A madrasta.-Sexto Capítulo.-POSTADO

Nome: A Madrasta
Autor: Bianca L.
Classificação: 18+
Gênero: Drama/Romance
Beta-Reader: Word
Nº de capítulos: Indeterminado.
Terminada ou não: Não.
Sinopse:
Quando se perde uma pessoa especial; naturalmente você fica de luto. Chora e se desespera e pensa que sua vida jamais será feliz de novo... E blábláblá.
Na minha família não foi diferente... Alias; foi sim.
Minha mãe havia morrido há dois meses em um trágico acidente automobilístico em uma estrada remota em Seattle. As causas do acidente não haviam sido esclarecidas e pouco tempo passou. Mas foi o suficiente para o meu pai colocar uma vagabunda no lugar de sua falecida esposa.
Sentimento? Ódio e ressentimento.
Desejo? Vingar-me.
Como? Destruindo tudo. Isso ai... Chutando o pau da barraca.
EU sou Gustav Schäfer, e a estrada vai ter volta... Acompanha-me?

Obrigada pelas reviews queridas! Nesse primeiro capítulo quis mostrar um pouquinho do "meu" Gustav.Das pretensões e desejos dele...Espero que gostem!
Bom capítulo!
---

Às vezes eu pensava na minha mãe...
Imaginava seus sorrisos meigos, seus afagos sinceros seu aroma único... Tentava mentalizar que ela estava feliz. Que havia subido aos céus e garantido seu lugar no paraíso como a própria narrava.
Sempre fui livre de religiões; Mas no momento em que eu havia recebido a noticia do óbito de minha mãe, acho que necessitava em algo que me segurar. Quando você vive em um mundo em que você não pode contar com ninguém além de si mesmo é mais do que natural necessitar de alguma ajuda espiritual.
Não. Eu não rezo várias vezes ao dia. Ou levo minha vida conforme um livro manda. Limito-me só a tentar ser alguém que preste no mundo.
Diferente daquele que toda a minha vida me julgou-me obrigou a fazer coisas estupidas que o próprio acreditava ser importante. Toda essa descrição se encaixa com meu pai.
Klaus Schäfer.
Proprietário de um dos maiores empreendimentos farmacêuticos do mundo; Empresário frio e calculista, estupido e dado a relacionamentos extraconjugais.
As características descritas nunca haviam chegado a mim antes da fatídica segunda feira nebulosa; Dia em que minha mãe perdera a vida de maneira trágica e inexplicável.
Impossível de se ignorar os cochichos maliciosos e maldosos a respeito da minha família pelos corredores da minha universidade. A tal que eu frequentava há pouco tempo. Área escolhida? Medicina.
Minha mãe sempre sonhou em ter um filho médico. E depois que todos nós perdemos meu irmão para um acidente (também automobilístico; Irônico não?) a obrigação de seguir a carreira caíra pra mim.
Digamos que foi até bom...
Eu nunca soube o que faria da vida. Mas tinha estomago forte e marcas fortes demais pra serem esquecidas. Cumpri minha promessa e levava minha faculdade como podia.
Pagava parte das minhas mensalidades a partir de um simples emprego como garçom em uma lanchonete ao sul de Londres.
Meu pai abrira uma filial de seu empreendimento em Londres, mudou-se com sua “namoradinha” pra cá e como consequência de seu casamento anterior (e infeliz) me trouxe também.
Deixou límpido que eu já era um homem de 19 anos e por isso teria de arcar com as consequências de uma cara faculdade e responsabilidades de um adulto.
Antes da morte da minha mãe a independência era algo que eu enxergava muito longe; No meu conceito juvenil (antigo ressalto) eu viveria de uma mesada gorda em um apartamento ajeitado, com um cigarro malboro entre os dedos e uma garota deitada sob o meu colo.
Uma visão bem fantasiosa do que realmente era o meu “Lar”.

Era um ambiente pequeno, com quatro janelas distribuídas em uma só parede; Todas elas davam pra uma praça tomada por arvores frondosas; Algumas frutíferas e outras abarrotadas de flores cheias de cor e charme.
No momento em que o inverno castigava as ruas de Londres toda aquela paisagem vasta estava coberta por uma densa camada de gelo, neve branquinha e fofa.
Por vezes vendedores de pipoca doce acampavam ali. Esperando as crianças aparecerem e cutucassem de maneira chata seus pais para que comprassem os avermelhados grãos de milho. O cheiro delicioso que a pipoca doce exalava era semelhante a groselha. Recordava-me da minha infância feliz em New York.
Junto ao casal que eu julgava ser feliz e o melhor do mundo.
Pena que agente cresce e começa a encarar as “coisas da vida”.
De maneira solitária em tinha meu corpo sentado preguiçosamente em uma cadeira reclinável de couro negro; Localizada no centro da sala. A minha frente um show de luzes brilhantes na praça.
Eu tinha a melhor vista do mundo...
Ao meu redor algumas pilhas de caixas de papelão; um tapete felpudo roxo meio “Hippie” e minha cama perfeitamente arrumada e decorada com padrões de cinza e preto.
Na cômoda de carvalho velho repousava uma xícara negra de porcelana, um pacote de chá e um porta retrato. Nele eu estava parado; abraçado com minha mãe; sorridente. E como poderia ser diferente ao lado de uma mulher maravilhosa como ela?
Não diferente de mim ela expunha a arcaria dentaria impecavelmente branca; os olhos em um verde intenso e vivido; Esses que infelizmente eu não herdara. Mas como compensação a cascata loira de quem era composto seu cabelo eu conseguiria imprimir no meu DNA. Sua pele branca como leite também era minha consequência.
Mas ao contrário dela minhas íris assemelhavam-se de maneira superficial as do meu pai. Um castanho perfeitamente normal. A não ser pelo estranho cinza que se jogava como um grande borrão de tinta ao centro de tudo. Mas essa variação só acontecia quando eu me punha a chorar... Coisa que eu fazia muito de uns tempos pra cá.
Para alguns aquele suspiro desesperado e a saudade que não cabe no pensamento e acaba escorrendo pelos olhos é sinal de fraqueza... E se isso for mesmo verdade... Eu sou o cara mais fraco do mundo.
Meu proposito jamais foi criar comoção. E sim mostrar o que eu sinto... Não é vergonha chorar por alguém que você perdeu... Então. É.
Respirei de maneira profunda e auto-reflectiva. Lembrava-me com clareza do meu dia inteiro. Foi tudo tão medíocre.
Odeio meu trabalho. Odeio ter que me submeter a atender os clientes imbecis daquela pocilga apelidada de “bar”.
Mas a vontade de cumprir minha promessa era o melhor e combustível pro meu desespero e pra minha vontade de acabar com toda aquela merda. Não teria coragem de quebrar uma promessa feita a minha mãe... Não me sentiria homem depois disso. Questões de honra.
Levantei-me da cadeira absurdamente confortável que havia comprado há duas semanas quando me mudara pro apartamento; Calcei meu all star surrado e apanhei as chaves do carro.
Minha mãe deixara um testamento previamente arranjado caso algo houvesse algum problema com ela. E nesse testamento ela deixava um porsche preto potente e veloz em meu nome. Assim como setenta por cento das ações na no empreendimento do meu pai, a mansão em Seattle e metade da casa em Washington. Casa essa que meu pai ocupava com minha madrasta.
Não insisti muito em relação a isso. Não me importava que eles tomassem a aquela casa... Seria capaz de desejar que morressem ali. Eu não me importaria. Jamais fui feliz naquele lugar então... Que seja.
Se a vagabunda quer tomar banho de piscina; por que não? A casa é dela mesmo.
Liberei a minha parte naquela casa com a condição que todos os pertences da minha mãe fossem vendidos e o dinheiro revertido para causas sociais. Como era o desejo dela.
Simplesmente existem pessoas generosas no mundo; Aquelas que não cobram uma gratificação por ajudarem. E essa é uma nobreza rara.
Desci os dois lances de escada; E atravessei as portas do saguão; Esbarrando algumas pessoas que estavam amontoadas no meio da rua por conta da festa de inverno. A pedido da população local tipicamente italiana as ruas ao redor do parque foram fechadas. E o transito de carros ou motos era estritamente proibido no dia festivo.
Uma música animada embalava o ambiente e vários casais vestidos com fantasias de origem itálica dançavam sob um tablado montado no centro da praça. Sob eles um jogo de luzes verdes, vermelhas e brancas.•.
Caminhei pelas sarjetas a fim de escapar da aglomeração absurda de pessoas na calçada. Pegaria o meu carro e passaria o fim de semana na estrada.

--
Terceiro Capítulo.- Crazy.

Assim que tive como apoio os bancos de couro negro dentro do carro me senti um pouco mais “seguro”.
Algumas pessoas ficavam a frente do carro, mas independente disso nada me impediria de sair da cidade hoje. Liguei o carro, e buzinei algumas vezes antes de com cuidado percorrer as ruas escuras de Londres. A única coisa que iluminava o caminho eram os meus faróis.
Liguei o rádio e sintonizei uma rádio que abria testes para bandas “underground” de Londres. Essas esquisitas que aparecem do nada e estouram na billboard.
“Essa é TMKT. 7! Sempre sintonizado em Londres...”
Do nada começou a tocar minha música favorita. Na versão acústica... Se é que dá pra imaginar Metallica em sua forma mais simples e mais perfeita. Era “Nothing Else Matters”. Deixei meus dedos correrem pelo botão de volume. Deixando a melodia escapar pelas frestas da janela.
Der repente pingos e respingos molhavam o vidro pelo lado de fora; Embaçavam minha visão e ficava cada vez mais comprometida.
Até que meu carro inconsequentemente freou. E sem o cinto meu tórax e rosto foram de encontro ao painel do carro.
-Mas que... MERDA!-gritei massageando meu nariz úmido de sangue.
Puxei um casaco preto de trás do banco e abri a porta; O som do Metallica explodia dentro do carro. Mas eu nem me importava, o mal do mundo é não entender o rock n’ roll. No momento um imbecil bateu no meu carro... E se esse mesmo animal tiver tirado uma peça do lugar eu vou tirar o nariz dele do lugar também.
Já avisei? Nunca mexa com um Schäfer ou com o carro dele. Essa família é louca!
Bati no vidro do new beetle azul Royal com violência. E acabei estraçalhando o vidro.
-Seu idiota!-gritou uma voz feminina de dentro do carro ajeitando um casaco marrom no corpo. Mãozinhas magras e de dedos finos, nas unhas pintadas de vermelho sangue tatearam a trava e acabaram se cortando.
Afastei-me e deixei que a garota saísse do carro.
-Tem ideia do quanto custa esse carro seu inútil?!-berrou a garota lutando contra o som extremamente alto do meu porsche.
Mantive-me em silêncio observando o jeans azul claro de lavagem que ela usava mudar de tom. Ficou mais escuro por conta da chuva.
Aos poucos seu cabelo ficava úmido e consequentemente enrolava.
Ela estava gritando comigo.
-Você me cortou seu idiota!Eu vou te processar por agressão! Débil!-continou. -Será que pode falar comigo ou você é mudo?!
Engoli o seco e tentei reanimar o demônio dentro de mim.
-Você é que é uma louca! Bate no carro alheio e depois quer pirar!Eu que vou te processar!-ameacei.
-Eu só derrubei a placa! Qual é! Era só parar do acostamento e eu assinava o seu maldito cheque! Não precisava quebrar a minha janela!-falou um pouco mais baixo.
Fitei o chão me controlando pra não pedir desculpas e pisar no acelerador. Pedindo a deus que ela não me seguisse e prolongasse a tortura. Eu agi como um idiota.
-Eu pago o seu vidro... -murmurei envergonhado.
Ficamos em silêncio.
-E eu pago a sua placa... -rebateu a garota sorrindo pela primeira vez.
Eu poderia passar minha vida olhando para aquela arcaria branquinha como leite. Redonda e bem formada.
-Qual o seu nome?-indagou a garota chegando mais perto e permitindo que eu sentisse a brisa fria que seu corpo emanava.
-Russel... –menti sussurrante.
-sério? Já ouvi esse nome... Mas não lembro onde. -devolveu com uma expressão de dúvida no rosto.
-Deve ter sido em alguma revista. Eu sou filho de um homem importante. -expliquei sorrindo fraco.
-É? Quem?-perguntou curiosa.
Engoli o seco vendo que havia falado demais.
-Que tal se não falássemos em família? Não me sinto confortável com isso.-sussurrei.
Ela assentiu compreensiva.
-A quantos quilômetros fica o posto de gasolina?-voltou a questionar a garota na ponta dos pés a fim de pelo menos tentar enxergar o horizonte.
-Acho que a uns 100 quilômetros. -respondi sem animo. -Mas podemos voltar e tomar café. O que acha?
Ok. Foi uma coisa louca.
Propor um café a uma completa estranha. Mentir seu nome e quebrar a janela do carro dela.
Foi uma coisa MUITO LOUCA.
Mas quem disse que eu me preocupo em ser normal?

Olá leitoras! Perdão pela demora mas eu viajei nos últimos dias e por conta dos passeios de dia chegava em casa sem cabeça pra escrever.Irresponsabilidade eu sei...Mas eu só tenho 14 anos 8D
Nesse capítulo agente conhece a nova personagem.
Espero que gostem!
Bia.

Quarto Capítulo.-Quer um café?

Com a promessa de que ligaria pro guincho assim que chegássemos ao estabelecimento ela concordou em me acompanhar para uma xícara de café.
-Nem sei o que estou fazendo com você aqui... -comentou sorrindo de canto. -É tão surreal.
Revirei os olhos e chamei o garçom.
-O que vai querer senhorita?-se dirigiu com certa “simpatia” a garota.
-Por que não pergunta ao rapaz; Hermes?Ele nunca veio aqui. Ofereça algo a ele seu Mané.-ordenou a garota rindo.
A fitei sem entender muito bem.
-Eu sempre veio aqui... -explicou. -é o meu bar de beira de estrada favorito.
Eu poderia rir da simplicidade daquele momento.
Ela apoiou suas mãos sob a mesa e gemeu.
-Precisa de um médico?-questionei largando o cardápio na mesa e fitando seu “curativo” improvisado com um pedaço de flanela velha.
-Não. Foi só um cortezinho. Eu que sou neurótica demais. -Esclareceu chamando o garçom pretensioso novamente.
-Eu quero um extra forte. -pediu a garota sem sorrir dessa vez. -e a madame ali?
Certa ironia queria ser solta ali. Entretanto me controlei.
-Vou acompanha-la. -Finalizei entregando o cardápio ao garçom que foi até a cozinha menos feliz depois da gelada da mocinha bonita.
Ela deixou o peso de sua cabeça sob uma mão e tombou a machucada para o lado. Apoiou seu troco sob a mesa e sorriu.
-Qual o seu nome?-indaguei um pouco surpreso por ter levado tanto tempo pra perguntar.
-Anna. -sussurrou seu nome de maneira que soasse felino e sedutor.
-Bonito nome. -elogiei.
-E o que você faz da vida Russel?-perguntou.
-Ahm... Eu sou estudante de medicina. Mas por enquanto trabalho como garçom em uma lanchonete ao sul de Londres. Nada demais. -murmurei envergonhado.
-Ah qual é!Pelo menos você tem um trabalho e uma futura carreira...
-E você não tem?
-Ah... Não. -ela hesitou. -tentei a carreira de atriz, mas não deu certo.
Quando ela falava sobre aquilo eu sentia certa tristeza.
-Eu deveria ter seguido os passos do meu pai. Talvez fosse menos trabalhoso e me poupasse tantas lágrimas. -refletiu sorrindo fraco.
-Não se culpe por não saber o que fazer aos 21 anos... Sabe... É normal. Eu também não sabia. Aconselhei me sentindo um idiota logo depois.
Ela riu.
-21 anos?-questionou rindo. -Eu tenho 18 anos Russel...
Engoli o seco e abaixei a cabeça.
-Mas fico feliz de parecer mais velha pra você. Sabe todo mundo diz pra mim que eu tenho cara de pentelha. Obrigada pelo elogio. -agradeceu.
O garçom pretensioso e mal educado voltou à mesa com duas canecas azuis rusticas. Distribui-as dos dois lados da mesa. Uma pra mim e a outra pra Anna. Saiu sem falar mais nada e ela me encarou.
Ficamos nesse lance de se olhar até as canecas serem abandonadas na mesa; Completamente vazias.
Dá pra se apaixonar apenas em um olhar “extra forte”?