I'll Be Waiting

Fui diretamente para o banho. E como a água que escorria pelo ralo, os flashes faziam o mesmo percurso. Sentia-me bem melhor. Saí enrolada numa toalha felpuda cinza e caminhei até meu guarda roupa para pegar o pijama.
Enquanto isso, pensava na minha vida. O que faria em relação ao meu amor não correspondido? Qual a melhor maneira de vir pôr-lo à tona? Como ele iria reagir em relação a isso? E se ele bem ao fundo não me amar? Se o contasse seria mais fácil ou difícil os dias seguintes? Dezenas de perguntas sem respostas enlouqueciam meus neurônios. Fazendo-os fritar. Gustav fazia-os fritar.
Talvez se não sofresse mais por ele, minha vida voltasse aos eixos ajustados, porque todas as idéais eram completamente falhas, não tinha como ele se entregar a mim com me entrego a ele. Terei que esquecê-lo. Com ou sem outra pessoa em seu lugar. Estou disposta a aproveitar-me delas, mesmo que seja errado. É, eu iria quebrar as regras. Não me importaria mais em machucar tais pessoas e fazê-las sofrer, posto que é nessa situação em que vivo. Sim, eu sou bem egoísta. Se minha vida é assim, por que a das outras pessoas também não? Parece correto em minha mente.
Bom, eu não tinha a quem fazer isso e estava com uma preguiça muito visível para procurar por alguém pelo mundo a fora. Seria mais fácil com uma pessoa mais próxima. É, seria.
Estou parecendo uma pessoa má.
Talvez toda essa cena que aconteceu comigo tenha me deixado mais amarga e realista. Meu sistema nervoso está fora de controle, não sou eu quem o controla, é uma força maior. Bem maior. Eu posso até estar errada em relação a isto, mas eu sinto que não estou normal. De repente, todo meu coração gelou e o frio está contaminando o resto. Eu não costumo ser assim.
Peguei o celular em cima da cômoda e disquei um número antigo, porém, intocado. Mordia meus lábios em sinal de nervosismo e estalava os dedos numa tentativa de buscar controle. Desliguei após a quinta chamada. Será que ele não quer atender-me? Não. Aposto que ele não tem mais meu número gravado no seu celular. Tentei mais sete vezes e nada. Ele está me evitando.
Repousei minha cabeça no travesseiro fofo e meu corpo na cama dura. Pus meus braços sobre o estômago, numa perfeita posição de morta. Fitei o teto e as sombras que lá rodavam, fazendo meus olhos rodarem junto. As sombras pretas das árvores pareciam braços esqueléticos tentando alcançar-me e eu estaria disposta a ir se fosse real. Talvez não seja tão preto quanto imaginamos.
Não demorou muito até o cansaço ganhar.

Acordei, desta vez, com alguns raios de sol e, pelo que parece, bem em cima de mim. Espreguicei-me, estalando algumas vértebras. Prendi meus cabelos num coque frouxo e desci rumo à cozinha. Abri uma das portas do armário, sabendo exatamente o local dos cereais. Peguei a tigela em cima da pia, o leite da geladeira, e servi-me. Mastigava cereal por cereal, sentindo seu maravilhoso gosto doce. Após comer tudo em meia hora, coloquei os materiais usados na pia – os lavaria depois – e subi as escadas. Não sei quantas vezes tenho que fazer esse mesmo exercício todos os dias. Cansa. Como hoje eu acordei bem disposta, irei ao bar a procura do meu mais novo objetivo. Não seria nada fácil. Por mais que quisesse qualquer um, não me sujeitaria a qualquer um.
Arrumei-me devidamente. Com vestido curto, salto alto e cabelos soltos. Uma maquilagem impecável era vista no meu rosto. Dei uma última checada no espelho, vislumbrando-me com a imagem refletida. Deixe os devaneios de lado e, mais uma vez, desci as escadas. Caminhei em passos seguros até a garagem, pegando meu Volvo conversível vermelho com estofados brancos. Ajustei o retrovisor, vendo meus belos olhos castanhos amendoados. Passei meu mindinho sobre os lábios, retirando o excesso de gloss rosa. Girei a chave, sentindo um ronco suave. Como já estava no final da tarde, a luz amarelada deixava um ótimo contraste no horizonte.
Dirigia tranquilamente com o cotovelo direito apoiado no carro e a mão na cabeça, segurando-a. Fechei os olhos por meros segundos, me aventurando por aquela estrada deserta. Estava me sentindo tão mais livre, tão mais aceita. Talvez só precisasse de um contato com algo natural para refrescar a mente e abri-la. Tentei me aventurar mais uma vez, aquela sensação de liberdade era viciante. Pedia por mais e mais.
Liguei o rádio numa estação qualquer e curti uma música desconhecida por mim. Meus dedos tocavam no volante ritmados com a música. Ela era relaxante e me trazia, de alguma forma, lembranças. Algumas músicas têm esse poder comigo. A voz suave e total angelical da cantora só fazia com que eu ouvisse mais e mais aquela melodia hipnotizadora. Meus ouvidos deram espaço exclusivamente a ela, apenas ela invadia-me interiormente.
Estacionei o carro na vaga livre do bar. Peguei minha bolsa no banco de carona e segui fechando a porta logo em seguida. Caminhei com um pouco de dificuldade pelo solo de pequenas pedras escuras. Ajeitei meu cabelo, jogando-o para o lado. Abri as pequenas abas do bar, imitando as do faroeste, e fui entorpecida pelo ambiente country. Um belo rapaz cantava músicas no mesmo estilo e, bem, esse era seu próprio estilo. Camisa com quadriculados pequenos, calça jeans clara, botas marrom escuro e um chapéu da mesma cor. Seus cabelos eram lisos escuros e seus olhos verdes como duas grandes esmeraldas. Seu físico era musculoso e alto. Chamou-me atenção.
Sentei em um dos bancos de couro do grande balcão, admirando-o de longe. Um homem de meia idade veio me atender. Pedi uma cerveja e aguardei comendo alguns amendoins dentro da tigela pequena e branca. Constatei as horas no celular. 18h53min. O mesmo senhor que me atendera agora a pouco, voltou trazendo a garrafa de cerveja cristalizada por fora. Optei por beber no próprio gargalo e continuei assistindo ao espetáculo. Agora, ele cantava uma canção mais lenta, fazendo com que todos ali presentes levantassem para a pequena pista improvisada no meio do bar.
- Não vai se juntar a eles? – perguntou o senhor tentando ser simpático.
- Não levo muito jeito para isso. – respondi com um sorriso de canto.
- Ninguém aqui leva jeito, minha querida. – retrucou e saiu enxugando os copos com o pano estendido no ombro. Ri dessa típica cena.
Os corpos movimentando-se em par pela pista me fizeram querer está lá. Mas não iria dançar sozinha entre um tanto de casais sincronizados e abraçados. Senti uma pontinha de inveja. Bebi um grande gole, fazendo-me esquecer disto, já que meu rumo é esse. Comi mais uns três amendoins já sem graça alguma, deixei a garrafa vazia em cima do balcão e fui ao banheiro do meu lado oposto. Tive que atravessar aquele local centralizado e socado de pessoas que surgiram do nada, porém, nenhum corpo deu-me atenção. Finalmente quando consegui sair, passei pelo palco, deixando um olhar para o dono daquela voz e corpo.
Empurrei a porta com a plaquinha de um boneco feminino e dirigi-me à grande fileira de espelhos circulares. Abri a bolsa, retirando de dentro o rímel de ultra cobertura preta, repassei cuidadosamente, posto que sou um desastre com ele. Pisquei os olhos verificando se não iria borrar. Não iria. Guardei-o novamente na bolsa e fui até uma das cabines particulares, peguei um pequeno pedaço de papel higiênico e enxuguei algumas gotículas de suor da testa e nariz. Joguei-o na grande cesta de lixo e voltei para onde estava. Fiz um mesmíssimo percurso, agora um pouco mais vazio por causa do final da música. Acomodei-me no banco e pedi outra cerveja. Enquanto estava distraída com a mulher de cabelo estupidamente loiro, sinto mãos masculinas tocarem meu ombro. Viro subitamente vendo aqueles olhos esmeraldados, atenciosos comigo.
- Sua cerveja. – disse sem graça estendendo-a para mim.
- Obrigada. – respondi num tom ainda mais sem graça que o dele, encarando aqueles olhos tão convidativos. Percebendo sua incomodação, desviei meu olhar para outro local perdido.
Tive uma leve impressão que ele também me observava.

Pela primeira vez desde o treze anos, não soube agir em frente a um homem. Nunca fui atirada, fora disso, mas sempre consegui conquistá-los com pouca conversa. E alguns charmes incluídos.
Depois de perceber que não chegaria a lugar nenhum me observando, ele procurou alguém para servir. Pelo que parece, ele também é funcionário do bar, além de cantar. Bebia a cerveja com goles cada vez maiores, estou a fim de ter algum assunto para puxar e este seria a bebida! Meu desespero era tão grande, que acabei por derramar uma média quantidade do líquido amarelo no meu vestido, novo. Amaldiçoei mentalmente a mim mesma pelo ato imbecil e totalmente infantil. Esse é o resultado de tentar chamar a atenção de um cara gostoso. Peguei alguns papeis toalha em cima do balcão e tirei o excesso da cerveja, o resto já estava empreguinado no tecido fino de tons beges. Levantei ajustando o vestido ao meu corpo e voltei a sentar, dessa vez, de frente ao balcão.
Ele estava lá. Sorrindo para algumas garotas, aparentemente, adolescentes e de cabelos ruivos. Ele gesticulava com as mãos, explicando algum assunto que não dava para notar da minha distância. Mudei sorrateiramente de banco, pulando dois. Estaria próxima dele em apenas alguns minutos. Fingia interesse numa garrafa de vinho antigo bem a minha frente. Tentava ler as letras desgastadas pelo tempo, mas os números eram legíveis: 1804. Espantei-me pelo quão pré-histórico era e sua garrafa, simplesmente, estar conservada.
- Quer uma dose? – perguntou uma voz grossa. A grossa voz dele.
- Sim. – na verdade, não queria. Nunca fui chegada a vinho. É uma coisa cara e que podemos pegar um suco de uva bem forte e misturar com álcool. Ele logo pôs o vinho, delicadamente, num pequeno cesto de metal e depois virando o mesmo numa taça de cristal.
- Esse é por conta da casa, quer dizer, por minha conta. Meu tio irá surtar se souber que dei esse vinho para alguém e ainda mais de graça. – sua face tornou-se numa expressão engraçada. Enquanto deixava a taça em cima do descansa copos, seus dedos tocaram-me. Uma corrente elétrica foi transmitida até meu encéfalo, comandando meus nervos, movimentando-os. Com o comando atendido, afastei minha mão rapidamente. Sorri para ele.
- Não precisa. Sério.
- Não, não. Eu disse, é por minha conta. – empurrou mais a taça em minha direção.
- Se tanto insiste... – bebericava o vinho enquanto ele me olhava com expectativa. Aquele velho líquido era bom mesmo, tanto que custa os olhos da cara. – Realmente, é o que as pessoas dizem ao respeito. – disse repousando a taça de volta ao seu local inicial.
- É, eu sei. – respondeu como um grande sábio de tudo.

E de repente, já estávamos sentados à mesa com muitas garrafas de bebidas ao redor, conversando sobre nossas vidas. Contava-lhe segredos e sabia de novos segredos seus. Ele chama-se Gregor, tinha 24 anos e cursava faculdade de música. É, só disso que me lembro. Por conta do meu alto nível de consumo alcoólico e de tabagismo, meu cérebro não guardava muitas informações atoladas. Ríamos das confissões do outro com a cara mais lavada de sempre; cuspíamos o líquido quando uma piada ou fato embaraçoso era contado; beijávamos-nos quando nos aproximávamos e nos retraíamos quando o ar era necessário.
- Eu também passei por algo parecido com isto, ainda estou passando. Eu amo um cara e ele nem sequer olha-me a cara. Não sei mais o que fazer, acho que vou beber mais um pouco disso aqui. – minhas palavras eram totalmente engolidas por soluços que teimavam em aparecer. Meus pés já estavam cutucando lugares inapropriados e minha língua passeava pelos meus lábios. Ele ria marotamente.
- Como alguém não pode olhar para um rosto tão belo quanto o seu? Eu poderia passar o resto dos meus dias aqui com você. – disse segurando meu queixo e deixando um beijo babado por lá. – Quem me dera ser esse cara...
- Você pode ser esse cara! – o interrompi. – Basta querer. – terminei minha frase com menos entusiasmo – como deveria ser.
- Está bem então. – retirou minhas mãos, que mais parecia estar grudada com Super Bond, da garrafa de vodka e levou-me para fora do bar. Andei meio aos tropeços.
Quando menos esperei, ele jogou meu corpo com força contra a parede, fazendo a pequena lâmpada florescente balançar. Tomou meus lábios com urgência e trabalhava neles na mesma. Eu apenas repetia seus movimentos. Seus lábios eram carnudos e numa cor viva, altamente saborosa. De gosto próprio. Suspendi minha mão até sua nuca e puxei seus cabelos dali. Ele gemeu por meu nome como resposta. Continuei com esse mesmo jogo, recebendo seus prêmios altamente recompensadores. Suas mãos, agora, seguravam-me pelas nádegas e com isso, entrelacei minhas pernas em sua cintura, o apertando. Seus beijos foram descendo para meu pescoço numa trilha traçada por saliva, mordeu-o insinuando uma cena vampiresca. Com certeza deixaria marcas. Seus olhos mantêm-se fechados e seu nariz mexia-se a cada obtenção maior de ar. Seu corpo era pulsante e mais ainda lá embaixo.
Desenlacei minhas pernas da sua cintura, porém, ele voltou a enlaçá-la. Ainda continuava a beijar seus lábios já vermelhos por causa das mordidas e chupões que deixava. Ele me levou para o meu próprio carro e me pôs na parte traseira do mesmo. Encaixou-se entre minhas pernas abertas e recomeçou o que havia começado. Pude sentir seus movimentos de vai e vem. Ele ofegava em meu ouvido; respirava meu cheiro e lambia minha pele, saboreando-a. Meus cabelos nessa hora já estavam totalmente desgrenhados e as alças do meu vestido abaixadas. Com o indicador, ele abaixou a primeira alça do sutiã que via, passando a mão pela área. As minhas já estavam dentro da sua camisa sentindo seus verdadeiros músculos contraídos e macios. Um completo pedaço de mau caminho.
- Você é tão macia. – sua voz saiu falha por causa da respiração irregular. – Queria possuir-te agora mesmo. - essas palavras só me fizeram delirar ainda mais, deixando-me mais vulnerável.
Ele levantou-se novamente, levando-me, agora, para a dianteira do carro. Esparramou-me no capô e teve mais espaços para serem explorados. Sua boca era totalmente ágil e parecia ter controle da situação, diferente de mim que só faltava me descabelar de tanta sensualidade recebida. Mexi-me, acabando por ficar por cima. Abaixei meu corpo para ficar na posição correta e poder morder-lhe a barriga. Deixava leves mordidas em cada altura que subia, fiz o caminho contrário também. Ele olhava-me com os olhos entorpecidos de prazer e a sua cabeça estava levantada o máximo que podia. Quando já estava rente a borda da sua boxer, ele simplesmente não resistiu e deixou a cabeça cair com peso. Sua pele um pouco mais morena que a minha fazia contraste. Já estava quase desabotoando sua calça, quando ele rodou, deixando-me por baixo novamente. Eu não gosto muito de estar por baixo o tempo todo. Subia meu pequeno pedaço de pano e afastava mais minhas pernas. Sentia que ele descera do capô. Sei o que irá aprontar.
- Preliminares mais intensas só depois do terceiro encontro. – dizendo isso, desci do carro e o empurrei com as pontas dos dedos.
Arranquei em alta.