The Real Storie

- Bella, você está acordada? – Ouvi Lucy chamar-me.

- Sim, estou. – Disse encarando o teto escuro, com as mãos sobre a barriga. Era impossível dormir com o grande dia se aproximando, no caso, amanhã.

- Eu não consigo pregar os olhos. Estou muito nervosa. – Virou para mim, com a mão na cabeça sendo apoiada por um dos braços. Lucy está dormindo aqui em casa devido a mesma ser mais perto do show e iremos juntas.

- Também não, mas precisamos. Amanhã temos que está lá cedo, temos que ficar com os primeiros lugares. – Lembrei-a.

- Sim. – Ela respondeu voltando a sua posição inicial. – Boa noite, amiga. – E depositou um beijo na minha bochecha.

- Boa noite. Amanhã logo chegará. – Inspirei fundo enchendo-me de esperanças. Continuei acordada, simplesmente não conseguia dormir.

Tentei revisar todo o plano na mente. “Nada pode dar errado!” repetia essa frase várias vezes para mim mesma. Vi que o sono estava chegando e fechei os olhos. Dormi.

As 4:00 horas o despertado tocou, anunciando o grande dia. Eu fui à primeira acordar, ainda com muita dificuldade devido à hora que fui dormir ontem. Olhei para o lado e vi que Lucy ainda dormia.

- Lucy, acorda. – Balancei de leve pelo braço.

- Hum, só mais um pouco. – Disse com a voz ainda fraca.

- Não podemos demorar. Acorda logo! – Dessa vez balancei-a com grande força.

- Ta, pronto, acordei. – Disse ela levantando-se e sentando na cama. – Bom dia para você também. – Falou com risinho.

- Bom dia. – Respondi rápido, afinal não tínhamos tempo a perder. – Anda Lucy! Você ainda ta sentada? – Perguntei olhando para trás. Ela passava a mão nos cabelos.

- Já vou, já vou. – Disse bocejando. – É que... Eu sonhei que o nosso plano não dava muito certo, sabe? – E logo em seguida fez uma cara de espanto.

- Não tem como dá. O planejamos há DOIS anos. Nada vai sair errado. – Disse dando ênfase a quantidade de tempo que levamos pra realmente ficar pronto, ao mesmo tempo rezando para que aquelas palavras fossem verdadeiras.

- Eu sei, é que... – Ela começou e eu olhei-a já tirando o meu pijama. – Não, deixa pra lá. Vou tomar banho no outro banheiro. – Disse e pegou suas coisas saindo do quarto.

Entrei debaixo do chuveiro e liguei a água. Tentei tomar um banho rápido e ao mesmo tempo em que valesse por umas belas horas. Quando acabei, enrolei-me na toalha e fui até o espelho secar os cabelos. Já feito isso, voltei para o quarto e peguei a roupa que já estava separada desde o dia anterior, quando estava preste acabar, Lucy entrou no quarto.

- Eu sei, eu sei. Vou me vestir rápido. – Disse rindo, já sabendo o que iria falar. – É que você sabe como é né? Banho quente logo de manhã cedo, só faz com que a gente queira dormir ainda mais.

- É, eu sei. – Ri do que ela falou, era verdade. – Olha, já vou descendo. Pode se arrumar a vontade. – Disse terminado de causar o tênis.

- Ok.

Desci quase que caindo das escadas de tão rápido. Meu pai já estava na mesa, ele iria levar nos levar como prometido.

- Bom dia pai. – Disse sentando-me a mesa.

- Bom dia. – Ele respondeu sem tirar os olhos do jornal. – E a sua amiga?

- Já está descendo.

Não estava com muita fome, mas resolvi comer mais do que queria. Chegando lá não teria como sair da fila.

- Bom dia a todos. – Disse Lucy sorridente.

- Bom dia. – Meu pai e eu respondemos juntos.

Comemos conversando sobre assuntos alheios e logo que terminamos, subimos pra terminar de nos arrumar.

- Estou pronta. – E olhei para o relógio, marcava 05h10min. Dentro do limite.

- Só mais uma escovada. – Ela gritou-me do banheiro. Aproveitei para conferir a minha bolsa. Ingressos, o meu e o dela, já que é bastante atrapalhada e acabaria perdendo-os; carteira; celular; filmadora; câmera; caneta, agenda e desenho do Tom e os presentinhos para eles.
Ok, tudo certo.

- Pronto. – Falou já com a bolsa no ombro.

- Não vai conferir? – Perguntei preocupada.

- Já conferir antes de descer!

- Vamos! – Chamei-a. Descemos as escadas saltitando, uma tendo leves escorregões, mas nada de grave. – Pai! – Gritei-lhe

- Ok. – Respondeu levantando-se da poltrona.

O local não ficava longe, vinte minutos de carro. Conversamos entusiasmadas sobre o que iria acontecer, sabíamos que não seria o mesmo show da turnê, mas do mesmo jeito seria grande.

- Bota pra mim. – Pedi-o estendendo o cd de TH.

- Agora filha? Ainda é muito cedo para ouvir música barulhenta, não? – Perguntei não tirando os olhos da frente.

- Não pai, não é. Só pra entrar no clima. – Entreguei-lhe o cd e ele revirou os olhos. Cantamos as músicas não muito alto e logo nem reparamos que havíamos chegado. Olhei pelo vidro e vi que já encontrava algumas pessoas, não muitas, aproximadamente dez. Descemos do carro e fomos direto para a fila.

- Não fomos as primeiras, mas pelo menos fomos as... – Parou para contar as pessoas que havia ali. – Nona e décima! – Falou pulando.

- Ainda bem. – Respondi aliviada. – Ainda há muito pela frente. – Realmente, esperar por mais de cinco horas já me deixava entediada.

Ainda tínhamos que esperar meu irmão vir para guardar nossos lugares na fila e irmos ao hotel onde a banda iria ficar, ao meio dia.
Logo foram chegando mais gente, e a media que elas chegavam, o calor ia aumentando. Tive que comprar várias garrafinhas de água que alguns homens estavam vendando por lá. Quando chegou ao meio dia, a fila já estava enorme, e meu irmão nada de chegar.

- Ai Bella, onde ele está? Precisamos chegar ao hotel antes das uma. – Falava agoniada.

- Calma. – Falei olhando para todos os lados e nada. – Vou ligar! – Disse retirando o celular da bolsa.

Início da chamada:

- Alô? Rafa? Onde você está? Já passa das 12 e você ainda não apareceu! – Disse assim que ele atendeu.

- Calma maninha. Olha pra trás!

- Mas que merda, venha logo. – Já estava irritada naquele momento. Ele não tinha chegado, já eram mais das 12, estava um calor infernal e ainda ele me manda olhar pra trás? Poupe-me.

- Oi! – Ainda falou pelo telefone, mas já na minha frente.

Fim da chamada.

- Posso saber o porquê do seu atraso? – Perguntei desligando o aparelho e devolvendo-o a bolsa.

- Relaxa. São ainda 12h07min! – Respondeu com a maior cara de tédio.

- Em sete minutos muita coisa pode acontecer u.u

- Tudo bem, tudo bem. Chega de discussão, seu pai ainda está lá certo? – Perguntou Lucy.

- Sim.

- Ok, já vamos! E não se atreva sair desse local, entendido? – Ela falou de um jeito que até me deu medo.

Corremos até o carro, que está estacionado bem à frente. Entramos e fomos até o hotel que ficava a dez minutos dali. Sim, havíamos calculado o tempo de cada percurso, de todas as coisas que iríamos fazer. A entrada do hotel estava bem tranqüila e nenhum carro, o que indicava que a banda ainda não tinha chegado. Entramos como se fossemos hóspedes e apenas ficamos folheando umas revistas que se encontravam em cima da uma mesinha.

- Rá, como elas não pensam? – Lucy perguntou bufando, se referindo ás fãs que já estavam na porta do hotel.

- Elas não devem assistir “O Impostor”. – Respondi olhando para fora. Sim, a gente aprendeu tudo isso o assistindo. – Ou não dando valor a tudo o que ele fala.

Reparei que a gritaria ia aumentando. “Será que eles já chegaram? Claro!”, Perguntei e respondi a mim mesma.

- Pronta para não sair correndo atrás dele como se fosse uma louca e agir normalmente? – Perguntei-lhe rindo.

- Sim! Pronta para não sair correndo atrás dele parecendo uma louca e agir normalmente? – Repetiu a mesma coisa que havia lhe perguntado.

- Sim, pronta! – Se bem que aquilo era um tanto quanto difícil de se fazer, uma vez que a coisa mais queria fazer era correr para seus braços.

Agora, os gritos eram mais enlouquecedores ainda. Meu coração começou a bater rápido demais, minhas pernas a tremer, meu corpo a suar frio. Estava morrendo de ansiedade, mas com um pouco de medo. Fechei s olhos tentando me concentrar o máximo possível, inspirar e expirar. Senti Lucy me balançando.

- Bella, eles chegaram! – Sussurrou-me ao ouvido. Entrei no maior estado de pânico, não é possível, eles iriam passar a menos de um metro de mim e não podia fazer nada. Aquilo fez meu coração aperta e uma forte vontade de chorar. “Não, você não vai fazer isso!”, pensei. – Anda, pega a revista e fingi que está lendo! – Lucy ordenou-me. No mesmo instante o fiz.

Pronto, a porta já estava girando, eles estavam passando por ela. E num minuto a revista começou a tremer muito, joguei rapidamente na mesa e na mesma velocidade peguei o celular na bolsa, seria mais fácil fingir falar com alguém. Vi o olhar de Lucy sobre mim, mas nada fiz. Comecei a falar sozinha, como se estivesse com minha amiga ao telefone. E num minuto de pura naturalidade, dei uma risada alta. Isso bastou para ele me olhar.

Quando meu olhar se encontrou com o dele, era como se o mundo estivesse parado. Era como se aquilo houvesse anulado todos os meus sentidos, não conseguia fazer nada ou não ser mirar bem ao fundo dos seus olhos. Nada na minha cabeça fazia sentido, era uma sensação muito estranha. Não digo tudo isso por apenas olhá-lo e, sim, por ele ainda me olhar. Por continuar andando e ao mesmo tempo olhando-me. Vi um pequeno sorriso se formar nos seus lábios e, por conseqüência, nos meus também. Ele havia sorrido para mim! “Será que aquele sorriso era como se estivesse dando em cima de mim?” Consegui pensar depois dele ter entrado no elevador. “Não, acho que percebeu que era fã. Droga!”.

- Bella, o que aconteceu? Você está pálida, e tremendo. – Olhei para minhas mãos e confirmei que realmente elas tremiam. – Bella! – Ela gritou-me.

- Ham... Oi. – Disse ainda com meu olhar por onde ele tinha acabado de passar.

- Olha pra mim. – Pediu já virando meu rosto para ela. – O que aconteceu? – Perguntou ainda segurando-me. Balancei a cabeça voltando para realidade.

- Tom. Tom olhou para mim. – Respondi ainda meio lerda.

- O QUE? – Ela gritou já de pé.

- E sorriu. – E o seu sorriso voltou-me a mente, transparecendo na minha face. – Ele sorriu para mim. – Confirmei.

- Você sabe o que isso significa? Ele já sabe quem você é! Já vai saber... – Ela não continuou. Abria a boca várias vezes, mas nenhuma palavras saía. – Ele sorriu para você. Ele ta tão na sua! – Ela disse rindo.

- Para com isso menina. Ele deve ter descoberto que sua uma fã. – Respondi com medo. Se ele soubesse disso, nada correria bem.

- Não! Ele te achou bonita. Você nem ta parecendo que é fã com essa roupa. – Apontou para mim. Antes de eles chegarem, trocamos as roupas para não parecemos com fãs. Isso ajudaria. – Ai amiga, isso merece um abraço! – E veio até mim com os braços abertos.

Passamos um bom tempo abraçadas. Ainda não acreditava que aquilo aconteceu. Aquele sorriso tão cheio de segundas intenções, ou não. Ele me olhando nos olhos e não para mim. Isso me deixou realmente feliz.

- Lucy! E agora? Eu não olhei o número do andar no elevador! – Disse quebrando a abraço e já começando a puxar os cabelos.

- Relaxa, eu peguei. Oitavo andar. – E me entregou um papelzinho, lá estava o número do andar. Respirei mais aliviada.

- Ok. Agora eu vou ligar para meu pai. – Peguei o celular que ainda estava no meu colo e disquei o numero. Comecei a falar – Ele já ta vindo. – Disse assim que terminei.

Esperamos alguns minutos até ele chegar conversando sobre idiotices. Estava demorando muito para o meu gosto.

- Cheguei. – Disse um pouco ofegante com um copo de café na mão. – Eu parei numa cafeteria antes de vim para cá.

- Pai, você já sabe o que dizer, certo? – Perguntei com receio.

- Sim. – Ele respondeu dando um gole na café. Ele tinha aceitado fazer parte desse plano porque era meu presente de aniversário. E iria sair caro.

- Ta, agora vai pra lá e diz que quer um quarto no OITAVO andar! – Lucy informou-lhe.

Ele caminhou até o balcão onde ficavam duas mulheres. A gente voltou a sentar nas cadeiras. Eu olhava de vez em quando para ver como as coisas estavam indo, parecia bem. Demorou mais ou menos meia hora até ele voltar para onde estávamos.

- Pronto! Tudo certo. – Disse entregando um cartão, a chave do quarto. – 810.

- Valeu pai. – Caminhei até ele e dei um grande abraço.

- Ok, já vou indo agora. Se precisar de alguma coisa, é só ligar! – Já estava indo em direção á saída.

- Pai, temos que voltar para a fila -.-‘

- Oh sim! Esqueci-me. – Disse botando a mão na cabeça.

Voltamos para a fila, agora já estava completamente lotado e uma confusão. Faltava poucos minutos para os portões serem abertos. A cada minuto meu coração disparava. Eu não iria agüentar, podia sentir isso. Os portões foram abertos, foram abertos para onde todos os sonhos se realizam. Onde eu iria ver meu único e verdadeiro amor. Corri como se aquilo fosse minha vida, de certa forma era. Antes mesmo do show começar eu já chorava, não sei porque. Logo começou a introdução, aquela musica que deixava qualquer um aflito. Meus olhos brilhavam. Ele entrou com sua magnífica empolgação. Tocava de um jeito tão profundo, tão... não conseguia pensar em palavras.

Era sufocada por minhas próprias lagrimas, era sufocada pelas pessoas, mas iria ficar ali até o final. Até ele ir, e iria atrás. Começei a ficar mal, não estava nada bem. Não respirava, não me mexia, minha voz havia falhado. Comecei a chorar compulsivamente, não por não está bem, mas por saber que não agüentaria mais ficar ali e deixá-los. “Não! Você tem que ficar. Logo agora você vai embora? Fique!” uma voz surgiu na minha mente. Fiz meus movimentos concentradores, inspirar e expirar, deu certo. Logo já estava voltando ao normal. Não houve um momento em que as lagrimas saiam dos meus olhos, parecia um rio a correr livremente, eu simplesmente não conseguia contê-las. Foi então que Bill anunciou a última música, Forever Now, a qual eu mais gostava. Cantei com toda minha voz, a que sobrava. Era como se estivesse gritando mais alto que as fãs, mais alto que todas elas. Eles foram embora, foram para o lugar que eu também iria.

Saí completamente arrasada, mas feliz. Naquele momento não conseguia definir nada o que acabara de ocorrer. Nada. Voltamos para o hotel andando, meus pés doíam muito, mas não tinha outra escolha. Podia sentir a leve brisa no meu rosto, balançando meus cabelos e assim chegamos ao hotel. Fomos direto para quarto, estávamos cansadas, muito cansadas. Fizemos o que tínhamos o que fazer e nos deitamos na cama, conversamos um pouco sobre o show, mas Lucy estava com muito sono, então acabou dormindo. Eu não. Ainda podia sentir toda a adrenalina do show no meu corpo.

Pensei quão magnífico tinha sido. O que perfeitos eles podiam ser, muito melhor do que através das fotos. E pode, novamente, perceber aquele olhar de Tom. Tão intenso, tão verdadeiro. E com essa bela lembrança, adormeci.