Capítulo 141 – As Cinzas
Oeee!!! Calma, garotas! Então, antes que a luz acabe de novo (já está piscando aqui), mais um capítulo-tortura. Até o próximo, boa leitura! (Ah, achamos que a fic dura até semana que vem, se tudo ocorrer nos planejados)_________________________________________________________________________________________________________
Cristine
Hospedei meus pais no meu apartamento, seria melhor ficar um tempo sem tantas lembranças de Glória.
- E os Kaulitz, como estão? – Meu pai perguntou assim que deixou as malas no chão.
- Estavam bem desde que eu saí do hospital. O Tom deve ser transferido daqui há pouco, o Bill vai para a mesma clínica, assim que sair do CTI.
- Ele está tão mal assim?
- Sim. Mas... ele está muito destruído em seus sentimentos. Ele se sente totalmente culpado pelo que aconteceu – quando quem se sentia culpada era eu. Eu que estava casada com o terrorista que havia causado tudo isso.
- E seu marido?
- Ex-marido – disse, claramente – eu não sei mais dele.
- Filha, qual foi a última vez que dormiu?
- Boa pergunta.
- Vamos. Vá tomar um banho, e dormir. Eu cuido da sua mãe – ele disse, olhando em direção ao quarto de hóspedes. Mamãe estava agarrada a uma foto de Glória, com o olhar vazio.
- E o senhor?
- Alguém tem que ser forte. Vou deixar para desabar depois.
- Mas... ela é a sua filha...
- E eu sou o pai de vocês duas. Eu preciso ser forte, Cristine. Por você, pela sua mãe. Ser forte assim como sua irmã foi.
- E-eu acho... – voltei a lutar como nó na garganta – que a Glória nunca foi forte. Mas sempre quis levar os problemas no mundo nas costas, e nunca aceitou ajuda com os próprios problemas. Porque ela tinha de ser assim, pai?
- Porque a sua irmã nunca foi como nenhuma outra pessoa que conhecemos. E está dizer em dizer que ela não era forte. Simplesmente tiravas forças de não sei onde, sendo inabalável, como o concreto.
Fomos interrompidos com o telefone tocando. Corri para atender.
- Hallo?
- Cristine, é o Gustav. - Oi. Pode falar.
- Quer que mandemos um carro para você? O Tom vai ser transferido de hospital. - Se puder, eu agradeço. E o Bill?
- Ele... – Gustav parou de falar, como se quisesse tomar ar –
ele está sendo sedado 24 horas. É melhor.
- O que aconteceu?
- Os médicos estão com medo que ele surte. - Nós sabemos do risco.
- Eu ainda me recuso a acreditar que isso esteja acontecendo... - Eu sei. Mas é a nossa realidade agora.
Fiquei um pouco com a minha mãe. Perguntei se ela estava bem, mas vi que não tinha forças para responder. Não havia o que dizer para uma mãe que havia perdido a filha, assim como tudo o que me dissessem sobre consolo não ia me ajudar em nada. Quando me chamaram, eu dei um beijo na testa de minha mãe, tendo certeza que ela não o sentiu.
A confusão de fãs na entrada do prédio já era de se esperar. Vestindo um sobretudo cinza-grafite e óculos escuros de lente degradê, eu entrei o mais rápido possível no carro, que quase tinha de passar por cima das pessoas para sair. Os flashes eram generosos, todos em minha direção. A mídia como sempre, queria lucrar ao máximo. E eu dava muito lucro para a mídia européia.
A UTI móvel já estava estacionada quando chegamos. Quando cheguei, Dona Simone estava com uma compressa de gelo no lábio de Tom. Ela tentou sorrir a me ver, e fiz o mesmo.
- Oi, meu lindo. Como você está?
- Meio quebrado... e seus p-pais?
- Estão na minha casa. Eles vão ficar bem. Eu espero...
Um médico chegou acompanhado de mais dois enfermeiros. Eles o examinaram rapidamente, e diminuíram a quantidade de soro, mesmo assim feririam colocar oxigênio. Dona Simone iria ficar com Bill, eu segui na ambulância até a clínica. Eu podia ouvir toda a confusão do lado de fora, mas desta vez era impossível que tirassem fotos nossas. A ambulância era escoltada por carros oficiais, e eu sabia que o FBI tinha algo haver com isso. Senti que ele apertou mais minha mão.
- Que foi?
- Ninguém falou do meu irmão até agora. Cris, se você teve algum contato com ele, por favor, me diz: ele não está bem, não é?
- Não sei se sua mãe ia querer que eu dissesse algo.
- Eu es-stou implorando...
Eu neguei, prendendo os lábios para não falar.
- Ótimo! Eu vou estar num hospital longe dele, e não posso nem s-saber como meu irmão está!
- Tenha um pouco mais de paciência...
Ele virou para o lado, com raiva. Do que ia adiantar para ele dizer o prontuário de Bill? Que ele ainda corria risco de morte? Que seu coração poderia parar a qualquer instante? Que ele desejava morrer mais do que tudo?
- Eu sei que não d-devia pedir isso, mas... pode prometer uma coisa pra mim?
- O que?
- Pode ser algo difícil demais. Eu vou entender se não puder.
- Fala.
- S-se o... – ele tossiu, eu ajudei para que ele cuspisse o sangue. Ele continuou se segurando em mim, e passou a sussurrar – se o Bill não melhorar... se for o fim dele... eu estou autorizando você a que me dopem... e tirem meu coração para o meu irmão.
- Se você pensa que eu vou permitir...
- Me prometa que vai f-fazer isso – olhei espantada para ele. Vi determinação em seus olhos.
- Não. Nunca.
- Cristine, por favor...
- Não adianta, por mais que me peça.
- Quero que peça os papéis para mim quando chegarmos lá. Minha mãe não iria permitir.
- E eu compartilho da mesma opinião! O Bill vai ficar bem, e você vai se tratar, e não pense em bancar o herói mais uma vez. Não pensa nem um pouco em mim nessa escolha? E eu, Tom?!
- Eu só quero que ele fique vivo...
- Ele vai ficar. Ele já está.
Quando chegamos na clínica, ele ainda insistia no assunto. Eu não lhe dei ouvidos. Fiquei o esperando em seu quarto particular enquanto refaziam exames e trocavam suas ataduras. Ele voltou agitado, falando alto. Suando frio.
- O que houve?
- Tivemos de trocar os pontos superficiais que fizeram na perna dele. Do jeito que fizeram, ele jamais iria se curar. – O médico me explicou.
- Sem anestesia.
- A dor já vai passar, senhor Kaulitz.
- Não. Essa m-merda de dor não vai passar nunca mais.
- Não fale assim. Doutor, eu acho melhor colocar algum sonífero no soro dele, ele não dormiu nada. – Sugeri.
- Não, eu me recuso, quero ficar acordado!
- Sua... afinal, a senhora é...
- Minha noiva, por quê?! – Ele disse, irritado. Eu e o médico travamos.
- Sua... noiva tem razão. Vou colocar morfina, vai ajudar na dor.
Ainda sem entender, esperei pacientemente que o médico fosse embora. Tom tratou de fechar os olhos rapidamente quando me aproximei.
- Você é um bipolar, sabia?!
- Por quê?
- Primeiro, quer se matar. Depois, eu sou sua noiva?
- Não oficial, vou pedir você de forma certa, quando puder sair dessa merda de cama...
- E se eu disser não?
- Então não negue o que eu te pedi.
- Que saco, Tom! Não me irrite, eu realmente não estou com paciência. – Sentei com raiva.
- Vai casar comigo um dia?
- Se parar com a história do suicídio, eu prometo pensar.
- Então eu tenho chance?!
Sorri de verdade pela primeira vez em muito tempo ao ver sua carinha de criança, cheio de esperanças.
- Você nem sabe quantas chances tem.
- Vem aqui linda, eu não posso ir até você.
Sentei na beira da cama. Ele tocou em meu rosto e eu procurei desesperadamente por algum consolo.
- Como nós estamos vivos...?
- Não faço idéia. Mas com certeza não sou normal.
- Por quê?
- Qualquer pessoa normal estaria em estado de choque em tudo o que houve nas últimas 48 horas. E estou aqui, cuidando de você... deixando que meus pais e o mundo chorem por mim...
- Eu sinto muito por tudo isso.
- Evite dizer isso. É ruim demais.
- Acha que nós... vamos ser os mesmos um dia?
- Duvido muito.
Meu celular tocou. Uma mensagem de Dona Simone sobre o hospital geral. Eles precisavam de minha assinatura nos papéis... de óbito da minha irmã. Meu pai não conseguiu assinar, minha mãe estava sem condições.
- Tom... Gustav e Lana vão vir aqui, ficar com você.
- O que aconteceu?
- Tenho... confirmar oficialmente a morte da minha irmã.
- Logo agora? Não podem esperar?
- Quanto antes, melhor. Já imaginou quantos atestados de óbitos estão pendentes?
- Não quero mesmo imaginar...
- Fique bem enquanto eu estiver longe. Volto assim que puder. Te amo.
- Seja forte, só mais um pouco. Amo-te. – Ele disse já grogue, quase sucumbindo ao sono.
Assim que saí do quarto, os dois oficiais do FBI que já conhecia bem estavam sentados perto dali. Levantaram-se assim que me viram.
- O que estão fazendo aqui?!
- Precisamos interrogar Tom Kaulitz.
- Ele está sedado agora, não está em condições de falar.
- Desculpe, senhorita, mas nós não temos tempo.
- Ele não tem mais nenhuma ligação com vocês. Conseguiram evitar o pior, e mesmo assim o irmão dele está à beira da morte, e a minha irmã morreu. Não temos o que falar sobre isso.
- Só estamos seguindo os procedimentos...
Antes que ele terminasse, os seguranças da banda apareceram no elevador. Ficaram tensos ao ver aqueles homens me encarando.
- Algum problema, Cristine?
- Sim, alguns, Saki. Você poderia me acompanhar para voltarmos ao Hospital Geral? Tobi e Dirk, por favor, fiquem com o Tom. Ele não deve ser incomodado em hipótese alguma.
- Pode ir tranqüila – Dirk me respondeu, já se posicionando na entrada do quarto.
Nós passamos outra vez pela passarela, e dava para ver a intensa movimentação no que restou do aeroporto – agora, era mais a mídia, já que as equipes de resgate estavam ocupadas nos escombros. Eu evitei olhar para aquilo, sabendo que teria de passar pelo lugar em que ela havia morrido várias vezes.
Até que o vidro passou a ficar manchado. Pequenos flocos passaram a tingir o céu, vindo na direção do vento. De início, pensei que fosse neve, mas era muito cedo para isso. Eram as cinzas.
Cinzas que haviam restado do fogo estavam caindo. Saki teve de ligar o limpa - vidros.
- Pare, por favor.
- O que?
- Pare. Eu preciso que você pare.
Eu não era a única na calçada daquela passarela. Várias pessoas – deixando velas, flores, fotos e mensagens – também paravam para ver o que havia restado. Ate mesmo o ar tinha cheiro de queimado. Sem esboçar alguma emoção, eu dei uma boa olhada nos escombros. Helicópteros sobrevoavam a área. Ambulâncias saíam e chegavam a todo segundo. Mais o pior, era o silêncio que toda aquela dor causava – o silêncio gritante, que feria. Saki veio até mim, e jogou seu grande casaco no meu ombro.
- Eu ainda não consigo acreditar que ela morreu... mesmo vendo... não restou nada do avião. O que vamos enterrar? Um caixão simbólico?
- Ainda vamos ter tempo de ver isso. Vamos, Cristine. Está ficando cinza de tanta fuligem.
Eu murchei. Não me importei de quantas fotos minhas tiraram, nem com quantas pessoas me pararam para me dar os pêsames. O médico que estava cuidando do caso de Bill me deixou num pequeno consultório vazio. Em cima da mesa de vidro, somente o documento e uma caneta.
Tentei ler, mas a emoção foi mais forte do que pude suportar ao ver o seu nome.
Assinei o atestado de óbito de qualquer forma.
Durante o resto do dia eu não consegui mais falar. Bill era mantido sedado constantemente, seu estado era deplorável. Mas eu já havia sofrido demais nos últimos dias para me comover.
E mais uma vez, teria uma difícil prova. Teresa iria chegar no outro dia, acompanhada de Brian, Victória, minha amada amiga de faculdade, e até mesmo Lukas viria. Pelo menos Teresa estava lá para me ajudar com os preparativos do enterro e para o futuro – a leitura do testamento.
Não dormi em nenhum dos hospitais, preferi voltar para casa. Eu e meu pai ficamos vendo fotos antigas até altas horas da madrugada, até mesmo sorrindo de algumas lembranças. Eu dormi sendo abraçada por ele no sofá, e sentindo suas lágrimas discretas entrando em meus cabelos, e me dando conta que finalmente eu conseguia secar meus olhos.