That unforgettable trip

Nunca imaginei onde e como eu me viraria em um país distante, nem em como sobreviveria sem uma base. No momento minha base é inexistente, sou eu por eu mesma. No momento não há muito que dizer. Toda a saudade, toda a desaprovação e todo o orgulho se foram junto com o resto, aliás, nem o resto me sobrou... Sou somente eu. Ele só chegou para me relembrar que eu era só, apenas entrou na minha vida para me dar a convicção de que eu sempre serei assim. Eu sempre soube o fim das histórias antes mesmo delas começarem...

- Gabriela, nossa viagem é na próxima semana. – foi só o que eu pude ouvir enquanto escovava os dentes de Brian. A mãe dele, minha chefe, acabara de me anunciar mais uma de suas infinitas e fúteis viagens, era só que ela sabia fazer. Viajar, viajar, comprar, gastar e beber. Resumindo, ela era uma mulher rica, estilosa, cheia de energia e com um marido que nem liga pra ela, típico de perua mal-comida, ou não. Eu apenas acenei depois de toda essa conclusão.

O dia de hoje era comum como qualquer outro na semana. Acordar, levar Brian e Paris para o colégio, ir para meu curso, depois ir buscar os dois, almoçar em qualquer canto, levar Paris ao ballet e Brian ao Tênis e chegar em casa de no fim da tarde para fazer algo para eles e logo depois dormir... Típica vida de babá 24 horas.
Vocês devem estar pensando, “Babá?”. Claro, esse não é meu sonho de carreira, aliás, eu nem sei o que quero, depois que meus pais e meu irmão morreram de uma só vez não me sobrou muito no que pensar. Eu já era sozinha, eu e eu mesma, mais ninguém.
A semana passou voando, era uma vida tão sistemática que eu nem notava o céu, não notava o meu redor, nada, eu era robotizada, programada, traumatizada. Acho que dramática também.

- Brian e Paris, vamos rapidinho colocar as coisas no carro. – disse para os pequenos que me adoravam. Nós apostamos um tipo de corrida, sendo barrados pelo pai. Oh God, que homem – Bom dia senhor. – ele sorriu do mesmo jeito de sempre, seco e lindo, eu não dava em cima do meu chefe, não pensem isso, mas ele era lindo demais para eu não notar. Ele acenou com a cabeça e continuou a ler seu irritante jornal, o mesmo que me fez ficar semanas nos classificados, eu os odiava.

O destino das viagens é sempre dito no dia de fazer as malas Quando eu soube odiei. Ah, como eu odeio praia! Que graça tem? Ficar torrando no sol, suando feito uma retardada, sujar toda a roupa de areia, ter que correr de um lado para o outro atrás das crianças e ainda ficar melecada de protetor solar infantil... Sim, eu tinha que usar o deles para incentivá-los. A única coisa que me atraia na praia era o mar à noite, o cheiro de sal com algas indefinidas, me dava certa tranqüilidade, era só o que me permitia sorrir e arrumar minhas malas... O pior de tudo é usar biquínis! Da última vez que usei um maiô, Brian me disse que eu parecia a avó deles... Então, resolvi apelar pra uns biquínis retrós, meio grandinhos, sabe como é.

- Ah, Jared, meu sonho era ir para as Maldivas! – minha chefa soltou essa no carro, como todas as outras vezes, e colocou as mãos no Jare... Ops, no senhor McGarden, é, assim que eu devo chamá-lo sempre.
- Você tem muitos sonhos, cada hora é um. – cuspiu essa, tornando o clima no carro tenso. Ela sorriu sem graça e continuamos o caminho até o aeroporto.

Não pense que nós íamos pegar um avião, não. Era jatinho mesmo. Pois é, o cara cagava dinheiro. Era lindo, cheio de plásticas, bem vestido, cheiroso e arrogante... Infelizmente. Bem, eles não se davam ao luxo de um atraso de vôo ou algo do gênero, a nossa linda [arg] viagem estava prestes a começar.

O vôo foi tranquilo, umas garrafas de champanhe estouradas, muito comida pequena e ruim... Sorte que as crianças gostavam de McDonalds, então nessa eu me sai bem. Muito desperdício, tanta gente passando fome e eles abrindo garrafas e garrafas de champanhe de 2.500 dólares para tomar uns dois copinhos, é só ela esquentar e parar de borbulhar que eles quererem outra. Céus, preciso parar de observar isso.

Paris estava muito entretida com seu notebook, ela já tinha 11 anos e se considerava adolescente. Brian estava dormindo, pela graça do bom Deus. Peguei meu I-pod e cacei as músicas. Parei no som viciante de Taylor Swift.... Tá, isso foi meio gay, mas as músicas dela me levam à atmosferas inexistentes... Tão melódicas e ao mesmo tempo impulsivas, histórias que eu sempre me identificava de alguma maneira, e eu sempre curti um country, e por ai vai...

Chegamos as Maldivas à noite, passaríamos o maldito ano novo lá,. Já falei que odeio réveillon? É, EU ODEIO, muito, sempre. Virada de ano e aniversário sempre me deixavam depressiva, odiava a idéia de envelhecer e ainda não ter um plano da vida, eu era apenas “a babá”. Entramos em um hotel, mas foi só pra jantar. Após o jantar, o carro parou em uma praia, linda, com pequenos chalés situados no próprio mar. Uma vista perfeita de mar calmo e a imagem clara da lua refletida no mesmo, tão exuberante. Fomos na direção de um dos chalés, que aliás eram big-chalés, gigantes, com piscina e tudo. O nosso era um dos últimos, próximo das pedras gigantes onde, do outro lado, se encontrava o mar mais agitado. Avançando após nosso chalé, haviam milhares, um seguido do outro, com um bom espaço entre eles, claro. Tudo tão lindo.

Coloquei as crianças pra dormir e fui para a varanda sentir o cheiro inebriante do mar. Sentei-me no tablado de madeira e fiquei observando a lua durante um bom tempo. Sabe aquelas luas gigantes de filmes e desenhos? Aquelas que refletem no mar bem lá no fundo fazendo um caminho até o seu próprio pé? Era daquelas, nem parecia noite, tamanha era a luz que era refletia, senti que estava perto, quase a poucos quilômetros dela.
Eu estava distraída demais para perceber que tinha alguém em alguns quiosques, dali também estavam observando a lua. Só pude perceber a presença de outra pessoa por peto, ao ouvir um barulho de água e uma pedrinha dando pulinhos até pairar e afundar. Olhei para a sombra que havia jogado as tais pedrinhas e enruguei os olhos tentando ver melhor, em vão. Mesmo com toda aquela luz não consegui ver nada, apenas a figura de uma pessoa no escuro, ele ainda olhava pra frente, sem notar a invasão visível de minha parte. Logo a figura se virou e eu observei apenas a sombra de seus cabelos cumpridos. Certamente era uma mulher, sem peitos, ou um homem cabeludo, enfim, isso não importa agora..