Lillian Gallegahl.-A Caçadora de traidores.

“Traição, como uma forma de decepção ou repúdio da prévia suposição, é o rompimento ou violação da presunção do contrato social (verdade ou da confiança) que produz conflitos morais e psicológicos entre os relacionamentos individuais, entre organizações ou entre indivíduos e organizações. Geralmente a traição é o ato de suportar o grupo rival, ou, é uma ruptura completa da decisão anteriormente tomada ou das normas presumidas pelas outros.”
Quando terminei de ler aquilo um bolo se desenvolveu em minha garganta. Tão horrível; que dava a sensação de não poder respirar. E todo aquele desespero correu pelo corpo. Em poucos segundos até o meu estomago se revirava.
Eu jamais imagine uma traição por parte do meu marido...
Mas é sempre assim; Agente nunca imagina até que do nada a bomba caí no seu colo; E o pior, não dá nem pra jogar a culpa em alguém... A culpa era única e exclusivamente minha.
No começo eu achei que era uma fase. Um desinteresse completamente natural. Coisa de homem. Afinal estávamos casados há cinco anos. É normal que depois de um tempo o cara já comece a dar uma relaxa no que diz respeito à convivência conjugal.
Em dezembro do ano passado comemoramos o aniversário do nosso casamento com uma enorme festa organizada por mim e pela mãe dele; A adorável Simone, mulher inclusive que eu seria capaz de confiar minha vida. Tamanha a nossa compatibilidade e simpatia uma pela outra.
Nos preparativos para a festa estava correndo tudo bem até que minha mãe deu as caras e logo se pôs a destilar seu veneno.
#Flashback ON;
Eu estava de pé; um pouco mais alta pelo par de sandálias prateadas que se agarravam confortavelmente aos meus pés. Tinha em minhas mãos uma porção de rosas brancas e pretendia arruma-las com o máximo de perfeição no vaso de cristal checo que havia ganhado de casamento há cinco anos.
Podia parecer estranho, mas eu reconhecia cada item naquela casa. Cada milímetro tinha minha cara. Eu sabia onde estava cada grão de poeira. E lembrava-me das datas que haviam chegado ao espaço.
Todos espantavam essa minha capacidade.
Mas meu pai sempre disse que eu era muito observadora então... Essa era a desculpa.
Recebi um toque frio pelas costas e me assustei.
-Sinto em incomodá-la Sr.ª Maysa, mas sua mãe está aguardando sua presença na sala de estar. -avisou Emil; Minha governanta.
Engoli o seco e deixei as flores sob a mesa de vidro no corredor principal.
Desci um curto lance de escadas e encontrei Jessica com uma taça de champanhe nas mãos.
Não deu pra evitar o rolar de olhos súbito que me deu.
-Oi mãe. -cumprimentei um tanto desanimada. -A que devo sua visita?
-Não seja boba Maysa... Hoje é o seu aniversário de casamento. E por isso estou aqui. Tive de vir com as próprias pernas já que você não mandou um motorista. -Explicou com o típico oportunismo que possuía.
Tom não gostava da minha mãe. Achava-a inconveniente; pretensiosa. Chegava afirmar até que Jessica nunca gostara de mim. Dizia aquilo como se soubesse da missa a metade; Como se tivesse o resumo da minha vida em suas mãos.
Por esses e muitos mais outros motivos eu nem havia convidado a peça.
-Cadê o Tom?-perguntou Jessica.
-Trabalhando. Escuta mãe... Por que não vai pra casa? Sabe a festa ainda não começou. -tentei contornar a situação mandando-a embora de uma vez por todas.
-Vai deixar que aquele imbecil mandar em você?-questionou minha mãe.
-Ele não manda em mim, mãe... Por favor. -pedi.
Ela riu transparecendo o lacrimejar.
-Você sabe que ele está te traindo não?-perguntou.
Engoli o seco.
-Mãe, uma taça pra você é demais. Recomponha-se. Por favor. -Implorei.
-Se quiser fechar os olhos, tudo bem. O problema é seu. Mas não queira me calar! Por que eu não vou! Eu jamais gostei daquele rapaz... E agora que você já tem motivos pra pedir o divórcio e sair por cima desse casamento infeliz você dá pra trás. Mas é a sua cara.
Engoli o seco e ela veio até mim; Levantou meu rosto.
-Eu te amo. -sussurrou.
Jessica largou a taça de cristal vazia sob a mesa de centro e abriu a porta da rua sozinha. Sem olhar pra trás ou sem mais despedidas.
Respirei fundo e tracei o caminho de antes, desta vez na direção oposta até o meu quarto. Meu refugio particular.
Atirei-me com a rapidez de uma fera felina na cama; Agarrando os lençóis de linho claro com força.
#Flashback OFF.
Desde aquele dia eu fiquei cismada com a ideia dele me trair... Tanto que navegando na internet encontrei um site interessante.
“Homens caçam não? E as mulheres também! Especificamente uma;
Pra que ter dúvidas? Tenha a verdade por uma módica quantia! Entre em contato.
Escritório em Seattle.
Ligue:
6853-8785
E chega de segredos!”
Peguei meu celular e sem pestanejar comecei a discar os números nas teclas iluminadas do aparelho.
É...tem razão...Chega de segredos!

“-Srtª Gallegahl, temos visita.”
“-Manda entrar criatura!”-Falei.
“-tudo bem.”-obedeceu Julie.Ajeitei meu casaco de algodão no tronco e prendi as duas extremidades do tecido em um só com os botões de moldura dourada e madrepérola. Dei atenção também aos cachos ruivos que ficavam mais brilhantes em contato com a luz do sol; Que entrava pela janela e aquecia minhas costas.
Não havia recebido muitas clientes naquele curto período de três meses. Quero dizer, a maioria tratava de seus assuntos comigo por telefone. Acreditavam ser mais seguro do que mover-se até o centro da cidade.
Não entendia muito bem aquilo.
Tratei de montar meu negocio em um bairro residencial pra que não desse muito na vista. Afinal eu estava encarregada de invadir a privacidade de um homem; Tomar seu espaço lentamente e descobrir tudo o que fosse possível.
Algumas vezes eu me surpreendia com o tamanho da canalhice... Tinha pena das donas de casa que já foram felizes com aquele tipo de imbecil e egoísta. Mas enganam-se aqueles que acreditam que nesse trabalho tudo é triste.
Também havia as psicóticas possesivas que acreditavam de pés juntos que seus namorados e maridos as traiam. Quando tudo o que os caras faziam era almoçar com uma colega de trabalho ou visitar a própria mãe.
Não sabia ao certo se deveria repreendê-las e dizer que elas seriam as futuras terroristas mais procuradas do mundo se continuassem a transformar a vida de seus companheiros em um cubículo. Às vezes empregamos nossa confiança em que não merece. Em quem não vê nada... Só o próprio nariz.
Naquela manhã havia acordado decidida a fazer tudo diferente. E eis que eu tinha uma oportunidade...
Um toque sutil na porta fora ouvido e eu autorizei a entrada da pessoa com um sonoro “Entre, por favor.”.
A maçaneta fez uma volta para a esquerda e a porta abriu-se; Permitindo que eu visse a mocinha de aparentemente uns 20 anos.
Mantinha sua bolsa dourada de marca junto ao peito como se estivesse desconfortável na situação. Fiz menção para que se sentasse em uma das cadeiras de couro caramelo. E ela o fez.
Via as lágrimas surgirem nos cantinhos de seus olhos castanhos.
Empenhei-me contra a mesa e sorri.
-Meu nome é Lillian. -sussurrei.
Ela esboçou um leve mostrar de dente sutil.
-Eu sou Maysa. –murmurou. - perdoe aparecer sem hora marcada; Mas eu ligava pra cá e ninguém atendia.
Engoli o seco.
-Ahm. Um problema que será controlado em breve. -avisei. -mas conte-me; O que anda havendo?
Ela ficou apreensiva.
-Meu marido... Quer dizer... Minha mãe; acha que meu marido está me traindo. E eu não sei o que fazer... -Tudo o que ela havia me dito até agora estava soando tão infantil. Mas ao mesmo tempo algo que merecia atenção.
-Pode me explicar com mais detalhes senhorita... Ahm...
-Kaulitz. -murmurou.
Naquele instante um sopro frio correu a minha espinha com velocidade e um bolo na garganta me impediu que eu prosseguisse com a palavra.
-Ka-kaulitz?-gemi surpresa.
Engoli todo o choro que queria escapar pelos olhos e me levantei.
-AH, Senhorita Maysa pode voltar outro dia?-perguntei logo em seguida me sentindo a pessoa mais antiprofissional do mundo. -Lembrei-me de um compromisso urgente.
Ela iria protestar.
-Eu faço a nossa consulta por conta da casa; Prometo. Segunda que vem pode ser?-perguntei depressa sentindo que iria desabar.
Ela assentiu.
-Tudo bem então. -Levantou-se da poltrona e saiu porta fora sem proferir mais nenhuma sílaba.
Eu queria grunhir... Expulsar de mim todo o ódio que estava sentindo naquele momento. A esposa de um canalha havia me procurado mais uma vez; Procurando as respostas pra perguntas simples demais.
Então quer dizer que o Kaulitz casou-se com aquela adorável garota-que aparentemente era tão inocente quanto uma criança de cinco anos- E agora a traia em um quarto de motel barato.
Ok; Maysa não havia dito nada sobre aquilo; Mas é muito simples de se imaginar.
Igualei a situação que havia passado anos atrás a dela no momento. E me prontifiquei a ajudar.
Eu me reencontraria com o aquele sopro de desgraça de novo...E o caçaria até no inferno.