Parte 1
O jeito delicado dele não me enganava. Eu sabia que, por detrás daqueles olhos castanhos delineados por uma forte maquiagem negra, havia malícia, perversão; um convite inegavelmente tentador. Enganam-se aqueles que pensavam que Bill era inocente, o lado mais fraco dos gêmeos, quem precisava de mais atenção e cuidado.
Eu me divertia a cada declaração de bom moço dele. Às vezes, ele deixava seu lado
masculino aflorar-se, mas logo voltava com o semblante que faziam milhares de fãs se derreterem por ele. O que eu não entendia era por quê dele agir assim... Talvez para criar todo um mistério, instigar todos a sua volta, não deixar fazer-se uma rotina monótona em torno de si.
Desde sua ascensão junto ao Tokio Hotel, fora assim. O pobre menino vindo de uma pequena vila na Alemanha, de estilo excêntrico, que chamava muito atenção por sua aparência andrógina, muitas vezes confundido com uma mulher perfeita e que procurava incansavelmente pela sua alma gêmea.
Este era Bill Kaulitz. Meu chefe.
Agora você deve estar se perguntando:
como assim, seu chefe? Fácil. Juntei-me à equipe durante sua primeira vez nos Estados Unidos. Eles precisavam de uma intérprete competente e eu estava no lugar e no momento certo. Um trabalho temporário virou fixo. Aqueles poucos dias viraram quase três anos. Eu tinha contato privilegiado com eles, o sonho de qualquer fã da banda. Anteriormente, uma desconhecida metida à sabe-tudo. Agora, a melhor amiga. Conselheira de Tom, parceira de videogame de Georg, psicóloga de Gustav, amante de Bill.
O início do nosso envolvimento deu-se quando menos percebemos. Talvez o cenário, a situação como um todo tenha ajudado.
Não se esqueça das bebidas! Por incrível que pareça, estávamos sóbrios. Sóbrios até demais.
O início teve-se antes de sairmos do mais elegante hotel da Alemanha. A euforia pela banda estar novamente nomeada no
Europe Music Awards era tanta como a primeira vez. Todos os preparativos começaram logo pela manhã, onde cada um se ocupou com uma tarefa imposta por David Jost, para que tudo ocorresse bem ao final do dia. Eu fiquei responsável por falar com os organizadores do evento, acertando os últimos detalhes. Isso era trabalho de quem era especialista na área, mas a desculpa dada foi que eu tinha mais jogo de cintura para convencê-los em mudar os anfitriões da festa, que, nada mais justo da banda alemã em maior ascensão.
Fiquei andando de um lado para o outro no quarto o qual estava hospedada, praticamente discutindo com o homem turrão do outro lado da linha. Quem entrasse naquele momento, diria que a terceira Grande Guerra estava prestes a estourar, pelo simples fato de eu estar com a voz alguns decibéis mais alta e fina e quase arrancando os cabelos por tanta raiva.
- Pense no que o senhor iria ganhar em colocar Tokio Hotel como anfitrião – repeti pela milésima vez naqueles quarenta minutos. – Todos nós iríamos faturar neste evento – passei a mão na testa para secar o suor não existente. No mesmo instante, a porta se abriu. – Ótimo. Aguardo sua ligação – desliguei impaciente. – Alemão chato e mimado – reclamei para o aparelho em minhas mãos. – Burro também.
- Outra vez discutindo com os organizadores? – a voz rouca e suave de Bill soprou demasiado perto de mim. Congelei no lugar, sentindo um arrepio intenso subir pela minha espinha. – Algum resultado? – perguntou assim que eu consegui virar-me de frente a ele.
Não pude evitar que meus olhos percorressem seu corpo magro coberto com roupas simples, gravasse bem a
Freiheit 89 e reparasse o pedacinho exposto pela camiseta da estrela tatuada em sua bacia. Mordi o lábio inferior ao ter minha mente invadida por pensamentos pecaminosos. A situação piorou quando me deparei com um olhar quase felino dele, este que me despia.
Balancei a cabeça negativamente. Não poderia me envolver com ele, nem em sonho. Por mais que eu quisesse sentir cada ínfimo pedaço de Bill sobre meu corpo, eu não poderia. Estava no contrato.
- Dessa vez, sim – disse tentando não gaguejar. – A resposta definitiva deve sair daqui a pouco – sorri um tanto confiante, sendo prontamente retribuída.
- E você? – levantei uma sobrancelha perante a pergunta. – Não vai aproveitar o hotel?
- Caro senhor astro do rock, nós, reles mortais, temos que trabalhar para nos sustentar e manter vocês sempre no topo – falei num tom forjadamente pomposo, arrancando um grunhido frustrado dele.
- Este discurso de novo não, Nina. Larga esta merda de telefone e vem me ajudar com a roupa – apontou para a porta atrás de sim, com um sorriso maroto.
O olhei desconfiada. Por que ele não chamava a Natalie? Era a função de ela deixar Bill Kaulitz mais perfeito do que já é.
- É melhor não, Bill. Eu ainda tenho que resolver algumas coisas antes de irmos – menti descaradamente, cruzando os braços na altura dos meus seios, ao perceber a real intenção dele para comigo.
- Você está mentindo – levantou seu dedo indicador em acusação. – Eu sei que você não tem nada para fazer depois. Sei também que você está livre por hoje, já que não precisamos de intérpretes na nossa terra natal – revirou os olhos e depois os apertou, em desafio.
- Você é impetulante, Kaulitz – me aproximei dele. – Consegue ser pior que seu irmão – afundei minha unha em seu peito, sentindo-a bater contra um osso. – Mas vamos lá, a inútil aqui não tem nada pra fazer mesmo – exclamei furiosa e ofendida. Abri a porta com força demasiada e esperei que ele saísse para acompanhá-lo, o que não aconteceu.
Vi-me prensada contra aquele pedaço de madeira fria e o corpo quente de Bill. Os braços longos e finos dele se colocaram ao lado da minha cabeça, me deixando sem saída.
Só sem saída? Sem saída, sem fôlego e com desejo crescente se aflorando dentro de mim.
- Nós somos adultos o suficiente para saber as reais intenções entre nós – sussurrou ao pé do meu ouvido, causando um leve roçar de seus lábios. – Pode não parecer, mas eu ainda sou homem e estou louco para descobrir cada curva sua – confessou, diminuindo propositalmente o tom de voz, ao mesmo tempo em que suas mãos grandes e macias percorreram as laterais de meu corpo, pousando sobre meu quadril, fincando suas unhas levemente.
- Bill... – gemi vergonhosamente, procurando por apoio em seu corpo, enlaçando meus braços em torno de seus ombros e, inconscientemente, o trazendo para perto.
- Você geme muito bonitinho, Nina – provocou e eu puxei os cabelos da sua nuca para encará-lo diretamente nos olhos. O sorriso libidinoso dele se expandiu ao ver minha expressão estupefata. Apertei mais meus dedos, obrigando-o a inclinar seu pescoço para trás ligeiramente e semicerrar os olhos, talvez devido à suposta ardência que eu estava lhe causando.
O pescoço insuportavelmente branco exposto daquele jeito, me deixava salivando, louca para dar algumas mordidas mais maldosas por ali e deslizar minha língua pelo pomo-de-adão agora tão mais visível. Sem contar na barba rala, dando-o um ar rebelde e extremamente sedutor.
Mas um ataque de consciência me tomou repentinamente. Nessa hora, eu quis que o Bill fofinho que aparecia com muita frequência nas entrevistas estivesse aqui e agora, olhando-me de modo meigo e preocupado, não como um predador nato.
- O que deu em você? – indaguei, empurrando-lhe pelos ombros bruscamente e nada de ele se afastar. Ao contrário, Bill se divertia com as minhas tentativas falhas e apertava ainda mais seu corpo contra o meu. – Bill! – gritei furiosa.
- Você não vai se fazer de boa moça agora, não é? – perguntou novamente ao pé do meu ouvido, causando-me arrepios contínuos pela espinha. – Acha mesmo que eu nunca percebi seus olhares para cima de mim durante todo este tempo? As mordidas de lábio e as bochechas coradas quando te pegava em flagrante? – disse me encarando diretamente nos olhos. Seus lábios roçavam nos meus a cada palavra dita, parecendo ser de propósito. E, a cada nova sensação desperta em mim, Bill sorria de lado, vitorioso.
Engoli em seco perante a verdade. Mas eu não poderia dar o braço a torcer.
- Como você mesmo disse, você é homem e é natural que eu te repare, assim como eu reparo no Tom ou no Georg ou no Gustav – rebati no mesmo tom provocativo e fiz questão de deixar a minha boca à mercê de um beijo repentino vindo dele.
-
Nein, mentira. Você olha pra mim com desejo, você me come com os olhos – perscrutou suas mãos pela minha cintura, fincando as unhas suavemente sobre o tecido grosso da blusa de lã que eu usava. -, você deseja tocar meu corpo, minha tatuagens, percorrer esta boca deliciosa – uma mão serpenteou de volta até meu rosto, onde os dedos deslizaram e refizeram o contorno de meus lábios. – por cada parte minha. Talvez... – mordeu o lábio inferior generoso e o soltou lentamente, mas foi interrompido por batidas na porta.
O olhei apreensiva e Bill pediu silenciosamente para que eu atendesse quem que fosse, não se movendo nenhum milímetro.
- Quem é? – perguntei tentando parecer tranquila.
- Jost – a voz grave dele ecoou muito perto da porta. – Você viu o Bill por aí? – o próprio negou com a cabeça e murmurou algo que eu não compreendi devido ao medo de ser pega no aparente amasso.
- Não. Talvez ele esteja dando umas voltas pelo hotel – respondi incerta.
- Ah, certo. Obrigado – ouvi passos se distanciarem pelo corredor. Só então percebia que havia prendido a respiração.
- Acho melhor eu voltar para o meu quarto, por mais que esta não seja a minha intenção – Bill sussurrou e se distanciou, finalmente, de mim. – Mantenha a porta aberta. Volto mais tarde para fazermos uma comemoração particular – e simplesmente me pediu licença e saiu do meu quarto com a cara mais lavada do mundo.
Abanei a cabeça negativamente, ainda processando tamanha ousadia e perversão de Bill Kaulitz.