I'll Be Waiting

Ainda dirigia a toda velocidade. Por sorte, não atingi um veado que atravessou a estrada no meio da escuridão. Liguei o rádio, deixando no som dos MindFlow. Chacoalhava minha cabeça freneticamente, já estava até começando a sentir uma dor de cabeça fina. Estacionei o carro na garagem e adentrei em casa pela porta de ligação. Acendi todas as luzes e fui até a cozinha beber um pouco mais de álcool. Abri a geladeira e tudo o que encontrei foi um champagne já aberto, que mais parecia ser do reveillon passado. Ri da falta de reabastecimento. Ainda assim, peguei a garrafa verde. Arranquei a tampa com os dentes e cheirei para ver se ainda estava num estado bebível. Não estava, mas quem se importa. Subi a escada e me joguei com tudo na cama. Liguei a televisão, deixando num filme de terror qualquer dos anos 90. Virava a garrafa de segundo em segundo e me saboreava com aquele líquido meio azedo. Peguei mais travesseiros dentro do baú de madeira na frente da cama e rodeei-me deles, sentindo a maravilhosa sensação de conforto. Meus olhos começaram a pesar em resposta. Os rostos bizarros do filme eram só visões turvas para mim agora.

- O que? Você está louca? Como você pôde fazer isso com um desconhecido, Anna? – Bill perguntava incrédulo.
- Relaxa Bill, não fizemos nada demais – respondi com indiferença. É, nós não havíamos feito nada demais.
- Ah claro, ficar se esfregando com um cara do bar em cima do carro e todos vendo, não é nada demais. – sua voz era irônica e seus olhos foram revirados. Apenas o olhei e voltei a ler a revista de moda que, até pouco tempo atrás, estava nas mãos de Bill. – Você merece ser punida, Anna.
- Quem merece ser punida? – Tom perguntou assim que pisou o pé na sala. Ele é curioso e enxerido, aliás, muito enxerido. – Quem deveria ser punida, merda? – fez a mesma pergunta, referindo-se ao Bill. Ainda com os braços cruzados na altura do peito, se jogou em mim como se eu fosse o próprio sofá.
- Ninguém, Tom. Agora cala a boca. – e no mesmo instante, o silêncio pairou sobre a sala. Tom estava tentando conter o riso e eu já estava mordendo suas costas na mesma tentativa. Ele se remexia em cima de mim e mordia os lábios. – Dá para vocês dois pararem com isso?
- Desculpa. – respondi dando mais uma mordida forte em Tom. Tudo culpa do Bill e suas múltiplas expressões faciais.
- Droga, isso doeu Anna. – Tom tentava alcançar o local da mordida e massagear. Claro, ele não conseguiu. – Da próxima vez será você. – apontou o dedo indicador para mim numa forma de condenação.
- E quando terá a próxima vez, Kaulitz?
- Quando fizermos a mesma coisa que fizemos semana passada. – seu riso tornou-se malicioso e suas feições totalmente sacanas.
- Por favor, poupem-me dos seus casos sexuais. – Bill levantou-se bufante do sofá e saiu em direção às portas de vidro que davam acesso a parte externa da casa. – Vou fumar um cigarro. – avisou antes de fechar-se do lado de fora.
- Parece que só restou eu e você. – Tom se aproximou mais, mexendo naquele maldito piercing labial que deixa qualquer uma doida.
- Vai pro inferno, Tom. – retruquei e me afastei, sentando na outra ponta do sofá. Mas ele olhava-me com um olhar tão tentador, que me pergunto como poderia resistir. Tom havia um tipo de magia ilegível que conseguia fazer viciar-se. E bem, eu já estou em um estágio avançado. Avancei como um animal em caça rumo aos seus lábios entreabertos, sentindo aquele gosto de menta bem ao fundo. Passei uma das minhas pernas para seu outro lado, ficando sentada estrategicamente. Ele apenas apertava minha cintura firmemente e correspondia aos estímulos. Sua língua fazia o trabalho de aprofundar ainda mais o beijo. Imagino a cena em que estamos, provavelmente assustadora para quem entrasse. – Por quê?
- Por que o quê? – reformulou a minha própria pergunta, deixando um espaço entre os lábios vermelhos. Não o respondi, essa resposta só cabia a mim. Apenas voltei a beijar-lhe tal como antes, ou talvez até com mais ferocidade. Tom deitou-me no sofá aveludado e passeou com sua mão por toda minha lateral, parando na parte interna da minha coxa. Ele só podia está brincando.
- Será que os senhores não sabem o que é quarto? Já estou cansado de presenciar cenas desse gênero. – a voz de Bill saiu com um tanto de expectativa. Provavelmente estaria observando-nos. – Vocês não vão parar mesmo, não? Pois bem, eu não quero ver o meu sofá sujo.
- Acho melhor obedecermos ao Bill, aqui não é tão confortável quanto a minha cama. – sorria marotamente para mim, totalmente com segundas intenções. Ele começou com uma massagem nos meus cabelos, poderia jurar que era como um tipo de estimulo a mais, visto que suas expressões não eram das melhores. Sua face está contorcida e olhos fechados com forças. Sentia as ondas de movimentações.
- Não Tom. Tenho que ir. – no mesmo instante, como um susto, ele abriu os olhos. Olhou-me perplexo. Levantei e ajeitei um pouco meu cabelo, para, pelo menos, está num estado de moda?!
- Você está louca? Como você para assim? – Tom levantou-se também, ficando ao meu lado.
- Eu me lembrei de um compromisso, Tom. Desculpa. – já me aproximava para dar-lhe mais um beijo, quando ele subitamente puxou-me pelo braço, fazendo sentar. Voltou com a série de beijos e empresava seu corpo ao meu. – Eu bem queria continuar, mas não posso. – o tirei de cima de mim com um empuxo impulsivo. Fazendo-o cair no tapete branco próximo. – Ligarei mais a noite. – mandei um beijo no ar e direcionei-me à porta principal de madeira pesada.

Passei o resto da tarde com dois pepinos congelados, um em cada região ocular. Se teria um segundo encontro, teria que passar uma boa impressão. Minhas olheiras estavam como duas grandes depressões bem abaixo dos meus olhos, e sua cor era forte. Mesmo com maquilagem, ainda ficariam evidentes. Muito evidentes.
Como não podia ver nada, restou-me escutar uma boa música: Bem calma e relaxante. Como no próprio spa. Meus pés embatiam-se no sofá numa dança sem muitos fins. Assim que o cd parou de tocar, dei por hora que os efeitos já podiam ser percebidos. Recolhi todo o material utilizado, encaminhados ao lixo. Olhei meu reflexo no espelho e pude notar a melhora. Não estava completo, mas pelo menos poderia sair de casa sem parecer uma zumbi. Não sei a atração que o Tom viu em mim hoje. Subi os degraus com certo nível de animação por, talvez, Gregor sentir o mesmo. Ele havia ligado no dia seguinte ao nosso primeiro “encontro” e propôs um segundo. Aceitei, é claro. Gostaria de seguir a diante com ele. E essa vontade só estava crescendo cada vez mais.

O som da campanhinha ecoou até o andar de cima, chegando aos meus ouvidos. Apenas ajeitei o salto e peguei minha bolsa no canto da poltrona. Eu havia passado mais de quatro horas trancafiada no closet tentando achar uma roupa arrebatadora. Ainda não tinha certeza total do meu conceito, mas, entre segundos, saberia. Abri a porta dando uma última inspirada no ar e o que vi, fez-me jogá-lo todo para fora novamente. Inacreditavelmente, seu cabelo havia crescido, mostrando ainda mais sua maciez. Ele observou meu corpo dos pés a cabeça, literalmente. E pude ver o brilho formado em suas perfeitas íris. Obtive o resultado.
- Não acho boa idéia ficarmos aqui com você me secando. – tentei quebrar o silêncio com as palavras seguidas de uma risada sem graça.
- Desculpe, mas nunca vi algo tão deslumbrante quanto você. – sorriu de canto, jogou os fios de cabelo para trás, mordeu os lábios e continuou a me olhar. Numa altura dessas, minhas bochechas já estavam rosadas. E não é só por conta do blush.
Tomei liberdade de segurar em sua mão e fechei a porta atrás de mim, trancando-a. A noite seria longa.