O Segredo de Maria

...Maria reclamava disso:
- Ah, qual é Jana, te prenderam ai de novo. Falou Maria depois de sair para a sacada de sua casa, olhando a ruela calçada de pedra e o céu estrelado.
-Não me prenderam aqui, sou a chefe do meu setor e fiquei por que sei que só eu posso resolver estes pepinos que me arranjam. Maria e Jana eram brasileiras, apesar de Maria morar em Portugal, e Jana na Alemanha, se conheceram em Berlim em outros tempos, quando Maria era outra pessoa.
-Tudo bem eu te perdoou, mais uma festa pra amigos não é o mesmo sem você, tu sabe.
-Obrigado meu anjo, então parabéns de novo, e eu vou te arranjar um trabalho aqui na minha agência, ai tu volta aqui para Berlim, e nos veremos todos os dias. Maria gritou sua resposta meio descontrolada, e sua voz fez eco nas paredes das casas vizinhas, chalés grudados uns nos outros como a casa que ela mesma morava.
-EU NÃO VOU VOLTAR PRA BERLIM. TU SABES QUE EU NÃO CONSIGO. Os outros convidados não ouvirão os gritos dela porque a música tava alta e ela estava do lado de fora.
-Desculpa Maria, e não se descontrole. Respirando profundamente e virando-se de costas para rua o corpo apoiado na sacada, Maria falou:
-Eu não estou descontrolada, eu não estou descontrolada. Mais para si acalmar do que para tranqüilizar a amiga. Fingindo que nada havia acontecido Jana continuou:
-Você sabe que por aqui teria melhores empregos e melhores salários, eu poderia arranjar um bom para você, o melhor que me aparecer, talvez não aqui na cidade (disse ela evitando falar Berlim e descontrolá-la novamente) nós arredores. Brincando com a amiga Maria falou.
-Se você me arranjar algo como um trabalho com um super star talvez eu aceite. Só assim. Entrando na onda da amiga Jana continuou:
-Bem se eu conseguir isto você terá de aceitar imediatamente. Rindo-se Maria respondeu:
-Combinado então, eu vou ter de aceitar. Continuou mais seria agora.
-Sinto tanto tua falta, sempre me fazes rir. Mas agora vou ter que voltar pra minha festa, que está muito boa por sinal (ela deu uma olhada pra dentro, todos já estava de porre de vinho, e alguns dançavam no meio da sala ao som de um fado, que alguém havia trazido, e que tinha sido esquecido entre os CDs, mas que agora tinha se tornado a melhor música da noite, pois fazia os mais empolgados dançar atrapalhados enquanto os outros riam deles) ela contou o fato para Jana que teve de concordar que estava perdendo uma boa festa. Maria desligou o celular...

.... Maria desligou o celular.
Ela ajeitou seu imenso cabelo negro e liso às costas. Atravessou a sala onde João tentou tira-la pra dançar abandonado seu par que quase caiu ao chão, e que agora tava dando-lhe tapas nas costas, bem ela tentava acertar as costas dele mais às vezes dava-lhe no pescoço ou na cabeça, Maria riu da cena e continuou, foi até o banheiro olhou seus olhos azuis no espelho ajeitou o decote de seu vestido vermelho, sabia que tinha uma noite longa pela frente, não que estivesse a reclamar disso.

Em Berlim Jana passou a mão por seu cabelo curto e loiro e espreguiçou-se na cadeira ainda em frente a seu computador, passou o dia arrumando papeis que foram misturados por uma assistente, atrasando os trabalhos da agência inteira, resolveu andar um pouco para esticar as pernas, tinha 32 anos e achava que sua circulação não andava bem, ao levantar viu que seu terninho estava todo amassado. Ela caminhou até as janelas do seu escritório, elas cobriam de cima a baixo o lado direito da sala, substituindo a parede olhou para baixo estava no último andar, via lá em baixo uma imensa sombra quadrada que o prédio formava no asfalto por causa da noite enluarada, e por estar num típico prédio de Berlim, de estrutura forte e parecendo um imenso cubo. Lembrou-se da Maria de outros tempos andando ali em baixo na rua com ela, num dia ensolarado de verão, falando sobre sua vida de casada, que para Jana não tinha nada de tão interessante assim, bom tempos aqueles, Maria era outra pessoas, mais calma e tímida.
Em Hamburgo as coisas não andavam bem para o chefe da equipe de som da quarta Tour dos Tokio Hotel, que precisava de um novo assistente bom e urgente. Eles que após o terceiro Tour mundial que durara dois anos com pequenos intervalos, tinham tirado um ano inteiro de férias. Com novo álbum tão esperado pelos fãs andariam por uma Tour Europa- America, muito exclusiva. O homem chamou revoltado David o agente em um canto, os rapazes que estavam em palco fazendo checagem de som, para aquele que seria o show de abertura me Hamburgo, olharam para a cena curiosa.
-Faz uma semana que te pedi pra ver isso, por hoje até que posso passar, pois não temos tanta pressão mais para frente eu preciso de alguém.
- Se acalme Albert. Não tenho culpa disto, eu estou preocupado mais do que ninguém (Albert o interrompeu dizendo, não mais do que eu, David assentiu e continuou) mais não posso fazer nada a única agencia especializada teve um problema com os papéis, mas prometeram resolver isso esta semana. Albert saiu resmungando
-Mais uma semana que descaso como se o som fosse algo dispensável. David se sentiu aliviado por o homem ter ido ficou com medo de levar um soco na cara.
-Que aconteceu desta vez? Disse Tom enquanto sentava-se na beirada do palco, segurando as calças de ganga para não pisar nelas.
-Um assistente ele precisa de um assistente. Tom sorriu empolgado para David.
-Tour, mais uma Tour. Estava com saudade disto, principalmente das brigas e discutições e dos problemas. David olhou para ele como se ele tivesse acabado de declarar que ia se casar, algo improvável.
-Não me olhe assim é verdade, (riu-se) um ano de férias, fiquei até entediado com ela, senti saudade da ação. Tom levou um susto que quase caiu de cara no chão, Bill gritara Tour no microfone, estavam muito empolgados e divertidos, muitos dispostos depois do ano de férias, e o novo cd ia melhor do que o esperado.

M aria estava num carro ao seu lado seu marido Teddy. Estava com sono e estava quase a dormir atrás seu filho dormia deitado no banco com a cabeça para o lado do banco do motorista, ele tinha apenas um ano, e como não dormira à tarde por causa da bagunça na casa de Jana, dormia profundamente. Maria acordara a pouco assustada para olhá-lo com medo que tivesse rolado do banco ao chão, mais ele dormia imóvel, Teddy lhe falou em alemão para ela voltar a dormir para não se preocupa que ele estava a vigiar, Igor pelo retrovisor. Despreocupada ela voltou a fechar os olhos e dormir. O carro fez uma curva fechada em uma parte da estrada que era ocultada pela parede de pedra de um morro, quando Teddy enxergou o resto da estrada um caminhão vinha na contra mão, seu motorista dormira ao volante, na presa de desviar do gigante Teddy fez o carro dançar na pista, ele fez a volta pra direita e o caminhão bateu do seu lado esmagando toda a lataria do lado direito, matando ele e Igor que dormia com a cabecinha deste lado, Maria ainda abriu os olhos antes da colisão vendo apenas as luzes do farol do caminhão vindo em sua direção e desmaiou. Maria acordou toda suada e o rosto coberto de lágrimas, não sonhava com isso há muito tempo, levantou e foi ao banheiro, lavando o rosto culpou Jana que por falar em Berlim a fez sonhar com aquilo de novo. Olhou pro espelho, seus olhos fundos e vermelhos, repetiu diversas vezes as mesmas palavras para sua imagem:
-Isto não aconteceu comigo, isto não aconteceu comigo. Sem parar por quase meia hora. Quando se acalmo sentou na beirada da cama, e começou a lembrar de quando acordará no quarto de hospital, e Jana entre lágrimas lhe contará o que sucedera, era tão injusto que ela tenha saído do acidente quase intacta, por que não tinha ido com eles, sem eles não queria mais viver. Depois de passar semanas, trancada em casa a sua amiga, sempre era ela que vinha a seu socorro, sugerirá para ela que trocasse de país que fizesse algo longe dali, sem mencionar o ocorrido nem uma vez, ela foi também a primeira que deixou de falar sobre a morte dos dois e Maria desconfiava que fora ela que sugerirá que os outros também o fizessem. Jana fora prestativa venderá as coisas a casa e cuidou dos papéis e ela voltará a Faculdade que abandonara por causa da gravidez, outros tempos onde ela achará que teria uma família para cuidar, fizera isso na época sem problema algum julgava a família mais importante, e ainda agora três anos depois trocaria de bom grado sua vida agitada e o diploma maravilhoso que obtivera pelos dois vivos na sua frente mais uma vez.Deitará no meio da cama sem se cobrir, ao olhar para o chão imaginará Igor segurando se na beirada da cama, como fazia quando aprendeu a dar os primeiros passos. Sorrindo para ela, e adormeceu.