Simone, que saiu pela porta falando com Tom.
- Biscoitinho da mamãe, vamos com essa caixa, estou te esperando. - em segundos vi Tom ficar extremamente vermelho.
- Sim mãe, já estou indo! - avisou à Simone, que nos deu as costas e entrou novamente no prédio.
- BISCOITINHO? – perguntei, dando uma gargalhada.
- Shhhh, fique quieta Simpson, minha mãe é muito afetuosa. – falou, tentando disfarçar.
- Ah sim. Bom, não vou ficar aqui perdendo tempo com você, suba logo “biscoitinho”. - falei debochando de Tom, que numa atitude infantil, me imitou fazendo caretas e falando numa voz fina.
- Nhé nhé nhé nhé, biscoitiiinho... - me deu as costas e entrou no prédio, ainda vermelho.
TOM KAULITZMinha mãe ia ser vizinha daquela maluca? Não dava pra acreditar.
Enquanto o elevador subia, eu lamentava. Cheguei no 11º e último andar e encontrei minha mãe na porta.
- Bebê, vamos com essas coisas, você não pode ver uma mulher bonita e já quer conversar, e eu aqui te esperando. - disse num tom de repreensão.
- Pô mãe, biscoitinho? - perguntei meio choroso.
- Vamos Tom, pare com isso, qual o problema? - perguntou como se fosse normal me chamar de biscoitinho aos 21 anos.
- Mãe, eu já tenho 21 anos de idade, desse jeito você vai estragar a minha fama de pegador. Vão achar que eu sou um bebezão que vive agarrado na saia da mãe. - choraminguei.
- E você vive mesmo! – falou, me dando as costas. Eu a segui. - Até tive de me mudar para cá!
- Mãe, eu disse que não havia necessidade, eu cuidaria muito bem do Bill. - falei estufando o peito. Recebi um olhar de compaixão.
- Tom, meu amor, mal consegue cuidar de você mesmo, imagine se eu ia deixar o meu caçulinha na sua mão. – disse, rindo sozinha e colocando um quadro meu e de Bill na parede.
- Eu sou uma pessoa muito organizada e responsável, sempre tomei conta do Bill. - teimei.
- Muito responsável... E aquela vez em que fez Bill comer a ração do cachorro? - perguntou caminhando pelo corredor, sendo seguida por mim.
- Mãe, ele estava com fome, só tinha mais meia tigela de cereal, e ele comeu porque quis, não foi culpa minha. - expliquei gesticulando.
- Você podia ter dividido com ele, ou tivesse dado à ele alguns biscoitos de chocolate.
- Eu não alcançava o armário. - falei com uma expressão da cachorro abandonado.
- Tudo bem, pare de tentar explicar todas as suas ações maléficas da infância... - fez uma pausa e eu interrompi.
- Maléficas? Eu era um anjinho, coisa mais fofa desse mundo, até hoje a senhora ainda me chama de bebê e todos esses apelidos afeminados. - falei, abraçando-a fortemente e a levantando do chão.
- Está bem meu garotinho prodígio... É muito bom ter você por perto! Agora suma da minha frente e vá buscar as caixas que restam. – falou, me dando um beijo na bochecha.
Era uma noite bastante fria, mas o céu estava lindo. Eu não tinha nada para fazer, Rachel estava viajando, Bill dormia por horas e horas. Eu não iria passar a noite ali, sozinho.
Tomei um banho e coloquei a primeira roupa que encontrei, eu era irresistível de qualquer jeito. Olhei-me no espelho e gostei do que vi. Peguei a chave do carro e saí sem fazer barulho. Passei em frente da melhor boate de Hamburgo. Estava cheia e bastante animada, então resolvi entrar. Entreguei o carro ao manobrista e já obtive passe livre pelo segurança da portaria. Eu adorava a fama.
Enquanto me dirigia ao bar da área VIP, encontrei alguns amigos e fiquei por ali, conversando. Eu passava os olhos cuidadosamente por toda a boate, quando a avistei há alguns sofás de distância. Anne Simpson. Estava linda. Era linda. Seus braços eram cheios de pulseiras neon que balançavam quando ela se movia animadamente ao som da música, destacando-a mais ainda. Estava com um enorme grupo de amigas. Sem dúvida eram as mais bonitas daquele lugar, chamavam a atenção de todos. Desviei o olhar, e quando a encarei de novo, ela conversava com um cara alto, de cabelos escuros e pele branca. Ele se aproximava cada vez mais e mantinha a mão na cintura de Anne. Semicerrei os olhos, sentindo uma sensação estranha que eu mesmo desconhecia a origem. Ela bebia um drink de cor azul, e quando deu as costas para aquele homem, teve sua cintura totalmente enlaçada. Mesmo assim, continuava a rebolar perfeitamente, era o sangue brasileiro que corria em suas veias. Meu corpo queria me guiar até lá. Me agarrei no sofá com uma força considerável. Eu não podia deixar o instinto falar mais alto. Mas após alguns segundos de sufoco, desisti de ficar ali sentado. Eu tinha que fazer alguma coisa, e Anne me agradeceria por isso algum dia.
Não estavam mais dançando. Agora conversavam, sentados de frente um para o outro, no bar. Eu caminhei até lá e fingi que não a tinha reconhecido. Parei entre os dois e pedi um Red Bull. A moça do bar me olhou e logo dirigiu o olhar às minhas mãos.
- O Sr. pretende terminar esse copo de whysky? - perguntou num tom debochado. Eu havia me esquecido de que já estava com um copo na mão. Mais que depressa o bebi num gole só, sentindo minha garganta queimar.
- Prontinho, agora veja o meu Red Bull, por favor. – falei, querendo pular aquele balcão e torcer o pescoço daquela menina. Olhei com desprezo para o meu lado esquerdo, onde estava aquele desconhecido, e logo virei o rosto. Então decidi arruinar o encontro dele com a
minha produtora de vídeo. Olhei para a direita, e como um péssimo ator mexicano, fingi espanto ao vê-la.
- Anne? É você? Que coincidência... Está se divertindo? - sorri lindamente para ela, ela amoleceria, eu tinha certeza.
Ela me olhou com raiva estampada naqueles olhos negros.
- Sim Tom, sou eu, caso ainda esteja em dúvida. Estava bem divertido até você bancar o espelho sem aço. - fez uma pausa – Você não deveria misturar álcool e energético, pode passar mal. – falou, com um sorriso de canto.
- Ah Anne, não precisa se preocupar comigo, eu vou ficar super bem. Mas e aí, o que estava fazendo? - como ator, realmente, eu era um ótimo guitarrista. Fiquei feliz e sorri vitorioso quando senti a pessoa atrás de mim se levantando e voltando para o sofá em que estava antes.
- Eu estava tentando conversar com um amigo, mas... - a interrompi.
- O quê? Ele te deu um bolo? Que sem noção, se eu tivesse um encontro com você, jamais faltaria. - falei, tentando parecer gentil. Anne abriu um enorme sorriso, e me encarou no fundo dos olhos. Eu estava atingindo meu objetivo, que orgulho!
- Que fofiiinho! – ela apertou minhas bochechas, sem se importar com os que nos olhavam - Vem comigo, vou te apresentar uma amiga que gosta muito de Tokio Hotel. –ela falou, me puxando pela mão. Eu não queria conhecer ninguém, por que ela não percebeu isso ainda?
Passamos pelo seu grupo de amigas e eu fiquei sem entender nada. Foi então que pude ver num canto, sozinha, uma morena de cabelos compridos, maquiagem pesada, muito bonita. Eu queria Anne aos meus pés, então não iria desapontá-la.
- Tom, essa é minha amiga
Ashley, ela é sua fã. – falou, sorrindo para a moça loira que também sorria e me encarava.
- Ashley, aqui está, Tom Kaulitz, ao vivo e à cores, como eu havia prometido. - sorriu novamente. Eu a olhei aflito, não queria aquela oxigenada. - Vou deixar vocês à sós, divirtam-se. - Anne saiu, ainda com um sorriso nos lábios, me deixando ali, na frente daquela mulher desconhecida.
Ela me convidou para sentar e ficamos ali, conversando por algum tempo, bebendo mais alguns drinks. Ela passava a mão em minha perna e eu estava quase esquecendo de Anne e cedendo à tentação, principalmente quando ela se aproximou de meu ouvido e sussurrou numa voz quase igual à voz doce da morena que manchou minhas calças com café:
- Quer dançar? - eu não iria recusar, seria uma enorme desfeita da minha parte.
- Claro que sim. – respondi, já me levantando e procurando Anne com o olhar.
Nos dirigimos até a enorme pista e começamos a dançar, muito próximos um do outro. Ao nosso lado havia. um grupo de homens bêbados que tentavam dançar, mas acabavam se chocando bruscamente com as pessoas que circulavam e com as que dançavam também. Ashley estava se aborrecendo.
- Quer sair daqui? - perguntei, tentando ser simpático.
- Não, pode deixar. - me respondeu sorrindo. Ela era muito bonita. Não era a Simpson, mas naquela altura do campeonato, eu poderia fingir que era.
Ela se aproximava cada vez mais, e quando ela ia beijar o canto dos meus lábios, um dos homens se chocou novamente contra ela, nos fazendo cambalear para o lado. Ashley agarrou a camisa do homem e gritou numa voz masculina e mais grave que a minha:
- Qual é a tua cara? Tá pensando o quê? Vai empurrar tua mãe, seu b*sta!
Eu mão estava raciocinando direito. O que era aquilo afinal?! Anne tinha me apresentado um travesti? UM TRAVESTI?! Não... Era uma morena linda chamada A-S-H-L-E-Y. Ou será que não era?
Enquanto eu tentava entender tudo, fui correndo até a saída, sendo seguido pela Ashley. Ou seria pelo Ashley? Ao sair da boate, fui cegado pelos flashes que flagravam Ashley tentando me puxar para dentro da casa noturna, mas eu soltei meu braço, sem a ouvir, e pedi ao manobrista que fosse rápido ao trazer o carro. Em poucos minutos, adentrei meu veículo, mas havia esquecido de pagar a conta. Decidi então entregar a ficha de consumação e 200 euros ao manobrista e pedi a ele que pagasse a conta por mim e ficasse com o resto.
Cheguei em casa, mas ainda não acreditava no que havia acontecido. Aquilo era um travesti e não uma loira bonita de cabelos longos.
Fiquei sentado no sofá e encarando a parede por horas. Olhei o relógio e eram 6 horas da manhã, já era domingo. Liguei a TV, e para minha infelicidade, a notícia do domingo era eu sendo agarrado por um travesti na frente da boate mais badalada de
Hamburgo. No mesmo instante o telefone tocou. Jost. Era o meu fim.
- Tom Kaulitz, o que você estava fazendo em uma casa noturna, quando ficou encarregado de cuidar de seu irmão que está passando por uma fase de dificuldades?
- Ãhnn... Eu só queria me diver... - me interrompeu, estava muito bravo.
- Não tente se explicar, quanto egoísmo! Você sempre soube que Bill é o mais fraco, e mesmo na situação em que ele se encontra você não deixou de ser mulherengo. Sair para se divertir quando seu irmão quase morreu? Você precisa de uma namorada que te coloque nos eixos, porque os puxões de orelha meus e de sua mãe não serviram de nada esse tempo todo. E pior, um travesti?!
- Não foi minha culpa, foi Anne Simpson que me apresentou para ela, ou ele, sei lá! – falei. me defendendo.
- Não ponha a culpa em Anne, ela é uma ótima profissional! Você está é procurando motivos para que ela não trabalhe conosco, por puro orgulho da sua parte. Olha menino, ainda bem que você não está na minha frente, porque eu partiria para a ignorância numa hora dessas. E pode pensar na explicação que você dará à mídia. E é bom que seja bem convincente. Tchau.
- Ah que ótimo, mais uma vez, passando vergonha por culpa da Simpson. – disse baixo para mim mesmo.
Passei o domingo em casa, cuidando do Bill e pensando na desculpa esfarrapada que daria à imprensa. Tarde da noite recebi um telefonema avisando que na segunda teríamos uma reunião na Universal para tratar do tempo de gravação que foi adiado pelo tratamento do Bill, e também para acertar detalhes importantes. A noite passou calmamente, e pensando no clipe, peguei no sono.
No outro dia, acordei e fui direto para o banho. Me arrumei e saí de casa, deixando a empregada encarregada de manter Bill nos conformes.
Cheguei na gravadora e o Cadillac Provoq já estava estacionado na mesma vaga de sempre. Cumprimentando todos da recepção, chamei o elevador e subi até o 7º andar. Quando a porta de elevador se abriu, todos os olhares se voltaram para mim, inclusive o de Anne, que estava escorada na máquina de café. Ela me olhou sem expressão, e eu entrei na sala de reuniões, ignorando os demais. Sentei numa das cadeiras, deitando sobre a enorme mesa. Ouvi alguém entrar, mas não me movi.
ANNE SIMPSONEu não costumava me arrepender do que fazia. Mas estranhamente, eu estava com peso na consciência. Precisava conversar com Tom e acabar com aquilo. Não éramos mais crianças e não precisávamos agir como tais.
Ele chegou com a expressão vazia e não olhou para ninguém. Apenas me encarou por alguns segundos e se dirigiu à sala de reuniões. Eu o segui, e quando adentrei a sala, ele estava debruçado na mesa, escondendo o rosto.
Sentei-me na cadeira ao seu lado e larguei meu café na mesa.
- Tom? - perguntei com tom duvidoso e não obtive resposta. - Olha Tom, eu quero te pedir perdão. Eu sei que foi extremamente patético da minha parte te apresentar um travesti, eu não sabia que ia acontecer tudo isso e muito menos que ia cair na mídia. Não quero manter essa relação com você. Nós temos um clipe pra gravar, vamos agir como adultos... Por favor, me desculpa? - pedi, esperando alguma resposta. Ele ergueu a cabeça com os olhos enraivecidos, se aproximou de mim, de modo a me fazer recuar um pouco, e falou três palavras que na mesma hora me cortaram profundamente. Senti o chão desaparecer e uma dor incomparável que eu nunca havia sentido antes.
- Eu te odeio.
TOM KAULITZEu ainda não estava acreditando que tudo aquilo estava acontecendo comigo. Anne veio atrás de mim, pedir desculpas que eu nem sabia se faziam sentido ou não. Tolice. Dei meu recado para ela, curto e grosso. Ódio. Era tudo o que eu sentia por ela naquele momento, e isso não mudaria. Deixei-a sentada e sozinha naquela sala. A reunião começaria em meia hora e resolvi dar uma volta pela gravadora.
Desci as escadas até o sexto andar e enquanto caminhava lentamente, avistei ao fim do corredor uma porta com as escritas “Setor RH”. Um sorriso mal despontou em minha face. Era agora que eu descobriria como infernizar Anne Simpson.
Me dirigi rapidamente até lá, parei em frente à porta e comecei a pensar no que diria para ter acesso às fichas dos funcionários. Coloquei a mão na fechadura e abri, me deparando com um homem de cabelos loiros e olhos azuis.
- Bom dia senhor... Ããhnn... - o nome dele, eu não sabia o nome dele, procurei pela plaquinha sobre a mesa e a li rapidamente. - Sr. Schoen, solicitam a sua presença nesse exato momento no escritório da Srta. Rachel Morris, e pelo que me parece, ela quer discutir alguns assuntos com o senhor. - falei rapidamente. Nem eu sabia que era capaz de falar tão formalmente!
- A Srta. Rachel? - fez uma cara de apavorado. - Estou indo! – ele selevantou e saiu rapidamente. Esperei ele adentrar o elevador e entrei na sala, chaveando a porta. Atrás da mesa, havia um armário feito sob medida para aquela parede. As fichas deviam estar todas ali. Corri os olhos rapidamente e avistei a gaveta com nomes de A até G. Ah Anne, agora você teria o troco.
- Ana, And, Ane, Ann... Aqui! - falava sozinho enquanto procurava. - Simpson, vamos ver... Aqui, Anne Simpson! - comemorei, verifiquei a foto, era ela mesma. Comecei a ler rapidamente antes que aquele homem voltasse. Dados... Nascimento, filiação, naturalidade, escolaridade, experiência... Virei a página e meus olhos brilharam ao ver o escrito “Ficha Pessoal”.
Enquanto lia, fiquei boquiaberto: quanta informação, qualidades, defeitos, medos, objetivos... Virei a folha e fiquei ainda mais feliz ao ver a avaliação médica feita inicialmente antes de Anne ser contratada. Eu precisava ser mais rápido, e ao ler o último item já tinha em mente o que faria para me vingar.
Guardei a ficha novamente no lugar e sai rapidamente, torcendo para que ninguém tivesse me visto. E também para que minhas ideias dessem certo.
ANNE SIMPSONEu não fiz por mal, e um dia ele se daria conta.
Tomei uma atitude anormal no meu comportamento. Pedi desculpas e ainda tive de ouvir aquilo. Agora ele me odiava... Que legal!
Tom saiu da sala e eu fiquei ali sentada tomando meu café e digerindo a realidade. A reunião demorou a começar, mas foi breve. Dentre os assuntos em pauta, acertamos o prazo de início para as gravações. Foram adiados em pouco mais de um mês, pois Bill tinha de se recuperar... Pobre Bill, eu gostava dele. Era de poucas palavras, mas era tão elegante e educado! Tinha muito bom gosto e eu o admirava, definitivamente.
Após uma hora e meia, a reunião estava terminada. Despedi-me de todos e subi para minha sala. Entrei na mesma, sendo seguida por Marie. Contei à ela o que haviam decidido e ela me avisou que James havia ligado, pedindo que eu fosse até o estúdio K, no prédio 6, para tratar de pré-produções. Larguei minha bolsa na cadeira, pegando apenas meu pen drive, e saí. Chamei o elevador, e enquanto esperava, peguei outro café. Após anos de convivência, eu estava adquirindo os mesmos vícios de Rachel.
O elevador chegou e eu desci. Ao sair do prédio, senti o vento congelante jogar meus cabelos para trás. Com uma mão no bolso e a outra segurando o café, eu caminhava admirando todo aquele patrimônio. Era algo tão enorme! Estava sempre funcionando. Ali dentro os sonhos se tornavam realidade.
Eu estava passando em frente ao prédio 3 quando vi aquele carro preto passar numa velocidade mínima. Senti o olhar do motorista sobre mim, e quando olhei para ele tentando reconhecê-lo, ele acelerou bruscamente, fazendo os pneus cantarem e deixando uma marca escura no asfalto.
A semana passou num ritmo lento, mas foi tanto trabalho, tanta correria na faculdade, que no final de semana eu estava muito cansada.
Sábado de manhã fui acordada pela campainha que tocava incessantemente. Levantei-me correndo, e quando abri a porta, olhei para os lados procurando por alguém, mas estava tudo quieto. Ainda com a porta aberta ouvi, um miado baixo. Olhei para meus pés e dentro de uma caixa decorada estava um
gatinho lindo, de pêlo branco e olhinhos pequenos e escuros. Ele me olhou e miou.
Eu não podia pegá-lo.
Repetia isso em pensamento mas não resisti, era tão fofo! Fechei a porta e levei-o até a cozinha, o deixei em cima da bancada de mármore e coloquei um pouco de leite num pires. Coloquei o objeto em cima da bancada e o chamei para perto. Ele saiu de dentro da caixa e passou reto pelo prato, chegou perto de mim e esfregou a pequena cabecinha em meu braço que estava escorado no mármore. Passei a mão pelo seu corpo e o mesmo começou a ronronar. Isso não era bom.
Levei-o para a sala e o larguei no tapete. Enquanto ele rolava de um lado para outro, senti meu nariz coçar e a sensação foi ficando cada vez mais forte. Peguei o telefone e liguei para Rachel, ela não havia voltado mas eu precisava de ajuda. Tocou algumas vezes e ela logo atendeu.
- Oi Anne - disse com uma voz meio sonolenta.
- ATCHIIM... - é, aquele gatinho estava começando a ter efeitos sobre mim.
- Anne, pessoas educadas responderiam 'Olá Rachel', cada vez você aparece com uma novidade! - reclamou.
- Rachel, pare, não é... AAATCHIM... Não é isso, mas alguém me mandou um gatinho de presente! - contei a ela.
- O quê? Anne, não pegue ele por favor, mantenha distância, lembre-se da sua alergia! – dizia, tentando me orientar.
- Tarde demais... Não resisti a ele, é tão... AAATCHIM... Tão bonitinho! – falei, olhando para o gatinho que brincava em meu tapete.
- Não acredito! Bonitinha deve estar você, com os olhos e nariz extremamente vermelhos, a garganta coçando, a pele dando sinais de irritação e a conta bancária apitando por perder 300 euros para pagar uma consulta ao alergista. - me descreveu. E era exatamente assim que eu estava ficando.
- E agora, o que eu faço? – falei, pedindo ajuda.
- Sei lá... Já que você está no M&G do TH, agarra o Tom... - usou uma metáfora desconhecida. - Fica aí brincando com ele, use e abuse dos seus instintos maternais! - falou descaradamente.
- Rachel, é sério... AAA-AA-ATCHIIIM...! Esse gato vai me matar! - expliquei minha situação.
- Ok, eu estou indo pro aeroporto agora, mas faz o seguinte: dá um jeito de manter ele isolado em algum lugar... Perto do fogão, já que você nunca fica por lá mesmo. - fez uma pausa e gargalhou. - E segunda-feira a gente dá um jeito, levamos ele a uma clínica veterinária para doação ou algo do tipo - disse, dando uma solução.
- Mas e se eu me apegar à ele? - choraminguei.
- Ai é só você escolher entre a sua vida ou um gatinho fofinho... – falou, tentando me puxar para a realidade.
- Ok, obrigada, até mais, te amo!
- Até, também te amo, boa sorte! - se despediu.
Desliguei o telefone e fiquei pensando em como iria manter aquele gato longe de mim. Encarei-o, e o mesmo me olhava de uma forma engraçada. Inclinei a cabeça para a direita, questionando em pensamento quem teria o deixado ali, e fui seguida por ele, que também inclinou a pequenina cabeça e continuou a me olhar.
À tarde, fui até o mercado comprar algumas coisas e ração para o ser que agora estava fechado dentro de um quarto que eu nunca usei para nada além de guardar coisas inúteis. Eu estava tão horrível! Meu rosto estava vermelho e inchado, precisava me disfarçar. Coloquei o maior óculos que encontrei, e também coloquei um lenço na cabeça que mais se parecia uma burca.
Saí de casa e fui para o supermercado. Ao descer do carro, esqueci do vento forte e deixei que ele levasse o lenço. Entrei em desespero, mas não havia nada que eu pudesse fazer. Decidi fingir que estava tudo normal e entrei no supermercado. As pessoas me olhavam como se eu fosse algo estranho. Eu queria gritar para todos que era só uma alergia causada por um gatinho lindo que foi deixado em minha porta por alguém que sabia das minhas alergias. Afinal, poderia ter sido qualquer outro animal. Mas foi estranho ter sido necessariamente um gato.
Ao passar pela seção de doces, um garotinho me olhou estranho, veio até mim, e num tom de preocupação, questionou:
- Moça, tá tudo bem com você? - continuou me olhando. Contei até dez e respirei fundo.
- Tá sim meu amor, com licença. - respondi e saí rapidamente dali. Continuei fazendo minhas compras, sendo seguida pelo olhar de todos. Peguei a ração para o gatinho e me dirigi ao caixa.
Enquanto colocava as compras na esteira, a moça repetiu a pergunta do garotinho. Respondi um pouco mais rude, justamente por ela não ser uma criança e saber que certos tipos de perguntas são dispensáveis. Paguei e saí, e enquanto ia para o carro, um garoto que trabalhava lá como carregador me ofereceu ajuda. Após largarmos as compras no carro, agradeci a ele.
- De nada moça, mas está tudo bem com a senhora? – perguntou, me encarando. Senti meu sangue subir e comecei gritar.
- SIIIM, eu já disse que está tudo ótimo comigo, não dá pra perceber?! - perdi o controle e entrei no carro enquanto o menino ficou de pé me olhando sair, tentando entender a minha reação ignorante.
Num ato bobo, comecei a chorar lembrando-me desde o início da semana até a manhã do presente dia. Eu estava sendo uma pessoa muito diferente da que eu costumava ser, estava agindo por impulso, estava errando demasiado, fazendo mal aos outros demasiado. Já na segunda-feira ouvi alguém dizer que me odiava, e não foi um qualquer. Deveria ser, mas estranhamente, Tom e suas opiniões estavam fazendo mais importância do que normalmente fariam, o que me assustava um pouco. E definitivamente, isso não era um bom sinal.
-
aê, acabou o sofrimento
que bafão, Anne!
pô
biscoitinho Tom, um travesti?
próximo capítulo é com a Milena
beijos à todas, e até a próxima :*
-
na próxima terça acontece o tão esperado show do TH *-* eu não vou, mas desejo um ótimo show às meninas que vão, mostrem à eles o que o Brasil tem de melhor
'Cause now it's our time ♥-
quando o gato sai, os ratos fazem a festa
é meninas, quando a Rachel não tá perto, salve-se quem puder EIAUHEIAUHE