[SongFic] Detenção do Infortúnio

- Sinopse -
"Como às vezes as pessoas podem ser tão cruéis. Até mesmo não cruéis com os outros, mas consigo mesmas.
Os dias se tornam cada vez mais intermináveis, e as pessoas cada vez mais contaminadas pelo medo e pela angústia. E eu serei para sempre uma dessas pessoas. Para sempre farei parte do grupos de pessoas que tem medo de um dia sair na rua e ser atacado pela tragédia."

Baseada na música My Friends - Red Hot Chili Peppers

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Detenção do Infortúnio

Como às vezes as pessoas podem ser tão cruéis. Até mesmo não cruéis com os outros, mas consigo mesmas.


Andando na rua, eu vejo. O que eu raramente faço, andar na rua. Quase nunca. Ensaios, sessões fotográficar, shows... Já passei por meio mundo, e conheci menos de um terço dos lugares que visitei. E quando vou sair na rua, para pensar na vida, refletir sobre tudo, sou atacado. Sim, sou atacado, mas não estou dizendo pelas fãs obcecadas. Sou atacado pela infelicidade. Pela infelicidade das pessoas. Como eu queria olhar para o mendigo ao meu lado na calçada e oferecer à ele a felicidade.


Mas eu não sou capaz. A humanidade não é capaz. Felicidade... essa palavra é errada. Não existe quem seja inteiro feliz. Não tem como existir. É impossível. Como uma pessoa pode se sentir feliz sabendo que perto de você tem uma pessoa infeliz. Não só no meio da rua, mas em suas casas mais luxuosas. Não existe isso.

Como eu queria que a felicidade existisse por completo. E se eu pudesse, daria ela para uma pessoa. Sim, eu daria toda a felicidade do mundo à Bill. Se tem uma coisa que eu gostaria de fazer, é isso. Ver os olhos castanhos de Bill brilhando mais do que nunca, pela felicidade. Mas não daria a felicidade à ele como um presente pra agradar, mas um sentimento para vê-lo realmente feliz. Uma pessoa não se faz por presentes que ganha, muito menos uma amizade. Quero vê-lo acordar atrasado como sempre e correr para a cozinha. Sorrir para mim e dizer:

- Tom! Hoje eu acordei tão feliz.



Mas não é bem certo. De que adiante ver uma pessoa feliz, por mais que essa pessoa seja importante para mim, se o resto do mundo está infeliz. Na cadeia da infelicidade, de onde não podem sair, até perceberem o quão idiota, sim, idiotas, essas pessoas foram em jogar fora todo o carinho e amor que quem realmente se importa com elas oferece. Não importa se a pessoa more num barraco no meio do nada, desde que ela tenha alguém que a ame, e que ela ame alguém.


A calçada em que eu piso, cinza e suja, igual ao coração de muitas pessoas. Pessoas essas que foram dominadas pela ganância, pelo dinheiro, pelo orgulho. Na frieza de suas vidas medíocres. São essas mesmas pessoas que ainda tem a coragem de olhar na cara de seus amigos e dizer que são felizes, achando que a felicidade se mostra pelas coisas materiais, deixando de lado a alma, que é o mais importante de tudo. Essas mesmas pessoas que raramente se perguntam quem realmente são, buscando no fundo da alma alguma resposta. Mas a verdade é que, se forem pensar dessa forma, verão que não há nada em suas almas, somente ressentimento, solidão, escuridão e frieza. Essas pessoas não dão valor à tudo que lhes é oferecido.


É difícil dizer o que é felicidade hoje em dia, apesar de tudo. Umas dizem que dinheiro não compra felicidade, outros dizem que sim. O dinheiro pode não trazer a felicidade, mas faz falta também. Esse mendigo dormindo no beco, de que já mencionei, provavelmente não tem dinheiro. Mas e o gato, magro e de pelagem despenteada, que convive com ele, e que dorme com ele, dividindo o pouco de comida que encontram? Bem, pra mim, isso pode ser suficiente. Sabe, um pouco de amor puro. Diariamente convivemos com a ganância, o ódio, o rancor, e o medo, é inevitável, mesmo quando saímos de casa e apenas atravessamos a rua para chegar na cafeteria.


Os dias se tornam cada vez mais intermináveis, e as pessoas cada vez mais contaminadas pelo medo e pela angústia. E eu serei para sempre uma dessas pessoas. Para sempre farei parte do grupos de pessoas que tem medo de um dia sair na rua e ser atacado pela tragédia, e a minha profissão não ajuda muito; sempre há aqueles dispostos à fazerem assassinatos, torturas e sequestros por diversão, por prazer. E isso é resultado da infelicidade, algumas pessoas atingiram tamanho nível de crueldade que passaram à desejar isso à sociedade, e não se sentem realizados enquanto outras pessoas não estiverem sofrendo. Uma coisa eu posso afirmar, tenho pena desses humanos. Bem, eu não me sinto mais normal, não me sinto mais humano. Pra mim não vale mais a pena. O que eu quero dizer é que... talvez exista um mundo melhor, para compensar toda a tristeza que sentimos aqui.


Olhando para meus pés, pensando no passo que eu daria a seguir, me distraí tanto que não percebi que alguém esbarrou em mim. Olhei para trás, uma garota se levantava, provavelmente se desequilibrou e caiu. Ela olhou pra mim, e sussurrou um “desculpe” quase inaudível, e recomeçou à andar. Percebi que a garota chorava, chorava muito.

- Ei. – Eu disse baixo, andando em sua direção. Ela se virou, provavelmente pra conferir se era com ela, e olhou para mim. – O que aconteceu? – Segurei em um de seus braços.


- Eu.. – Ela passou a manga da blusa violentamente pelo rosto, para secar as lágrimas que caiam inconscientes. – Não tive a chance de quiser à quem amo que realmente o amava. Não cometa o mesmo erro que eu.


Puxou seu braço com força e correu pela calçada. Fiquei observando a garota correr. Ela carregava uma mochila, que estava quase se soltando de seus ombros, e a mesma manchada de sangue. Senti os primeiros pingos da chuva caírem em minha cabeça. Dei meia volta, decidido à voltar ao hotel, novamente olhando para baixo. Percebi que estava longe, então sentei em um banco. Não me importava se iria ficar todo ensopado, ou que provavelmente pegaria uma gripe, comecei a refletir. As pessoas fazem o que fazem, e se arrependem depois.