Bill: L.A. tem sido tão diferente para nós, na nossa vida. Podemos fazer as coisas mais simples, mais normais, como sair para caminhar com os cachorros, ou tomar um café ou um café da manhã. Simplesmente sair e fazer coisas normais e divertidas.
Tom: É um dos motivos principais de termos vindo pra L.A.
Bill: Na Alemanha era uma loucura. Antes de virmos para cá, as coisas tinham saído do controle. No começo ainda tentamos lidar com isso, e também estávamos trabalhando tanto que passava despercebido, não estávamos vivenciando isso, porque quando se está em turnê você está sempre cercado pelos seguranças e pela equipe, você está trabalhando o tempo todo e não sabe o que está acontecendo fora do seu hotel porque você está sempre fazendo alguma coisa.
Tom: Você não se importa.
Bill: Você não se importa porque você está trabalhando. E assim que você vai pra casa e tenta ter um pouco de privacidade, você percebe "uau, não temos mais isso". O último ano foi muito louco. Tínhamos segurança 24 por dia todos os dias, e chegou a um ponto em que estávamos deprimidos. As pessoas estavam invadindo nossa casa, havia fotógrafos em todo lugar, 10 carros nos seguindo não importando aonde íamos, ficou fora de controle. Eu e o Tom não estávamos bem, nós dois tínhamos chegado a um ponto onde pensamos "ok, temos que fazer alguma coisa porque não podemos curtir a vida assim".
Tom: Sim, você não consegue curtir a vida e ao mesmo tempo você começa a pensar na carreira também, porque você pensa que se esse é o preço para se ter todo o resto, você começa a questionar toda a sua vida, você pensa "é isso que eu quero?". Quando você faz 20 anos, você se pergunta "é isso? Vou ficar em um hotel pelo resto da minha vida? Não vou poder fazer nada sem que os jornais fiquem escrevendo? E ter pessoas te seguindo? Não posso nem parar para por gasolina no meu próprio carro sem ter câmeras na minha cara?". E você começa a questionar tudo e começa, e essa é a parte assustadora, começa a ver tudo pelo lado negativo. Chegou um ponto que pensamos "temos que..."
Bill: "Temos que mudar isso."
Tom: Sim, "temos que mudar isso". Eu cheguei em um ponto que disse "não quero mais fazer isso. Se vai ser assim, eu não quero. Vou me mudar para a Tailândia e ficar na praia curtindo o resto da minha vida sem ter câmeras na minha cara".
Bill: Estávamos tendo tantos problemas, e me lembro da vez que o Tom chegou até mim e disse "Ok, escuta, acho que não quero fazer isso. Ainda posso tocar guitarra no estúdio, posso ficar no estúdio e fazer tudo pela banda e com você, mas talvez seja melhor você encontrar outra pessoa pra entrar na banda." Aí eu respondi "você ficou maluco? Eu não conseguiria sem você".
Tom: Claro que o que o Bill disse foi "Tom, você É a banda", e é claro que ele estava certo disso.
Bill: Nós dois simplesmente não estávamos bem. Pensamos "precisamos dar uma parada, precisamos nos afastar da carreira, da banda". Eu não conseguia mais nem ouvir o nome da banda, não conseguia mais ouvir as músicas, não queria mais a carreira. Só queríamos privacidade, curtir a vida um pouco. Pensamos "queremos dar uma pausa, nos afastar um pouco dos olhos do público, curtir a vida com privacidade, queremos nos afastar da Europa".
Tom: O lado criativo de tudo também era importante para nós, por isso demos uma longa pausa, mas essa, essa também é uma das principais razões de termos vindo para L.A., porque as pessoas começaram a nos perguntar "vocês são malucos? por que uma pausa tão grande? não é assim que a indústria da música funciona", mas a gente respondeu "a gente tá cagando, porque queremos viver". Também começamos a crescer, fizemos 19 anos, 20, 21, aí você pensa "tudo que eu faço está relacionado com o
tour manager, assistentes..."
Bill: Quando você é adolescente, quando começamos nossa carreira, você nem pensa nisso, porque você não tem uma vida privada. Tínhamos que ir para a escola, aí ficamos famosos e era divertido, mas claro, quando você fica mais velho, você quer outras coisas, se interessa em outras coisas mais importantes, aí começa a questionar as coisas. Aí pensamos que seria muito perigoso para o nosso lado criativo também.
Tom: Acho que agora é importante encontrar um meio termo. Eu nunca mais quero ter aquela vida de estar na estrada o tempo todo, 365 dias por ano, e não ver sua casa, não ter uma vida privada. Não é isso que vamos fazer. Vamos fazer um CD, vamos estar com a banda, fazer turnê por meses e tudo mais, é claro, mas é tudo uma questão de achar um meio termo. Nós tínhamos perdido completamente esse meio termo no passado. Acho que é isso.
Bill: Estamos tentando encontrar o equilíbrio, e com esse CD essa é a primeira vez que estamos tentando realmente, então, vamos ver como vai funcionar. Claro que temos algumas cicatrizes sobre coisas que aconteceram no passado, é uma coisa que se torna parte de você, é uma parte do que você é agora. Mas estamos animados, porque isso é tudo que queremos fazer. Tom e eu não podemos nos imaginar fazendo outra coisa que não seja música. É isso que fizemos enquanto crianças e ainda é o que...
Tom: E também foi uma grande experiência para nós, porque quando você faz um pausa por 4, 5 anos, um de nós pode fazer outra coisa, tipo abrir sua própria empresa, ou fazer um filme, ou seja lá o que for, você pode fazer qualquer coisa, e nós não fizemos nada que não fosse música. Fizemos músicas o dia inteiro e todos os dias durante anos, e você também começa a perceber que mesmo que você tenha crescido, isso ainda é o que você quer fazer.
Bill: É por isso que você está aqui.
A ENTREVISTA ÍNTIMA: O TEMPO QUE TEMOS PARA CONVERSAR
Bill: Ano passado, acho que era maio de 2013, estávamos pronto para lançar o CD. A gravadora tinha ouvido as músicas...
Tom: Todo mundo já estava fazendo planos...
Bill: Todo mundo já estava fazendo planos, estávamos bem próximos até de agendar shows. Já tínhamos material de divulgação, e aparições em programas de TV. Todo mundo estava organizando tudo, a equipe estava animada, e literalmente no último segundo dissemos "não" e voltamos para o estúdio. E nem foram outras pessoas, acho que nós somos os nossos críticos mais fortes. Simplesmente voltamos para o estúdio e pensei que precisávamos de mais músicas.
Tom: Não foi nem que dissemos "não", foi mais que voltamos para o estúdio e começamos a escrever de novo.
Bill: E coisas incríveis aconteceram, gravamos coisas incríveis, foi uma ótima corrida ao estúdio. Falei "essas músicas que estamos escrevendo agora são tão fortes, quero continuar escrevendo, quero continuar fazendo isso, porque coisas incríveis estão acontecendo". Para os outros CDs vivemos uma vida tão diferente da de agora, e esse CD é tão inspirado por nós, por pessoas jovens. Quando nos mudamos para os EUA, tínhamos 20 anos, e fizemos loucuras no começo, mesmo agora ainda fazemos. Amo estar com pessoas, amo estar lá fora e amo o fato de muitas pessoas não me conhecerem e eu poder fazer o que eu quiser. Eu nunca passei por isso antes, quando tínhamos 15 não podíamos fazer, é uma experiência completamente nova. O CD inteiro e as letras é tudo inspirado nisso. Em 5 anos tanta coisa pode acontecer, tantas pessoas que você conhece, você se apaixona, se desapaixona, 5 ou 4 anos podem...
Tom: Mudar sua vida.
Bill: Mudar sua vida. Sim, é tanta coisa que acontece e acho que o CD reflete isso. Mudamos tudo um pouco, mudamos o logo da banda um pouco, o
artwork do CD, fomos muito específicos de como queríamos tudo.
Tom: No meio disso até pensamos em mudar o nome da banda de "Tokio Hotel" para "Tom's Band" ou "Tom and the Band".
Bill: Acho que todo mundo se lembra do tipo de música que ouvia, e que tipo de música queria fazer aos 15. Claro que é muito diferente com 24. Nosso estilo e nosso gosto mudou muito, como o de todas as outras pessoas. E mesmo só nesses 5 anos, acho que o som mudou muito. Muitas das letras e das músicas foram influenciadas pela vida noturna, tanto na Europa quanto nos EUA. São inspiradas pelo estilo
house e DJs e esse tipo de coisa, e nós misturamos isso com o antigo Tokio Hotel, e quisemos criar nosso próprio estilo.
Tom: As pessoas vão dizer "nossa, eles mudaram muito", mas é natural, é tudo natural, muito aconteceu em 5 anos. Quando você faz músicas todos os dias, tudo muda, sua vida muda, do nada o Bill tá de barba.
Bill: Claro que é diferente, é muito diferente do que costumávamos...
Tom: E ao mesmo tempo, mesmo que pareça estúpido, e que eu odeie quando outras pessoas falam isso porque é tão óbvio e estúpido, tipo um marketing para se promover quando as pessoas dizem "esse é o CD mais pessoal que já fizemos", mas é verdade, nós nunca escrevemos tanto e trabalhamos tanto em um CD. É tudo nosso, cada som é nosso. É realmente pessoal. Mas soa estúpido, melhor cortar.
Bill: Nós queríamos fazer o melhor CD possível, não queria me arrepender de nada depois do lançamento, queria pensar que esse é o melhor CD que eu poderia ter feito. E eu acho que é, vamos ver o que as pessoas vão dizer. Nós nunca tivemos tanto tempo para fazer um CD, porque estávamos lançando um todo ano, escrevendo, fazendo turnê, que você não tem tempo para pensar sobre, você fica só liberando músicas o tempo todo. Não tínhamos tempo para pensar mais sobre as coisas, o que pode ser bom, mas pra esse CD foi completamente diferente. Você está produzindo e escrevendo, e é a primeira vez que estamos fazendo realmente tudo. Não é, Tom?
Tom: Eu faço tudo, sim.
Bill: Eu faço com você.
Tom: Ele canta perto de mim, então...
Bill: Mas é a primeira vez, e queríamos ter tempo para checar tudo. Claro que nosso gosto mudou, e tem tantas coisas que ninguém pode fazer por você. Claro que existe muitos bons produtores por aí, mas às vezes você tem que fazer você mesmo, fazer do jeito que você quer para ter o som específico que você quer. Até mesmo na gravação da voz, porque eu costumava gravar a parte da voz com os produtores e depois de um tempo a gente precisa fazer nós mesmos, porque toma muito tempo para explicar para as pessoas a sua visão, e eu sou muito específico sobre como quero que soe, e às vezes é difícil para as pessoas entenderem isso, por isso decidimos fazer esse CD nós mesmos. Pensamos, nós vamos fazer a produção vocal, o Tom está gravando as músicas, é trabalho pra porra. Acho que muita gente não sabe disso, mas demora tanto se for você que tem que fazer toda a edição e a produção, porque geralmente você tem uma equipe de 5 pessoas e cada um faz uma coisa diferente e você consegue terminar uma música em uma semana. Agora, se você faz sozinho, leva muito tempo.
Tom: Muitas músicas nesse CD nós fizemos de um jeito bem diferente de como fizemos os outros. Nos outros CDs nós começávamos a tocar, alugamos uma casa na Espanha e fomos com a banda e tocávamos, escrevíamos algumas músicas, eu tocava alguma coisa no violão e o Bill tentava cantar algo junto. Mas dessa vez foi diferente porque escrevemos as músicas uma a uma, na maior parte das vezes. Algumas foram diferentes, mas na maioria das vezes eu tinha uma ideia, fazia uma batida, uma faixa de baixo, criava esse instrumental e tocava para o Bill para saber o que ele achava, e se ele gostasse, ele escrevia a música por cima da faixa. É muito diferente fazer uma música baseada numa faixa do que reunir a banda e ficar tocando junto para ver o que sai. Essa é a principal diferença dos outros CDs. Na maior parte das vezes, eu tinha a sensação de que se eu começasse alguma coisa, eu sabia, não só que era brilhante, mas também que o Bill ia amar. Então, na maior parte das vezes, eu sabia que se eu gostava... por exemplo "Covered In Gold" é tão simples, só tem três acordes, mas eu sabia que o jeito que ela soa, o sintetizador, é incrível, eu sabia que Bill ia amar também.
Bill: Não, não, não, não, não.
Bill: Eu não consigo sentar e ser criativo. O Tom consegue. Ele tem seu calendário e seu ritmo, e ele pensa "hoje eu vou pro estúdio", aí ele senta por horas e horas trabalhando numa música. E eu tenho uma opinião muito forte sobre o que quero e o que não quero, então às vezes acontecia de o Tom estar trabalhando numa música por horas e dias, e quando eu escuto, digo "não".
Tom: O que que você não tá achando bom?
Bill: A diferença entre o Tom e eu, é que ele é tão paciente, ele pode sentar no estúdio e resolver as coisas, ele sabe tocar todos os instrumentos, e se ele quer tocar alguma coisa, tipo aquela porra daquele
space drum que ele estava olhando, ele fica "meu deus, isso é interessante", eu jamais faria isso, eu odeio resolver as coisas, por isso que não toco nada. Eu sento com uma guitarra e se eu não consigo tocar em 5 minutos, eu não faço. E eu sou preguiçoso, tenho que admitir, sou muito preguiçoso, acho que por isso que sou o vocalista, porque tudo vem até mim naturalmente. Eu nunca tive aulas de canto, nunca tive um treinador vocal, tudo simplesmente aconteceu, eu sempre quis fazer isso desde os meus 6 anos, e essa é a diferença. Eu e o Tom sabemos exatamente o que o outro pode fazer, e tem tanta coisa que o Tom sabe fazer que eu não sei, e nem tô tentando porque eu sei que o Tom vai fazer. Ele sabe como produzir, o que fazer o com os sons, se eu digo para ele o que quero, eu sei que ele vai saber fazer, ele consegue entender o que eu quero.
Tom: Nesse CD, o Bill e eu fizemos a maioria das letras, das outras vezes também foi assim, mas dessa vez nós trabalhamos nas músicas e só mostramos para o Georg e o Gustav bem no final. Foi algo novo, mas de modo geral eles gostaram muito do que estávamos fazendo. Foi legal porque Bill e eu começamos a trabalhar, eu comecei a produção, toquei um pouco de baixo, programei padrões de baixo, programei a bateria e coisas assim, e nos outros CDs foi diferente, o Gustav trabalhava na bateria e era uma parte só dele, o Georg criou tudo no baixo, e eles têm o estilo deles. Eu enviei para eles, perguntei se gostaram, depois eles adicionaram coisas deles, fomos para a Alemanha, em um estúdio em Hamburg, gravamos a bateria e o baixo, e falei para serem criativos como quisessem, depois adicionamos em várias músicas. Fizemos isso com "Stormy Weather" e "Girl Got A Gun". Elas tem os instrumentos digitais e reais, e tudo se juntou muito bem, ficou exatamente o som que eu queria. É legal, é incrível. Acho que todas as músicas que fazemos no estúdio e programamos no computador têm influência de instrumentos reais, porque é o que fazemos, nós não somos DJs, ainda não. Somos uma banda e quero ter a sensação da banda em cada música, acho que foi isso que fizemos.
Bill: Esse CD é bem eletrônico, é bem diferente do que já fizemos, mas tem certas coisas que você precisa fazer com instrumentos reais, você precisa gravar com instrumentos reais. Então, tem certas coisas que você tem que fazer no estúdio, você tem que gravar a bateria real, foi o que fizemos com o Gustav.
Tom: Não queríamos ter instrumentos e músicas que saíram só do computador, então eu disse que precisávamos gravar a guitarra, o baixo, a bateria e claro, a voz horrível do Bill.
Bill: É tudo computador, é tudo o computador cantando.
Tom: Exatamente. Acho que encontramos o jeito perfeito de juntar os dois mundos e ficou incrível.
Bill: E é claro, o que vamos fazer depois é reorganizar as músicas para tocar ao vivo, que é um processo completamente diferente, acho que muita gente não sabe disso. Se você cria o show ao vivo ou até mesmo uma apresentação na TV, para promover ou um show mesmo, é um processo completamente diferente. Nós vamos para o estúdio juntos e reorganizamos as músicas para fazer uma versão ao vivo, porque tem certas coisas que não dá pra fazer ao vivo em um instrumento e tem coisas que você não pode programar, que tem que ser ao vivo. Você tem sempre que resolver isso, foi o que fizemos com o último CD, mas nesse vai dar muito mais trabalho porque a música é muito diferente, mas no final vai ficar incrível. Já temos uma visão clara do que queremos fazer ao vivo, e o Georg e o Gustav são muito bons com seus instrumentos, afinal, tocamos juntos ao vivo há anos, então, vai ficar incrível. Nós trabalhamos em diferentes estúdios, começamos na Alemanha, escrevemos na Alemanha, ainda trabalhamos com nossa antiga equipe, os produtores do nosso último CD, trabalhamos nos estúdios deles lá, trabalhamos no nosso próprio estúdio caseiro, trabalhamos em alguns estúdios em L.A., escrevemos com diferentes pessoas, então tem muitos escritores diferentes envolvidos, porque queríamos fazer uma mistura com pessoas novas também, então trabalhamos com pessoas com quem nunca havíamos trabalhado.
Tom: E às vezes é difícil também porque quando você trabalha com muitas pessoas, porque temos umas duas músicas que trabalhamos com muitas pessoas diferentes, as músicas se desenvolvem ao longo do tempo, você escreve uma música, mostra pra alguém, começa a escrever com ele e às vezes é difícil porque muitas pessoas diferentes se reunindo, muitos egos, muitas opiniões... eu gosto disso, mas às vezes gosto de fazer tudo sozinho.
Bill: Estou muito animado e nervoso, é claro, para dividir com o mundo o que fizemos nos últimos anos, mas é muito animador. É claro que trabalhar em um estúdio é muito diferente do que estamos acostumados a fazer, promovendo e tocando, é como se essa antiga vida estivesse recomeçando, e mal posso esperar porque sinto muita falta. Sinto falta de cantar, de estar no palco.
Tom: É estranho também porque o tempo todo mantivemos tudo em segredo, eu não liberava as músicas, estava todo mundo me pedindo, até a gravadora, e eu não enviava e tudo ficava no estúdio, era tudo um segredo tão grande, as fotos que tirávamos, as músicas que fazíamos, e liberar tudo agora é sempre uma sensação estranha, animadora, mas estranha também.
Bill: Sim, nós mal podemos esperar para estar juntos na estrada e fazer isso de novo. Acho que todo mundo está muito animado para ver o que estar por vir.
tradução: rafaelguedes