Olá! Como passaram o ano? Espero que tenha sido em grande estilo.
O meu foi ótimo, obrigada KKKKKK E... Ano novo, vida nova e capítulo novo. Sim, a inspiração resolveu voltar e me ajudar a escrever depois de tanto tempo. Alguém ainda lembra da fic? I hope so.
Eu ainda não acreditava que meu próprio irmão estava me ajudando com esta maluquice toda. O esperado era que Bill falasse até não poder mais, dizendo o quão irresponsável eu era enquanto apontava seu dedo longo em riste ao meu rosto, sem falar que, com certeza, iria falar que eu estava pondo toda a pouca privacidade que a banda tinha por água a baixo. Porém, quando eu descrevi todos os detalhes, principalmente os da Ana, numa perfeição surpreendente até para mim, Bill não hesitou em dizer
“você está apaixonado, só que não se deu conta” e ir procurar algo que mantesse meu disfarce, até então, mal planejado.
Assim que estava arrumado e transformado no novo eu, logo saí até a mesma praça, com alguns minutos de atraso. Sentei-me no mesmo banco de ontem e fiquei olhando ao redor, sem fixar meu olhar em algum ponto específico, mas atento à chegada delas. O engraçado era que eu estava sentindo meu coração bater mais acelerado, obrigando-me a respirar mais fundo na tentativa de manter a calma que parecia não existir na hora. Na minha cabeça, vinha imagens do momento que em que pus meus olhos em Ana pela primeira vez. O seu jeito simples de lidar com as situações, os olhos grandes observando todo mínimo movimento à sua volta, a sua maneira espontânea e inocente...
Que diabos eu estava pensando? Eu não poderia...De repente, duas pequeninas mãos se sobrepuseram em meus olhos e uma risada travessa típica de criança ecoou atrás de mim.
- Claire – disse, colocando minhas mãos sobre as dela. A pequena deu a volta pelo banco e sorriu abertamente, sentando-se sobre meu colo. Ela usava um vestido colorido e tinha um laço vermelho prendendo seus cabelos castanhos. Sorri e lhe afaguei as bochechas rosadas, recebendo uma risada.
- Cadê a sua irmã? – indaguei.
- Está no carro. Vamos te levar pra tomar o melhor sorvete do mundo – bateu palminhas, tal como Bill, e saltou do meu colo, me puxando pela mão ansiosa. – Vem logo, Tom. Não temos o dia todo.
- Do mundo? Eu acho impossível – rebati somente para lhe provocar. – Os melhores estão na Alemanha, você deveria saber disso – a peguei no colo para ir mais rápido de encontro à Ana. Tirando proveito, Claire apertou meu nariz com força moderada e deu a língua.
- Claro que não. Eles estão aqui e você vai ver – apertou os olhos castanhos em desafio. Depois, desviou seu olhar para frente e acenou para alguém animadamente. Tombei meu pescoço um pouco para o lado e me surpreendi com o que eu vi.
Nunca imaginei que ela dirigisse. Muito menos dirigisse um carro... Conversível. E vermelho. E o jeito que ela segurava o volante com uma das mãos era sexy e confiante. Meu coração palpitou ainda mais quando ela sorriu assim que me viu e abaixou um pouco a cabeça, envergonhada.
Coloquei Claire no banco detrás e abri a porta, sentando-me no banco do carona. Ana cumprimentou-me com um beijo na minha bochecha, deixando-me desnorteado com o perfume suave que estava usando.
- Como você está? – perguntou olhando-me diretamente nos olhos, como sempre.
- Um pouco cansado, e você?
- Animada, só não me pergunte o motivo – riu de si mesma, ajeitando o cabelo atrás da orelha. – Preparado pra nossa aventura? – ligou o carro e deu partida, saindo graciosamente da vaga.
- Não sabia que você dirigia – comentei impressionado.
- Ah, pareço ser tão velha assim? – fez um bico fofo e desviou sua atenção rapidamente da rua para me encarar. – Pode dizer a verdade, não me importo. Mesmo – tocou meu joelho como um incentivo.
- Eu pensei que tivesse... Minha idade. Ou talvez menos – confessei.
- Obrigada – sorriu ainda mais. – Mas tenho dezoito. Fiz aniversário recentemente e ganhei este carro dos meus pais – deu de ombros, mas suas bochechas coraram ao dizer. Ela não o falou para me impressionar e me fazer pensar os quão ricos os pais dela deveriam ser, na verdade, ela queria me mostrar o quão feliz estava por estar conquistando independência, devagar.
- Você precisava ver como que os olhos delas ficaram – Claire falou e se apoiou no vão dos bancos da frente. – Pareciam dois pires – arregalou os próprios olhos com as mãozinhas e riu. – Depois, ela ficou feito uma bobona dando voltas pelo quarteirão – revirou os olhos. Eu ri pelas demonstrações claramente exageradas da pequena. Ana apenas abanava negativamente e fingia que ouvia, constrangida. – Foi um sacrifício para nosso pai tirá-la de dentro do carro – sussurrou no meu ouvido, olhando para a irmã de esguelha. Ri ainda mais.
- Bem que você levantou as mãos para o Céu e agradeceu que não precisaria mais esperar pelo pai na porta da escola – Ana reclamou, sem olhar para nenhum de nós. – Agora você tem uma super irmã motorizada, que te leva para qualquer lugar sem pestanejar – olhou para Claire pelo retrovisor e piscou-lhe cúmplice.
- Isso é só um detalhe, Téo – recebeu um beijo rápido e soltou a se sentar corretamente no banco. – Você é a melhor irmã do mundo.
- E você é interesseira, pirralha – respondeu.
Agora, eu estava confuso. Tinha me decidido não me meter na “briga” delas, apenas iria ouvi-las e sentiria os cantos da minha boca se repuxar num sorriso bobo involuntário, mas ao ouvir Claire chamar a irmã por outro nome atiçou minha curiosidade. Seria apenas um apelido de infância, uma alusão a algum personagem ou era um segundo nome de Ana?
Levantei minha sobrancelha esquerda como esperasse alguma resposta vinda de uma das duas.
- Téo? – repeti ridiculamente com a voz mais baixa, ainda não acreditando no que tinha acabado de ouvir.
- É – Claire concordou, encarando a irmã apreensiva. – Ana Teodora.
- Não gosto... Exatamente desse nome – Ana confessou, mordendo o lábio inferior. Em nenhum momento me encarou. – Por isso que sempre me apresento como Ana. É o suficiente.
- Mas seu nome é diferente – falei e ela revirou os olhos. – Já percebi. Desculpe-me.
- Esquece isso, ok? – acenei positivamente. – Você não é culpado de nada – voltou a me encarar como sempre, mas seu olhar parecia triste, perdido numa mágoa intensa, íntima.
Acariciei sua bochecha lentamente, tentando arrancar qualquer sorriso dela, mesmo que fosse mínimo. Claire colocou sua mão sobre a minha e sorriu alegre.
- Você poderia ser meu irmão, Tom – sussurrou inocente, alternando seu olhar entre eu e Ana. Senti minhas bochechas corarem e logo me afastei, dando atenção demasiada para as ruas.
Espero que nenhuma das duas tenha me interpretado mal. Espero que eu tenha me interpretado mal.
Muito mesmo.O famoso letreiro brilhava discretamente, atraindo olhares de quem passava em frente à Starbucks. Era um espaço enorme, aconchegante, mas o que eu ainda não entendia era o por quê nós tivemos que atravessar praticamente a cidade inteira até aqui. Eu já estava prestes a perguntar isso à Ana, porém ela foi mais rápida ao ver meu olhar curioso sobre si.
- Meu tio é gerente daqui – falou, apontando para a loja. – Fora que aqui tem o melhor sorvete de café do mundo inteiro – abriu os braços com uma criança e sorriu.
- Você tem um parafuso a menos – a abracei pelos ombros, bagunçando seu cabelo. A risada dela e tentativa de me empurrar para longe, me instigaram a perturbá-la ainda mais.
- Me solta, seu ogro – reclamou, dando fortes tapas onde conseguia alcançar. Eu ria e exclamava pela dor ao mesmo tempo. A soltei e ouvi um grito irritado e birrento, vendo-a arrumar o cabelo como estava antes. – Vem cá, Téo – puxei seu braço com cautela, colocando uma mecha teimosa atrás de sua orelha, tudo sob o olhar surpreso dela.
- Obrigada – falou com a voz baixa. Suas bochechas tinham um forte tom de vermelho e seus olhos não se focavam em mim, demonstrando um grande desconcerto. Beijei-lhe a fronte e passei meu braço pelos seus ombros, adentrando a Starbucks.
O aroma característico de café invadiu minhas narinas e me fez suspirar pesadamente, deliciado. Algumas pessoas nos olharam desconfiadas, nos mediam de cima a baixo, depois voltavam para o que estavam fazendo anteriormente. Antigamente, isso me faria revirar os olhos e engolir os tantos palavrões que passavam pela minha cabeça. Agora, eu sorria. Sorria porque eu era muito superior a estas pessoas que se acham melhores do que outros pelo simples fato de seguir “as regras”.
Ana se adiantou ao balcão, debruçou-se sobre ele e beijou um homem alto e inegavelmente francês, trajado com uma roupa social típica de quem trabalhava na rede de cafeteria.
- Eu trouxe um amigo – Ana virou seu pescoço e indicou para que eu me aproximasse. – Este é o Tom – me apresentou com um largo sorriso e eu estendi minha mão para cumprimentá-lo. – Tom, este é meu tio Pierre.
- É um prazer conhecê-lo – disse educado. Acenei com a cabeça, envergonhado talvez. – O que vocês vão querer? – perguntou olhando diretamente para Ana, como já soubesse seu pedido.
- Se importa de dividir o sorvete comigo? – seus olhos incrivelmente ficaram maiores quando me encararam.
- Claro que não. Estou curioso para saber o que você me falou é verdade – dei de ombros, num falso descaso. Ana abanou a cabeça e pediu o maior pote que havia.
- Vou te provar que tudo o que eu falo é verdade – rebateu, apertando os olhos. – Você vai acabar pedindo por mais – desafiou.
- Isso é um desafio? – sussurrei em seu ouvido, vendo-a se arrepiar. Soltei uma risadinha. –
Deal, mas você vai desistir primeiro – me afastei na mesma hora que o sorvete havia chegado. Sorri mais abertamente ao vê-la passar a mão pela nuca discretamente e morder o lábio inferior com força.
Acho que eu provocava algumas reações nela.
Ótimo. Procuramos por uma mesa mais afastada e que nos desse um pouco mais de liberdade. Então logo, fui puxado pela manga da blusa e forçado a me sentar numa mesa que ficava perto da vitrine da loja, onde, segundo Ana, havia as mesas mais confortáveis e os bancos a faziam lembrar-se daqueles usados nos anos 50.
Ela sentou à minha frente e colocou o pote de sorvete entre nós, entregando-me uma colher. Levantei uma sobrancelha e afundei o talher sobre a massa marrom clara, tirando uma generosa quantidade de lá.
- Você vai se arrepender... – sussurrou divertida.
- Talvez... – sussurrei de volta, sincero. Levei o sorvete à boca e na mesma hora tive que engolir cada letra que eu havia dito. Ele derretia na boca e ainda continha pequenos pedaços de chocolate e, apesar de ser gelado, uma estranha sensação acolhedora me dominava como eu tivesse tomando um café tradicional.
Ana reprimiu uma risadinha ao me ver deliciado com a sobremesa e repetiu todos meus gestos, porém levou mais tempo para levar a colher ao pote novamente, apreciando cada segundo do sorvete que derretia vagarosamente.
- Você tem um jeito peculiar de tomar sorvete – comentou, me encarando intensamente. Parei com a colher a meio caminho da minha boca e esperei que continuasse. – Não sei, parece que você provoca de propósito.
Automaticamente, um sorriso rasgou em meus lábios, causando o mesmo constrangimento de poucos minutos atrás em Ana, fazendo-a desviar o olhar para o lado de fora, subitamente interessada em como o Sol se punha. Eu aproveitei para apreciá-la sem ser pego em flagrante. Percorri meus olhos pelo seu rosto, realmente admirado com sua pele levemente bronzeada e seus olhos de cor indefinida, variando entre o castanho e o verde. Sem contar na boca levemente aberta, avermelhada e apetecível.
Seria muita ousadia minha beijá-la agora? Num movimento um tanto inesperado por mim, talvez até calculado para não me assustar, Ana virou seu rosto para voltar a me encarar e levantou sua mão, tocando meu rosto com as pontas dos dedos, levando-me a cerrar os olhos perante a carícia sutil.
- Parece que eu te conheço há anos, não apenas há um dia – confessou num tom baixo. – Às vezes, tenho a impressão que já te vi em algum lugar, mas, ao mesmo tempo, não tenho tanta certeza – nessa hora, abri meus olhos para me deparar com seu rosto próximo ao meu e levei minha mão até a sua, colocando-a por cima e acariciando-a com o polegar. – Só sei e sinto que posso, estranhamente, confiar em você – retirou a mão debaixo da minha e sentou ao meu lado logo em seguida, voltando a tocar meu rosto tão sutilmente quanto, redesenhando cada traço.
Levantei minha mão para repetir o gesto e toquei a bochecha macia e corada dela, sorrindo com isso. Deslizei meu polegar pela região e, tal como eu, Ana fechou os olhos e até inclinou sua cabeça na minha mão, apreciando intensamente meu carinho. Tive que me controlar para não deslizar minha mão até seu pescoço e puxar seu rosto para mais perto do meu e, então, beijá-la como desejo desde ontem.
Porém, como nem tudo é perfeito, novamente senti as mãozinhas de Claire ficaram sobre meus olhos e fui obrigada a me afastar de Ana, causando constrangimento tanto meu quanto dela. A pequena sussurrou ao meu ouvido, olhando diretamente para a irmã:
- Me ajuda a convencer a Téo para irmos ao parque?
- Sinto que lá vem chantagem emocional – a mesma falou, balançando a cabeça negativamente. A ideia poderia ter partido de uma criança, mas eu estava totalmente de acordo. Fazia tempo que eu não me divertia desse jeito. Paparazzi? Quem eram eles, mesmo?
- Eu e a Claire queremos ir ao parque – afirmei, sorrindo de uma forma convincente. Ana só apertou os olhos na minha direção. – Por favor, Téo.
- É mana. O Tom pode me acompanhar no carrossel – Claire reforçou a ideia e sorriu tão ou mais abertamente do que eu.
- Só porque eu estou em desvantagem – Téo declarou e levantou os braços em sinal de rendição, levando a mim e sua irmã comemorarmos de imediato, rindo. – Vai ter algum problema pra você, Tom? – ela me olhou diretamente.
- Não – dei de ombros. – Não até quando me chamarem de volta para a realidade.
- EBA! – Claire gritou e me puxou pela mão para a entrada da Starbucks, acenando para o tio durante o caminho. – Tom, me leva no colo? – parou subitamente e esticou os bracinhos na minha direção.
- Vem pequena – a peguei com certa facilidade e logo a senti envolver meu tronco com firmeza para não cair, deitando a cabeça no meu ombro.
- Tava demorando pra ela te explorar – Ana balançou a cabeça negativamente. Repeti seu gesto e, numa destreza surpreendente até para mim, apoiei Claire num braço só e estiquei o outro para a morena, pedindo silenciosamente para que entrelaçasse nossos braços.
- Tem Tom para as duas – declarei convencido.
- Claro, claro – concordou rindo.